Arma Biológica II

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Decido seguir meu caminho enquanto os alunos andam para lá e para cá em um fluxo constante . Encontro as escadas para o segundo andar e finalmente retiro o papel com o nome da minha turma e a sala na qual terei a primeira aula.

O sinal, um som fino e estridente, toca e me faz aumentar meus passos. Sinto algumas mechas soltarem de minha trança mas não tenho tempo de concerta-la. Acho a sala e bato na porta fechada. O professor já está lá e diz que posso entrar. Todos olham para mim conforme ando até uma mesa livre e sento.

O professor, que descobri ser de geografia pelo que está escrito no quadro branco, espera até que eu termine meus movimentos para falar.

- A senhorita poderia se apresenta para a classe? - seus olhos caramelo me observam atentamente. O professor de geografia não é muito velho nem muito novo. Alto, de pele clara e cabelos cortados na zero.

Me levanto. Minhas mãos, percebo, estão suadas e grudentas, mas continuo tranquila.

- Meu nome é Rachel Andrade - Minha voz sai segura e séria. - Venho do norte. - Os burburinhos começam, mas param com um aceno de mão do professor. - E tenho 17 anos. - engulo em seco, mas não me permito demonstrar estar nervosa conforme me sento novamente.

- Senhorita Andrade, - a voz do professor corta os sussurros-... Sinto muito pelo que você provavelmente teve de passar por lá.- Ele não fazia a menor ideia do que eu havia passado lá, mas apenas assinto em um agradecimento falso.

O professor voltou a dar aula sobre os relevos africanos. E eu prestei bastante atenção em tudo o que ele disse. Me controlando para não corrigi-lo quando errava algum detalhe que eu não devia saber. Mas a aula acabou e todos nos levantamos com o sinal irritante tocando. Peguei minha garrafinha, a única coisa que eu havia tirado de minha mochila, e bebi um gole de água enquanto seguia o fluxo de pessoas. As turmas se dividiam e entravam em salas diferentes. A minha segunda sala foi mais difícil de achar, mas a encontrei e entrei. Novamente atrasada. Todos já estavam sentados e a cena se repetiu.

Quando terminei de me apresentar aos vários alunos de olhos curiosos a professora, de português, me tirou da minha zona de conforto com uma simples pergunta.

- Seus pais vieram com você? - A pergunta implícita me soou cruel e fria, não entendi suas motivações, mas me forçei a responder.

- Sim - minha voz saiu fria, distante. - Arthur e Melissa Andrade, conhece? - Não consegui esconder a irônia durante a pronúncia da última palavra. Um garoto, loiro de olhos mel me olhou surpreso. Eu conseguia ler o questionento e o entendimento em seus olhos brilhantes.

- Não, não conheço.- disse a professora balançando a cabeça em negativa. Sustentei seu olhar nada agradável que me dizia que na verdade ela conhecia, sim. Mas ela se voltou para o quadro e deu início a sua aula.

A hora passou e me dirigi para a terceira sala ao som do sinal. Italiano. Quase tive um treco quando a professora tentou pronunciar meu nome, ela era nativa e por isso não falava muito de português, vai entender. Mas a aula acabou e o intervalo começou e foi quando eu percebi que a escola podia ser horrível. Me dirigi ao térreo novamente onde achei o portão do refeitório aberto e uma fila enorme. Pisquei lentamente e me dirigi para o final da fila. O som das variadas conversas era ensurdecedor, por isso segui a dica de Melissa ao pegar meus fones e liga-lo com uma música clássica. A mesma que Fernanda ouvia escondido antes do guarda Lucas aparecer para declarar o horário de dormir.

O som era calmo e me invadiu, como a luz invade a escuridão. Em algum momento, fechei os olhos e me desliguei do mundo. Mas foi um erro, percebi ao sentir uma mão em minhas costas, firme. Meus reflexos foram mais rápidos que eu quando minha mão agarrou o pulso flexionado contra mim e girei. Rápida, forte e letal. Essa era eu. Meu sangue pareceu correr mais rápido conforme abria os olhos lentamente, com medo do rosto que me encararia no chão.

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