O Clandestino

Untitled part

ALBA

As gotas caiam, eram seis horas da manhã,

os alunos saiam de suas casas para ir a escola,

os trabalhadores saiam para as dores do trabalho

e as gotas caiam, parecia passar um trem do lado de fora

mas eram só mesmo as gotas que caiam.

Em sua vez dedicou-se a levantar da cama,

pois os pássaros já estavam a cantar,

o café a cheirar e o dia a clarear.

Como sempre ao se levantar,

abriu a janela para ver o movimento,

quem estava por ali a passar.

E nesse começo de dia distorcido

o som gótico daquele gotejar

insistente junto a sua visão ainda nublada

de como quem acabará de acordar,

via como um sopro frio de sereno,

de bom gosto, uma moça tatuada a caminhar.

Aquilo para ele era quase um protesto,

um ato grandioso de coragem

pois também queria se tatuar,

mas, sua condição familiar o impedia.

Depois de seguir a moça tatuada

até onde os seus olhos podiam alcançar,

desceu as escadas e foi tomar seu café,

e a cada mordida que dava ao pão,

imaginava como seria a personalidade

daquela moça. Estava viajando longe

durante o quente café da manhã.

Ao sair para trabalhar observou

mais uma vês a caixa d'água à gotejar,

parecia estar tão calma e precisa,

soltando cada gota com tamanha precisão e aceitação,

pensava em ser assim também.

Então, de repente a moça tatuada volta

a passar na rua, e lhe rouba a atenção

lhe chamando para conversar,

ele a observava como um primata,

exonerando-se a falar.

Esse dia ele nem foi trabalhar.

Conversaram pela manhã e depois se despediram,

a tarde se invernou em bebidas

vestindo os sonhos com aquela moça tatuada.

Sua família plantava o que colhia,

era só isso que faziam.

No outro dia ao se levantar mais animado,

nem notou se a caixa d'água estava à gotejar,

saiu forte e verdejante ao campo à trabalhar

pois era o dia principal da colheita do ano,

tudo estava bem, depois era só folga.

Trabalhou arduamente sem notar,

sua energia parecia não ter fim,

até o seu pai achou estranho mas não quis intervir,