Decido seguir meu caminho enquanto os alunos andam para lá e para cá em um fluxo constante . Encontro as escadas para o segundo andar e finalmente retiro o papel com o nome da minha turma e a sala na qual terei a primeira aula.
O sinal, um som fino e estridente, toca e me faz aumentar meus passos. Sinto algumas mechas soltarem de minha trança mas não tenho tempo de concerta-la. Acho a sala e bato na porta fechada. O professor já está lá e diz que posso entrar. Todos olham para mim conforme ando até uma mesa livre e sento.
O professor, que descobri ser de geografia pelo que está escrito no quadro branco, espera até que eu termine meus movimentos para falar.
- A senhorita poderia se apresenta para a classe? - seus olhos caramelo me observam atentamente. O professor de geografia não é muito velho nem muito novo. Alto, de pele clara e cabelos cortados na zero.
Me levanto. Minhas mãos, percebo, estão suadas e grudentas, mas continuo tranquila.
- Meu nome é Rachel Andrade - Minha voz sai segura e séria. - Venho do norte. - Os burburinhos começam, mas param com um aceno de mão do professor. - E tenho 17 anos. - engulo em seco, mas não me permito demonstrar estar nervosa conforme me sento novamente.
- Senhorita Andrade, - a voz do professor corta os sussurros-... Sinto muito pelo que você provavelmente teve de passar por lá.- Ele não fazia a menor ideia do que eu havia passado lá, mas apenas assinto em um agradecimento falso.
O professor voltou a dar aula sobre os relevos africanos. E eu prestei bastante atenção em tudo o que ele disse. Me controlando para não corrigi-lo quando errava algum detalhe que eu não devia saber. Mas a aula acabou e todos nos levantamos com o sinal irritante tocando. Peguei minha garrafinha, a única coisa que eu havia tirado de minha mochila, e bebi um gole de água enquanto seguia o fluxo de pessoas. As turmas se dividiam e entravam em salas diferentes. A minha segunda sala foi mais difícil de achar, mas a encontrei e entrei. Novamente atrasada. Todos já estavam sentados e a cena se repetiu.
Quando terminei de me apresentar aos vários alunos de olhos curiosos a professora, de português, me tirou da minha zona de conforto com uma simples pergunta.
- Seus pais vieram com você? - A pergunta implícita me soou cruel e fria, não entendi suas motivações, mas me forçei a responder.
- Sim - minha voz saiu fria, distante. - Arthur e Melissa Andrade, conhece? - Não consegui esconder a irônia durante a pronúncia da última palavra. Um garoto, loiro de olhos mel me olhou surpreso. Eu conseguia ler o questionento e o entendimento em seus olhos brilhantes.
- Não, não conheço.- disse a professora balançando a cabeça em negativa. Sustentei seu olhar nada agradável que me dizia que na verdade ela conhecia, sim. Mas ela se voltou para o quadro e deu início a sua aula.
A hora passou e me dirigi para a terceira sala ao som do sinal. Italiano. Quase tive um treco quando a professora tentou pronunciar meu nome, ela era nativa e por isso não falava muito de português, vai entender. Mas a aula acabou e o intervalo começou e foi quando eu percebi que a escola podia ser horrível. Me dirigi ao térreo novamente onde achei o portão do refeitório aberto e uma fila enorme. Pisquei lentamente e me dirigi para o final da fila. O som das variadas conversas era ensurdecedor, por isso segui a dica de Melissa ao pegar meus fones e liga-lo com uma música clássica. A mesma que Fernanda ouvia escondido antes do guarda Lucas aparecer para declarar o horário de dormir.
O som era calmo e me invadiu, como a luz invade a escuridão. Em algum momento, fechei os olhos e me desliguei do mundo. Mas foi um erro, percebi ao sentir uma mão em minhas costas, firme. Meus reflexos foram mais rápidos que eu quando minha mão agarrou o pulso flexionado contra mim e girei. Rápida, forte e letal. Essa era eu. Meu sangue pareceu correr mais rápido conforme abria os olhos lentamente, com medo do rosto que me encararia no chão.
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Histórias Que Nunca Terminarei
Teen FictionSim, estou realmente fazendo isso... Decidi abrir meu pequeno mundo particular para pessoas anônimas que querem ler um 'quase livro' diferente. Não ligo se pegarem alguma das idéias, desde que me passem o nome do livro. Eu, de verdade, adoraria ler...