9- As nossas decisões

2.2K 274 63
                                    

-O que faremos com o corpo? - Perguntei ainda encarando o cadáver no chão

-"Faremos"? - Ele perguntou com a sobrancelha arqueada.

-Eu vou ajudar...

-Sabe que isso te torna cúmplice, não é?

-Eu vi um corpo e não liguei pra policia... Eu já sou cúmplice

-Então decidiu acrescentar ocultação de cadáver no currículo também?

-Você não confia muito em mim, não é?

-Eu mal te conheço.

-Mas se eu ajudar vocês, como você disse, serei cúmplice. Não vou poder trair vocês... - Na minha cabeça fazia total sentido, mas Nicolau não parecia muito convencido.

De qualquer forma ele concordou com a minha participação para sumirmos com aquele corpo.

Eu tentava o ver apenas como um corpo, uma coisa, se eu começasse o ver como uma pessoa, não sei se conseguiria ajudá-los, ou vê-los da mesma forma que antes.

Quero dizer, eu já não os via como antes, ver Rose com sangue escorrendo pelo queixo foi realmente chocante para mim.

Mas eu me senti mais segura depois que Nicolau reforçou que as ordens de Rose era para que ninguém encostasse em mim.

Leona ficou em casa com Rose que não estava se sentindo bem, e Myke foi comigo e com Nicolau tentar se livrar do cadáver.

Myke agia como se não fosse nada de mais, como se fizesse parte da sua rotina, e aquilo me deixava assustada.

Colocamos o garoto dentro de um baú e levamos pelo prédio até o estacionamento do subsolo.

Eles estavam arrumando o bicicletário, as ferramentas ainda estavam lá, e já haviam quebrado o concreto do chão para refazer-lo.

Ouvi Nicolau comentando que não seria difícil.

Eles pegaram uma pá e começaram a cavar onde o concreto havia sido quebrado. Não ficou muito fundo, logo eles abriram o baú e jogaram o corpo na cova improvisada o enterrando logo em seguida.

Quando eles terminaram de enterrar, achei que estava terminado, mas estão vi Myke preparando o cimento.

Eu não estava confortável com aquilo, mas na verdade eu pedi por isso... Então apenas me calei e os ajudei a espalhar o cimento.

Quando terminamos estávamos sujos, eu apavorada e Nicolau mais tranquilo. Myke só cantarolava como se fosse a coisa mais natural do mundo.

-Vamos voltar - Disse Nicolau pegando o baú agora vazio e indo em direção às escadas.

Eu os segui, contando mentalmente até 10 repetidas vezes para não surtar. Quando entramos no apartamento deles Leona estava na sala olhando fixamente para porta como se nós esperasse.

-Ela não está muito bem... - Leona parecia preocupada

-Como assim? - Perguntei olhando para Nicolau

-Queimadura de sol é mortal para nós - Ele falou como se fosse óbvio

-Mas não foi sério, foi? Digo, foi só por um instante e foi só a mão...

-A queimadura de sol inflama, pode fazer o membro apodrecer... Ou pior

Essa possibilidade me assustou, mais do que qualquer outra coisa naquele dia. Eu deixei Nicolau falando sozinho e fui para o quarto de Rose.

Ela estava suando, parecia estar com febre, eu nem sabia que vampiros podiam ficar doentes desse jeito. Mas no final das contas o que é que a gente sabe sobre criaturas místicas que tecnicamente nem deveriam existir?
A resposta é simples: NADA

The BiteOnde histórias criam vida. Descubra agora