Capítulo 1

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 Quando o sinal bate anunciando o fim das aulas naquela manhã, eu ainda estava copiando a lição da lousa. Precisamente a última parte das cinco divisões que a professora de Biologia tinha passado.

 Eu era lenta. Desajeitada também. Mas a lentidão era meu principal defeito. Fosse no raciocínio ou no movimento do corpo, ficava alguns segundos atrás dos outros. Minha irmã mais velha costuma dizer que esse é meu único defeito.

"Você é bonita e esperta. Tem um sorriso e olhos lindos, mas às vezes trava."

 Que tipo de pessoa diz a outra que esta é travada?

- Atrasada como sempre hein dona Lívia? – ouço a professora dizer de sua mesa. Seus olhos a me encarar atrás dos óculos de aros redondos.

- Mais um parágrafo, professora. – respondo. – Mais um parágrafo.

 Todos os alunos já tinham saído.

- Alguém vai esperar você lá fora? – indaga a professora.

- Não.

 Três minutos depois comecei a guardar as minhas coisas e me levantando, joguei a mochila nas costas e avancei para a porta. Antes, porém precisei passar em frente à mesa da professora que ficava na fileira onde eu estava.

- Desculpe pela demora.

- Tudo bem. – ela sorri. – Conseguiu copiar tudo?

- Sim.

- Está bem então. – seu sorriso era sincero. – Até...

- Quinta - feira. – completo. – Amanhã não teremos aula com a senhora.

- Certo, até quinta.

 Saio para o corredor.

 Já escutei de muitas pessoas que um corredor de escola quando vazio de alunos, causa um pouco de medo.

"Uma sensação de frio e solidão", Levi uma vez disse para alguém.

 Mas para mim era o oposto. Às vezes ficava pensando se minha lerdeza não seria proposital. Gostava de andar no corredor silencioso. O tumulto de alunos, principalmente no ensino médio, me causava sufocamento. Agora, quando todos ou pelo menos a maioria se foram, a paz preenche cada canto da escola antes barulhenta.

 Após um lento caminhar sai da escola. Lá dentro podia estar quase vazio, mas na rua, em frente à escola, vários grupos estavam reunidos. Começo a andar entre as pessoas, com passos acelerados, me esquivando de cada aluno e vendo apenas borrões de seus rostos, até sentir alguém tocar meu ombro direito.

- Lívia.

 Parei e olhei para a pessoa que me chamara. Era uma garota. Estudamos juntas no primeiro ano, mas tanto no segundo, como agora no terceiro tínhamos ficado em salas diferentes.

- Ana. – a encaro.

- Você sabe se o Diogo ainda está lá dentro? – pergunta. – Não consigo encontrar ele.

 Ana e Diogo. Namorados há quatro meses.

- Não o vi. – respondo.

- Ah. Valeu.

 E assim quando Ana virou o rosto em busca de seu namorado problemático, segui meu caminho. Antes de atravessar a rua e me livrar de vez daquele tumulto, meu celular toca.

- Oi, mãe. – encosto o aparelho na orelha direita enquanto tampo a outra com a mão livre.

- Preciso ir ao supermercado. – diz mamãe, pela voz ofegante percebo que está andando enquanto fala. – Deixei a chave embaixo do vaso lilás.

Meus DesejosWhere stories live. Discover now