- Como vai, Lívia? – ela sorria. – Vamos. O que fazem parados ai? Estamos esperando a um tempão.
- Venha. – Otávio me puxa pela mão, me forçando a andar junto com ele até onde se encontrava Joana.
Seus fios ondulados alaranjados estavam parcialmente escondidos sob um gorro marrom. Joana crescera alguns centímetros e ganhará mais traços de mulher adulta, mas era impossível não a reconhecer.
- Joana... – paramos em frente a ela, Otávio solta minha mão. – Eu...
Recebo seu abraço. Enquanto sentia ela me apertar cada vez mais, deixei escapar aquelas lágrimas que tanto segurará.
- Eu sinto muito. – murmuro ao seu ouvido. – Sinto muito. – soluçava a cada palavra dita.
- Não sinta. – Joana me conforta. – Porque você foi embora? Quando eu acordei me contaram que nossa amiga tinha partido. Foi difícil de aceitar.
Tudo aconteceu em um pega-pega entre amigos que estavam prestes a terminar o fundamental. Uma brincadeira infantil para descontrair, mas que acabei arruinando.
- Foi tudo minha culpa. – digo. – Estava com ciúmes e fiz aquilo.
Otávio e Joana estavam se encaminhando para um namoro. Transformei minha melhor amiga em uma rival, e na brincadeira, num impulso repentino a empurrei com força.
- Eu deveria ter percebido. – diz Joana ainda me abraçando. – O certo seria conversarmos sobre isso. Nunca passou pela minha cabeça estragar minha melhor amizade por um caso.
Joana na queda bateu a cabeça em um muro de concreto. O resultado da minha ação? Um coma. Covarde e culpada fugi. Aproveitando a necessidade de mudança por parte da minha mãe, deixei minha amiga entre a vida e a morte.
- Não. – afastei-me lentamente de Joana. – Fui imatura. Estraguei tudo.
- Ambas cometemos erros. – Joana me encarava sorrindo. – Mas isso é passado. Estou bem. Você voltou. Então porque ainda deixar a dor consumi-la? Eu a perdoo e preciso do seu perdão também.
- O que? – franzo o cenho. – Porque está pedindo perdão para mim?
- Uma amiga deve perceber quando a outra está com problemas. – diz. – Falhei e agora peço seu perdão.
- Mas...
- Me perdoe Lívia. – seu olhar era suplicante. – Por favor.
- Eu... Perdoo. – digo em voz baixa. – Perdoo você.
Joana toca meu ombro.
- Pronto. – fala. – Estamos ambas perdoadas.
Seu sorriso me fazia esquecer que nevava. Uma estranha sensação de calor me preenchia, expulsando todo o peso que eu acumulara todos esses anos.
- Agora vamos entrar. – diz. – Nossos amigos estão esperando.
Antes de entrar no apartamento, eu já sabia quais eram as duas pessoas que ali aguardavam. Depois de pegar o elevador até o quarto andar, a porta do apartamento se abre e ali dentro vejo Miguel e Mayara.
- Os irmãos astros. – digo quando os vejo. – Como estão?
Tinha perdido o costume de receber abraços nos últimos anos, e agora recebia o terceiro em um dia só. E este era duplo!
Miguel e Mayara eram gêmeos, um ano mais novos que os outros do nosso pequeno grupo. Ambos eram do time de basquete da escola. Suas habilidades elevadas deram a eles o status de astros pelos outros alunos.
- Bem vinda de volta! – disseram em uníssono ao se afastarem do abraço apertado.
- Obrigada. – agradeço. - Sou grata a todos vocês. – meus olhos estavam lacrimejados novamente.
Estava feliz. As palavras de Otávio agora faziam sentido. O desejo do meu coração. Meus amigos. Queria tanto estar com eles novamente, exatamente como há quatro anos. E aqui estava eu.
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Meus Desejos
Short StoryTudo se encaminhava para mais um dia normal na vida de Lívia. Após sair da escola mais tarde que os demais, se dá conta que o caminho que faz todos os dias para chegar em casa está estranho. Como que para confirmar isso, uma garotinha sentada sozinh...