Um homem de classe baixa faz do seu carro o ganha pão, só que de maneira ilegal, pois esse tipo de transporte em sua cidade é proibido. Ele acorda todos os dias às cinco da manhã e logo sai a procura de passageiros, acompanha a rotina de movimento da população. Às sete horas ele já tem um cliente fixo que leva para a escola e também para consultar, pois ele é um autista. Enquanto isso dois jovens se aventura m pela madrugada quebrando carros e fazendo bizarrices, esses são Bruce e Sagan. Os dois já vinham desde muito tempo sonhando e planejando uma fuga, sair andando pelo mundo, sem rumo, pois viviam até então em um orfanato tenebroso. Pois bem. Em uma certa manhã, Jorge o motorista, acorda para trabalhar decidido em fazer uma nova rota, pois a que estava fazendo naqueles dias estava um pouco baixa, só ia levar o Miguel na escola e depois seguir caminho. Ao mesmo tempo naquela virada de noite, madrugada e dia, os dois adolescentes conseguem escapar de uma forma muito arriscada e agressiva, e ainda conseguiram uma arma, afinal de contas sabiam que para sair da grande cidade precisariam atravessar favelas e lugares isolados. Ao fazer isso os destinos de ambos se cruzam. Já por volta das três horas da manhã Jorge escutava o soar de uma sirene, parecia estar em perseguição, mas logo esqueceu e voltou a dormir. O que ele não sabia era que, eram os mesmos dois jovens que iriam lhe dar um trabalhão durante o dia. Com muito custo e sorte a mãe do Miguel nesse dia conseguiu fazer uma sopa especial que fez imediatamente o menino pegar no sono, pois ele costumava ficar noites sem dormir e nesse dia pegou no sono mais cedo. Até os policiais em perseguição tinham algo em comum nessa história, pois a esposa do soldado em perseguição acabara de ligar pro seu marido dizendo que estava tendo um bebe, o que fez com que desistissem imediatamente da perseguição e se direcionassem logo para o hospital, para a felicidade dos então fugitivos. Dessa forma, tudo corria bem, alguns dormiam outros se aliviavam de uma descarga de adrenalina e outros realizavam o sonho de ser pai. Muito fofo até então. Mas logo o dia amanhece e os policias mesmo felicitados com tudo não podiam deixar de passar um rádio para outra guarnição. Já os rapazes fizeram o capricho de esconder o carro que roubaram e se mocaram até aparecer a próxima oportunidade de escaparem, ficaram atrás de um ponto de ônibus. Lugar esse que seu Jorge passava todas as manhãs. Ao levantar, fez sua oração, tomou seu café magro e quente, ergueu a cabeça e partiu pra mais um dia de trabalho. Ao sair de casa logo pegou uma passageira que por aquele restinho de madrugada (05:10/05:20) parecia estar dando o chifre no marido. Ela dizia com todas as palavras que tinha que chegar em casa antes do seu marido chegar do trabalho, porque se não ele há ia matar. E volta e meia a mulher começava a chorar, Seu Jorge começava a acreditar na moça, mas como ele era muito calmo e tranquilo, não corria quase nunca, a moça havia pegado o carro errado. Jorge a deixou em casa justamente na hora que o ônibus da firma chegou, sendo assim todos ali presenciando aquela situação, o ônibus saiu calado e a mulher saiu sem pagar viagem, foi correndo para o marido dizendo que o amava, mas pela cara do homem não parecia acreditar. Então, Seu Jorge ficou meio sem jeito até de cobrar, afinal o homem estava em tempo de explodir ali mesmo. Moral da história, ficou sem receber. Em seguida, saiu dali meio indignado e resmungando pra si mesmo dizendo- droga, droga, só tomando prejuízo, desse jeito não dá, não dá- E ainda teve que parar em um posto que tinha uma burocracia danada para ser atendido e ainda por cima a gasolina era mais cara. Enquanto isso Miguel acordava para tomar seu café e ir para a escola, novo, recuperado e cheio de energia para novas aventuras. A coisa que ele parecia gostar mais na vida era de andar de carro, quando Seu Jorge chegava seus olhos pulavam de alegria. Recuperados um pouco de si um dos rapazes ainda se arriscava em ir na padaria comprar cigarros e roubar uns biscoitos. E nessa aventura furtiva via o seu rosto e de seu colega na tela da tv no noticiário da manhã. Isso os fizeram cautelosos e não saíram mais do lugar. Ficaram ali naquele ponto. No outro lado da cidade, não muito longe dali, o clandestino acabava de completar o tanque e seguir pra casa pegar dinheiro e levar o Miguel para a escola. Enquanto dirigia, sentia uma coceira esquisita, parecia estar com bichinhos andando pelo corpo, achava estranho, pois nunca havia sentido isso. Seria um sinal? Pensava ele, ali dentro de um Corcel 1971 2.0, era herdado de família, ele tinha um cuidado extremo com o carro, não deixava ninguém encostar a mão. Pois bem, depois de passar em casa, pegou o Miguel como sempre e foi leva-lo para a escola, só que no caminho Seu Jorge viu que o ponto estava lotado e decidiu passar lá perto para perguntar se alguém ali iria descer para o centro. _ centro, centro! Preço da passagem! Bora, bora!_ Fazia um silêncio estranho, inquieto, enquanto ele perguntava, todo mundo fazia uma cara de dúvida. Pensando tipo- a num vou não! Vou de ônibus mesmo, ultimamente tá muito perigoso!- E seu Jorge dizendo a si mesmo. _ é num tá dando pra trabalhar com isso mais não, será que já não bastam as multas que tenho pra pagar- E quando ele já ia desistindo e saindo com o carro dois jovens lá de trás o perguntaram, quase gritando. – aceita vale, num aceita vale não!?- Na mesma hora seu Jorge amaciou um pouco o rosto duro e velho e disse.- sim, vão bora- Afinal de contas dois vales é melhor que nada. Isso era o que ele pensava. Como o Miguel já estava sentado no banco da frente, os rapazes sentaram no banco de trás. Nos primeiros quilômetros o silencio pairava no ar, pois Miguel não falava quase nunca e os dois rapazes meio que exaustos pareciam querer cochilar. Até então, era uma viagem tranquila, sem nada de mais. Seu Jorge pensava.- ai ai.. esses adolescentes.. ficam na farra a noite toda e não aguentam nem chegar em casa! A meu tempo viu, chegava uma hora dessas eu tinha que trabalhar mesmo assim!!- Miguel se encantava com a janela do carro com aquele vento de brisa da manhã e imagens lindas, para ele aquilo tudo era uma dadiva da vida. Nesse momento Seu Jorge se sentia o único inteiramente responsável por tudo ali, sentimento esse que o fazia respirar fundo e sentir orgulho do seu trabalho. Tudo estava realmente sereno e clamo, como a manhã daquele dia. Até que a voz distorcida e engasgada de Seu Jorge acordasse os jovens avisando que finalmente havia chegado ao centro onde eles falaram que iam descer. Mas, quando um deles acordou (o Sagan) logo percebeu que bem em frente tinha uma viatura da policia. Então meio desesperado como era tentava acordar o seu amigo para dizer o que fazer, e Seu Jorge ali com uma orelha afiada vendo tudo meio desconfiado pelo retrovisor. O sono de Bruce era pesado, só mesmo uma jarra de água para acordar ele. Sagan começava a demonstrar ainda mais o seu desespero. Sendo assim, o clandestino se virou dizendo. – já chegou! Não vão descer aqui?-Mas o carro de policia estava do lado de fora, bem ao lado. Então Sagan rapidamente pegou a arma de seu parceiro, apontou para Seu Jorge e disse. – Continue dirigindo até que eu diga pra parar- Sem muita reação, ligou o carro e saiu normalmente. Miguel ainda acenava para os policias como quem estivesse dando um bom dia com um lindo sorriso no rosto. Saindo dali e do centro da cidade, Seu Jorge com pouca reação perguntou se podia deixar o Miguel na escola, pois ele era especial. Na mesma hora o adolescente entusiasmado com a arma o interrompeu dizendo- dirija seu velho idiota. Não faça pergunta besta.- Mas depois de alguns minutos, Seu Jorge insistiu em perguntar outra vez, pedindo por favor ao jovem- ele é uma criança especial, deixamos ele na escola e depois eu dirijo pra onde você quiser-. Só que Sagan já não sabia mais comportar aquela situação em sua cabeça, pois a responsabilidade era muita pra ele. Enquanto isso seu amigo dormia tanto que babava. A expressão facial de Seu Jorge era áspera e grossa, parecia sentir cada pedra do asfalta passando pelo pneu de seu Corcel 71. Miguel agora fazia uma pose complexa, uma mistura de dúvida de tudo que estava acontecendo e ao mesmo tempo certeza, afinal estava em um caminho novo, fora de seu habito matinal. Sagan não parava de tremer as mãos e fazer ameaças com aquele três oitão carregado de balas. Em um sinal vermelho, Miguel apontava os dedos para o lado de fora, como se em meio a aquilo tudo acontecendo ali dentro do carro apontava dizendo - lá fora tem algo pior- Seu Jorge já sabia que a estrada que estavam seguindo ira passar dentro de uma das maiores favelas do mundo. Ao arrancar o carro do sinal, Seu Jorge pensava em que havia se metido e como poderia fazer para resolver aquela situação. Mas, a euforia de Sagan o deixava preocupado. Parecia um jovem louco, sem saber o que estava fazendo e das consequências. Até que seu amigo finalmente acorda, estavam passando aos pés da comunidade agora. Meio sem saber de nada que estava acontecendo, Bruce levantou o corpo que estava um pouco inclinado e imediatamente indagou a Sagan- o que é isso? O que cê tá fazendo?- E Sagan meio sem resposta disse a ele que. – tinha que ser assim. Ele parou o carro enfrente a uma viatura de policia. Então eu peguei a arma, apontei pra ele e o mandei dirigir.- Bruce meio inquieto disse assim.- bom trabalho. Esse é o cigano que eu conheço!- Bruce o chamava assim porque todos do orfanato tinham dificuldade de falar e entender o seu nome , só sabiam que ele era um estrangeiro fugindo de alguma guerra. Seu Jorge olhava tudo ao dirigir, como sempre calmo. Mas Bruce acordado fazia piadinhas sem graça e de mau gosto com o senhor e com o menino. Pedia para ir mais rápido, avançar sinal e cometer inflações. A ansiedade de Bruce ao ver o seu amigo com a arma, e ainda saber que ele a pegou da sua cintura quando ainda estava dormindo o deixava duvidoso e nervoso. Todas essa possibilidades passavam na cabeça de Seu Jorge enquanto que do seu lado Miguel começava a assobiar músicas do coral da igreja que participava. Sagan já estava mais consciente e pouco preocupado quando Bruce lhe pediu a arma de volta. Foi um pedido normal entre os dois, mas Sagan do mesmo jeito lhe respondeu.- não! Pode deixar, fica tranquilo!- Bruce tinha o pavio muito curto e se sentia o dono e o responsável de tudo ali, mas sentia sua liderança desmoronar. A coceira de Seu Jorge começava a voltar, estava percebendo que a qualquer hora aqueles dois adolescentes iriam brigar entre si e fazer uma verdadeira guerra ali dentro. Bruce era famoso por suas brigas no orfanato e era muito respeitado. Seu Jorge não conheci eles, mas sabia que o jovem armado estava mesmo botando tudo a perder. Sendo assim, o clandestino que era difícil de correr, começou a acelerar sorrateiramente. A sua ideia era tentar ameaçar um pouco com o seu poder de estar dirigindo aquele carro. Mas por obra do destino, também não podia fazer isso, pelo menos por enquanto, pois acabara de lembrar que nos próximo quilometro à frente havia uma barreira fortemente armada de milicianos que cobravam um pedágio muito alto e costumavam abusar algumas vezes. Diante desse impasse, dos jovens a discutir e quase a brigar, Seu Jorge interrompeu dizendo- Já chega, parem de brigar! Se não sabem estamos peto da barreira de pedágio daqui e se eles notarem qualquer movimento estranho poderão até sumir com a gente. E então o que vão fazer?- Nessa hora os jovens olharam para o clandestino meio espantados e boquiabertos, pareciam estar em um momento zen, sem saber o que fazer. O assobio de Miguel voou, dessa vez até ele mostrava se sentir tenso e desarrumado. Voltando os olhos pra estrada, Seu Jorge aguardava ansioso que os rapazes se decidissem. Enquanto que o relógio caminhava para as 10:00 horas da manhã. Com muito custo, Sagan ao ver aquela situação ficou mais aliviado em deixar a arma nas mãos de Bruce, e fazer papel de bom garoto dentro do carro. Ao pegar a arma, Bruce se sentiu na liderança de novo e logo ditou o plano.- O plano é simples, somos todos seus netos e você esta nos levando para passear. Ok, entendeu seu velho!?- Há essa altura Seu Jorge já não tinha tanto medo do dois adolescentes, pois se preparava agora para o pior. E sabia que se passasse dali poderia entender um pouco mais e resolver mais tranquilo aquela situação. De repente, chegou, pediram para sair do carro com as mão na cabeça para que pudessem ser revistados. Rapidamente Bruce deixou a arma debaixo do banco do Miguel e saíram do carro dizendo – Ele é autista, ele é autista. Não fala nada, nem se comunica. Enquanto isso, dois soldados no carro ao lado começavam a fazer gracinhas com uma família que tinha duas moças bonitas, pareciam dizer que uma delas teria que ficar para cobrar o pedágio, caso contrário iriam matar todos. Seu Jorge fazia muito bem o papel de velho, mas era um homem astuto e de muita coragem. Os meninos agora se sentiam inferiores a tudo, Sagan não parava de tremer os joelhos. Com uma vós calma o clandestino interrompeu os dois soldados atrevidos dizendo para deixar as garotas em paz que pagaria o pedágio para todos. Na mesma hora o capanga que estava para revistar Miguel se direcionou junto aos outros dois. –Mas que velho engraçadinho, bondoso! Vamos dar a ele uma correção. – Miguel era um garoto muito misterioso, as vezes falava sozinho e também gostava de cozinha r. Ao se aproximarem do velho com socos e ponta pés, estourou um barulho muito grande. Era o Miguel com a arma atirando pra todos os lados, dois dos milicianos foram atingidos e o outro saiu correndo. Mesmo assim Miguel continuou rindo a atirar. Quando todos viram que a munição acabou entraram para dentro do carro com a única certeza, fugir dali. O que tinha acabado de acontecer parecia cena de filme, os jovens se redimiram ao ver as manchas de sangue no Corcel e nas roupas do menino autista. E como se não fosse tudo, o soldado que havia fugido voltou a atirar, mas como se fizesse o movimento sem saber Seu Jorge acelerou o carro fazendo uma manobra radical e sumindo no horizonte. Enquanto seu Corcel 71 cantava pela estrada com o ronco do motor, do lado de dentro o silencio voltava a pairar no ar. E seu Jorge o clandestino, se sentia vivo como nunca pois, sentia de novo estar no comando das rédeas. Bruce ao ver a expressão do motorista e os olhos de Miguel como não tivesse a se importar com nada, pediu desculpas e se envergonhou de toda aquela situação, dizia só querer ir embora pra longe e esquecer de tudo que aconteceu. E um pouco ainda enlouquecido por aquela adrenalina em curvas cheias de emoção, o clandestino se virou e disse.- se acalme meu filho, eu sabia de tudo que estava para acontecer. Você acredita? – Nessa hora Miguel esticou um sorriso sem dente e calado. O encolhimento de Sagan para dentro do fundo do carro era claro. Ao notar isso. Seu Jorge ainda fez uma brincadeira, perguntando a todos. -Quem esta com fome? E antes que ele terminasse de falar Miguel respondeu como se falasse muito bem.- eu. eu..eu..!- Os dois rapazes olhavam um pro outro como se no o olhar a amizade fosse o único refugio dali. O clandestino e o menino conversavam. Vamos parar na pastelaria que tem ali na frente no morro do Sem Pelo, o lugar mais perigoso de toda região. Ao sair do carro Miguel com uma cara convidativa disse assim- Vamos! Não tenham medo. O pastel que tem aqui é muito bom.
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O Clandestino
Короткий рассказOlá, bem vindos ao meu mundo literário! Esse é um pequeno conto em que um homem acima da meia idade, um autista e dois adolescentes rebeldes se envolvem em um dia inusitado. Improvisando e dançando conforme a música eles garantem uma aventura compl...