Capítulo 4

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- Tem certeza?

- Sim. – então a menina se vira e abraça minhas pernas. – Eu sabia que você me ajudaria a encontrar minha mãe.

 Tive vontade de chorar. Meus olhos chegaram a se encher de lágrimas, mas me contive.

- Que bom. – levantei Beatriz e a abracei junto ao peito. – Estou tão feliz. – invés de lágrimas dei uma risadinha de alegria.

 Quando o metrô parou e as portas abriram, desci a menina e a vi correr para os braços da mulher que a esperava na plataforma.

- Bela visão, não? – diz Otávio ficando de pé ao meu lado e seguindo meu olhar.

- Sim. – concordei.

 A mulher de olhos claros como a filha, olhou para nós, agradecida enquanto abraçava a menina. Uma luz dourada parecia encobrir as duas.

- Estou começando a entender o que aconteceu. – digo. – Essa mulher. Não é real, é? – faço a pergunta ao meu companheiro sem desgrudar os olhos de Beatriz e sua mãe.

 Nesse instante um sinal tocou avisando que as portas logo se fechariam.

- Tchau, Beatriz! – faço o movimento de despedida com a mão. – Não se perca novamente, hein?

- Tchau, Lívia! – ela repete meu gesto com a mão livre, a outra segurava firmemente a mão da mãe. – Não vou mais me perder. Eu prometo.

 E então as portas fecharam e o metrô recomeçou seu movimento. Beatriz ainda balançava a mão quando adentramos em outro túnel e a perdi de vista.

- Preciso te levar para um lugar. – diz Otávio.

- Onde?

- Ao lugar de onde você nunca deveria ter saído.

 Não compreendi aquela resposta e isso não se dava apenas a minha lerdeza habitual, mas decidi não revelar isso a ele. Minha mente ainda estava tentando aceitar o fato que ficava cada vez mais claro.

 Quando saímos do túnel outra vista apareceu, o céu estava diferente. As nuvens tinham voltado a aparecer, mas desta vez com um tom rosado lembrando um pôr do Sol. Peguei meu celular do bolso e liguei a tela.

- Meio-dia e quarenta? – digo ás horas que o relógio digital indicava. – Nessa hora eu estava saindo da escola.

- Você não deveria se preocupar tanto com isso. – Otávio me dá um sorriso confortador. – Às vezes precisamos esquecer que o tempo avança sem parar e apreciar o que nossos olhos vêem.

 Segui seu conselho e olhando para fora avistei pássaros voando naquele céu rosa. Tirando eu e todas as pessoas que tinha encontrado no caminho até aqui, eram as primeiras coisas vivas que apareceram nesse silêncio estranho que tinha se tornado a cidade.

 A vista voltou a escurecer quando outro túnel apareceu. Aproveitei para ver se alguma mensagem tinha chegado sem aviso no meu celular. Mas não havia. A mensagem para minha irmã nem sequer tinha sido enviada, por falta de sinal.

- Não se preocupe, já disse. – voltou a falar Otávio em tom tranqüilizador. – Esqueça um pouco as outras pessoas. Isso não é ruim. Pensar apenas em si mesmo por um tempo.

 A visão escura do túnel desapareceu. Encarei a vista que surgiu boquiaberta.

- Neve! – olhei para o céu acinzentado quase branco. – Está nevando nessa cidade? Não é possível.

- Era seu sonho ver neve. – falou Otávio.

- Sim. – concordo. – É um dos meus objetivos visitar um país que neva.

- Fico feliz em saber que você colocou isso como um dos seus objetivos. – Otávio sorri. – Vamos descer na próxima estação. – avisa.

 Avistei a plataforma e mentalmente torci para que quando saísse lá fora ainda estivesse nevando.

- Seria bom colocar esse casaco que tem guardado na mochila.

 Estava prestes a dizer que não tinha trazido nenhum casaco quando me dei conta que minha mochila estava mais pesada do que deveria. Quando a tirei das costas e a segurando pela alça a abri, vi um volume verde limão ali dentro. Um agasalho daqueles que as pessoas costumam usar ao esquiar.

- Não sei como isso veio parar aqui, mas fico agradecida. – digo colocando a mochila no chão do vagão.

 Quando as portas abriram, eu já puxava o zíper do casaco para cima, só então percebendo que estava sentindo muito frio segundos atrás.

- Ficou bem em você. – elogia Otávio.

- Obrigada. – sinto meu rosto esquentar.

 Ao sair do metrô, já com a mochila nas costas,me dou conta de duas coisas. A primeira era que ainda nevava. A segunda, euestava na estação do meu antigo bairro.

Meus DesejosWhere stories live. Discover now