Capítulo 29

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A vida toda a única coisa que sempre importou foram os que estivessem a minha volta.

A minha única família Omma.

E eu me esforcei somente por Omma, por Alice... Por que a verdade é que eu estou cansada de lutar.

Sempre estive. Eu sempre gostaria de desistir, deixar que a dor acabasse, e poder enfim descansar em paz como as lápides costumam anunciar.

Mas eu cheguei tão longe e agora, parada nesse jardim eu penso como consegui concluir, como passei por todo aquela aperto e cumpri o que disse a Omma... E eu nunca pensei no que faria depois disso.

Por que esse era o meu propósito de vida, e agora ele está feito. No entanto... Agora não quero uma lápide dizendo que estou descansando em paz. As regras... Eu as segui inteiras, mas agora eu  tenho o direito de escolher por mim. Por alguém que nunca foi levado em consideração.

-E se eu quiser ficar?- me viro olhando as costas de ann.

Ela para e se vira.

-Fique.

-Que utilidade eu teria aqui? Eu...

-Está querendo ficar por que não sabe o que vai fazer sozinha no mundo?

Fico calada a olhando, meio magoada, ela está tão dura...

O olhar dela se suaviza.

-Quer me falar algo?

-Acho que eu gosto de você.

-Acha?

-Isso é novo para mim.- falo com raiva- eu nunca pude olhar para mim... Agora não sou mais necessária... Não preciso fazer algo por mais ninguém, só para mim...- respiro fundo e rio- e eu quero ficar, então me diga se você quer que eu fique ou não por que eu estou disposta mas se você acha que vou ser uma espécie de atraso...

Acontece rápido, ela partiu para cima de mim me beijando e cortando meu discurso.

E o leve pressentimento de que fosse tudo se dissolver num palpite de emoção, em que tudo o que imaginei tivesse sido criado por carência apenas se desfaz.

O beijo dela arrepia o fundo da minha alma, os dedos dela tocando minha nuca me incitam a corresponder o mais ardentemente o possível.

Ela é como uma estrela negra que me suga mais para perto, e caso eu tente recuar a vontade de permanecer, de ansiar por mais aumenta.

Eu não percebi que andávamos até ela me encurralar num tronco de árvore, ela já me tem agarrada a ela, com os braços em seu pescoço e ofegante  face a face.

Os olhos dela apresentam um brilho selvagem e satisfeito.

-Que bom que não foi embora.- ela murmura e volta a me beijar.

E eu sequer tive tempo de respondê-la, é aqui que quero estar.

Talvez não fosse exatamente onde eu achei que quisesse estar se me perguntassem alguns meses antes, mas não vejo como poderia ser diferente disso.

Não demora muito que o beijo evolua e logo ela tenha as mãos por baixo de minhas roupas em carícias indecentes por baixo de meu sutiã, mas o toque dela me faz ansiar por mais, enquanto ofegamos agarradas na sombra daquela enorme árvore com as mãos dela me tocando dessa forma a única palavra que me vem a mente é mais.

Preciso de mais disso.

-Ann...- o nome dela se torna uma forma de súplica, entre meus ofegos e pronunciado com minha voz rouca ela entende o que quero dizer.- Eu vou ficar...

Ela começa a beijar meu pescoço e sussura em meu ouvido.

-Eu sei...eu sempre soube.- ela solta meus seios de suas maos habilidosas e começa a descer as mãos.

E eu não acredito que não só permito como a incentivo a me levar até o limite, a me fazer gozar com ela novamente num local tão aberto, mas enquanto acontece eu sinto que nunca estive vivendo por mim tão intensamente quanto estou nesse momento.


Algumas horas depois.


-Sabe, eu demorei para entender... Que se eu te perder eu vou me arrepender. Então estou disposto a colocar tudo a perder pelo seu perdão.

Olhando pelo reflexo da minha faca, Kashid agora com os ferimentos clareando me olha com a pose derrotada.

Me viro e o encaro.

-Então ?- ele me pergunta abrindo os braços. -O que você quer? Eu posso providenciar então ...

Olhando esse homem parado ali tudo o que eu sempre quis e sofri entram em conflito.

Dias dos pais perdidos, olhar para qualquer um e ver uma estabilidade familiar e sempre ter de me perguntar onde estava a minha, se eu era tão ruim, tão inferior a Angel para merecer ser abandonada e esquecida assim.

Será que algum dia meus pais lembrariam de mim a não ser como a vida que usaram como moeda de troca? E o que eu faria com todas as vezes que queria gritar e perder o controle? E as vezes em que escolhi fazer isso e fui retribuída com sessões disciplinares de espancamentos e humilhações...

Eu serei capaz de perdoar isso?

E agora meu pai está parado a minha frente me perguntando o que eu quero.

Olho para baixo e minhas mãos tremem, água cai nelas, a faca sai da minha mão caindo cravada no chão, afiada.

-Morgan?está tudo bem? Eu... Me desculpe eu...- Kashid se aproxima de mim com cuidado.

Meus tremores ficam cada vez mais intensos até eu perceber que estou chorando copiosamente.

-E-Eu...- soluço fechando os olhos com força enquanto as lágrimas pesadas rolam pelo meu rosto.

Todo o meu auto controle se foi, esse é um dos momentos em que o ar me falta nos pulmões e minhas pernas falham, onde começo a cair devagar e quando parece que vou morrer sufocada pela sensação da dor.

Ao me ver cair de joelhos Kashid me segura, talvez preocupado com a intensidade em que estou debilitada.

-Tudo bem, eu estou aqui, estou aqui...

-Eu quero...um pai... De verdade.- soluço abrindo os olhos e o encarando, vendo apenas a silhueta embaçada de Kashid entre o mar de lágrimas que me debilita a visão.

Embora embaçado é possível ver que minhas palavras carregadas de dor o destroem por dentro.

Ele deita minha cabeça em seu ombro, enquanto o choro se intensifica ainda mais e eu peço por clemência a qualquer força que exista, para que devolva meu auto controle.

Mente CriminosaOnde histórias criam vida. Descubra agora