Dormir? Eu já nem sabia mais o que era isso...
Eu deitava e rolava na cama a madrugada inteira.
No começo eu tentava entender tudo o que tinha acontecido, mas no final eu só pensava nos seus lábios conta os meus.
Aquilo me deixou tão feliz, e como se fosse possível me deixou mais confusa em relação a tudo.
Eu já havia decidido que a última coisa em que eu pensaria seria em Nicolau. Ele parecia ser um bom homem, um bom marido, um bom pai...
Se eu estivesse pensando direito jamais iria desejar ficar no meio disso. Mas eu já não estava pensando direito, e isso já fazia um tempo...
Eu sinceramente não queria pensar direito, eu queria pensar em Rose, eu queria estar com Rose, eu a queria tanto que nem conseguia mais dormir, ou comer, ou fazer qualquer outra coisa sem pensar nela.
Nunca pensei que isso aconteceria comigo, sempre fui tão na minha... As pessoas não costumam gostar de mim, mas ela... Ela se interessava. Eu não entendia o motivo do interesse, já que eu mesma não me achava nada interessante... Só que ela via algo em mim, algo que fazia eu me sentir a mulher mais incrível do mundo.
Eu não consegui dormir, assisti pela janela o sol nascendo e algumas horas depois me senti obrigada a levantar.
Fiz um café e me sentei no balcão da cozinha, eu passava os dedos entre meus lábios onde antes os seus estavam. Era inevitável o meu sorriso...
Por mais que eu estivesse feliz, parte de mim estava com medo. Medo que algo mudasse... Eu não conseguiria olhar nos olhos dela caso ela tivesse se arrependido.
Eu não conseguia parar de pensar nessa possibilidade, e foi isso o que me motivou a sair de casa naquela manhã.
Eu andei pelo bairro, por ruas que eu simplesmente nunca tinha pisado. Eu sentei em um ponto de ônibus e fiquei observando a rua por horas, as pessoas iam e vinham, os carros passavam, os ônibus paravam e os motoristas me encaravem como se perguntassem se eu subiria no ônibus.
Foi estranho, mas eu senti vontade de entrar. Entrar em um ônibus que eu nem sabia para onde estava indo e apenas viver como se não houvesse amanhã. Talvez eu pudesse fazer isso... Sem entrar no ônibus, óbvio, afinal nem o dinheiro da condução eu tinha no bolso.
Mas eu poderia viver como se não houvesse amanhã, talvez até em relação a Rose... Um pouco de atitude não vai fazer mal a ninguém...
Sim, eu já tinha me decido. Iria atrás de Rose, era melhor do que ficar criando paranóias na minha cabeça.
Voltei para o prédio, subi as escadas até o andar de Rose, sinceramente eu nunca tinha percebido que a gente precisava urgente de um elevador até aquele momento. Mas, eu não pagava o aluguel a meses, então simplesmente não tinha direito de reclamar.
Eu andei pelo corredor quase com os olhos fechado por causa do sol, sinceramente quase agradeci a Deus quando cheguei na parte do corredor que tinha sombra. Lembro que deu a maior confusão quando construíram aquele prédio novo ali do lado. O dono do nosso edifício não ficou nada contente, os apartamentos daquele lado a maioria ficaram vagos pois como não pegava sol, mofava muita coisa...
Mas isso não era importante, eu andei até o apartamento de Rose, e respirei fundo antes de bater na porta.
Eu bati, e senti as batidas do meu coração ficarem cada vez mais forte. Eu esperei por um tempo, mas vendo que ninguém atendia eu bati de novo, e de novo... Parecia não ter ninguém em casa, eu deveria dar meia volta e ir embora. Mas algo não me deixava ir, eu coloquei a mão na maçaneta e girei. Assim que abri a porta dei de cara com a cena mais horripilante que eu já presenciei em toda a minha vida.
Tinham um rapaz morto no chão, perto da porta, ele tinha várias feridas pelo corpo, vestia o uniforme da pizzaria do bairro e tinha sangue por todos os lados. Para onde eu olhava parecia ter sangue. Era como se ele tivesse tentado fugir... Mas não conseguiu
-Myke você não disse que fechou a por... - Rose apareceu saindo de um dos quartos e dando de cara comigo
Ela paralisou assim como eu, eu não podia respirar, ela estava com sangue ainda em suas vestes, em sua boca, e boa parte do seu rosto havia sangue seco como se tivesse escorrido.
-Amy... - Ela deu um passo na minha direção e aquilo foi o suficiente para eu entrar em desespero
Eu sai correndo, o mais rápido que eu podia, eu não entendia o que eu havia acabado de ver, mas eu tinha certeza de uma coisa, tinha um corpo no meio da sala, e uma Rose banhada em sangue.
O mais sensato a se fazer foi correr, isso era um fato, então eu corri o mais rápido que eu podia, eu ouvia sua voz me chamando e ela tentava correr atrás de mim, eu estava tão assustada que não conseguia olhar para trás até a ouvir gritando de dor.
Eu parei de correr instantaneamente, qualquer pessoa com o mínimo de sanidade teria continuado fugindo mas eu simplesmente não consegui...
Eu me virei olhando para Rose no chão se escondendo quase no limite da sombra que o outro prédio fazia no corredor.
-Você está bem? - Foi a pergunta mais idiota que eu já fiz na minha, mas de certo modo eu estava mais preocupada com ela do que com a minha segurança.
Ela não respondeu, ainda parecia estar com dor, apenas mostrou sua mão esquerda, parecia que haviam jogado ácido em sua mão. A ferida estava me assustando mais do que o sangue em seu rosto.
Eu não entendia como aquela ferida surgiu, era como se tivesse acabado de ser feita, mas ela estava apenas correndo atrás de mim. Não fazia sentido... Mas nada naquele dia estava fazendo sentido.
-Venha - Me aproximei dela talvez um pouco receosa mas a ajudei a levantar.
-Não está com medo de mim? - Ela perguntou enquanto se apoiava no meu ombro
-Eu não tenho certeza do que estou sentindo desde que coloquei os olhos em você naquela noite no bar...

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The Bite
RomanceCansada de uma vida monótona, Amélia sai em uma noite decidida a fazer algo interessante. Ela só não imaginou que aquela noite mudaria a sua vida para sempre e que sua mais nova amiga assinaria a sua sentença de morte.