Capítulo 3

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 Ele sorria. Seu cabelo castanho claro estava bagunçado no topo como sempre. Otávio tinha envelhecido nesses três anos, inclusive tinha deixado a barba crescer, mesmo que ainda estivesse rala.

- Gostei da franja. – ele voltou a falar enquanto me encarava. – Mas acho que os azuis dos seus olhos deveriam ser melhor exibidos, essa cortina escura oculta uma das coisas que há de melhor em você.

 Sempre elogiando.

- Tirando essa barbinha, você não mudou muita coisa. – rebato. – Continua inventando qualidades para agradar os outros.

 Otávio dá uma risadinha.

- Você sabe que não são invenções. – diz.

 Sinto a mãozinha de Beatriz puxar minha calça.

- Podemos andar no metrô? – pergunta.

- Então é isso que a mocinha quer? – indaga Otávio. – Andar de metrô? – ele olha para Beatriz.

- Ela está procurando a mãe. – explico. – Mas tem o estranho desejo de conhecer metrôs.

- Fiquei sabendo que não é todo dia que aparece algo assim por essas bandas. – diz Otávio levantando a cabeça para me encarar. – E quem sabe a mãe conhecendo o sonho da filha não tenha ido até lá em cima verificar?

- Talvez... – digo sem convicção.

- Vamos lá, mocinha. – ele pega a mão de Beatriz. – Vamos realizar seu desejo.

- Eba! – a garota dá alguns pulinhos enquanto soca o ar com a mão livre.

- Você vem? – Otávio me encara.

 Ainda estava me perguntando como meu antigo amigo tinha aparecido de repente no bairro e me encontrado, mas nesse momento tinha outras coisas que precisava me focar. Deixaria as perguntas para depois.

- Claro. – pego a outra mão de Beatriz.

 Juntos como uma família unida e feliz nos encaminhamos para a escada rolante.

 Ao chegar lá encima, vejo que aquilo era realmente uma estação de metrô. Catracas, mais escadas, placas indicativas, até mesmo aquele estranho ar gelado, junto com o inconfundível som dos trilhos sendo raspados e do barulho dos motores. Olhando do lado de fora, nem poderia imaginar que o lugar fosse tão grande.

 Mas havia algo estranho. Não havia pessoas ali também. Nem mesmo aquela mulher que vimos momentos atrás subindo a escada rolante.

- No nosso antigo bairro, a estação parecia um formigueiro nesse horário. – olhei para Otávio. – Olha esse vazio!

- Melhor para nós não acha?

 Quando nos dirigimos para as catracas, me lembrei de uma coisa que tinha deixado passar despercebido quando passei o olhar pela estação.

- Não há bilheterias! – digo. – Como vamos comprar as passagens?

- Eu tenho três bilhetes aqui. – diz Otávio tranquilamente balançando os três pedaços de papel no ar. - Comprei uns extras outro dia.

 Que tipo de pessoa compra bilhetes extras?

- Tudo bem... – falo pegando a passagem que ele me estendia.

 Depois de passar pelas catracas, guiadas por Otávio, subimos por mais uma escada rolante, para enfim chegar a uma plataforma.

- É por aqui que vai passar o metrô? – indaga Beatriz apontando para baixo, em direção aos trilhos.

- Sim. – respondo apertando levemente sua mão. – Tenha cuidado, para não cair.

 Encarei Otávio.

- O que foi? – ele indaga percebendo meu olhar.

- Para onde estamos indo?

- Surpresa. – Otávio sorri enigmático.

 Solto um suspiro vencida e volto a olhar para Beatriz, sua expressão não deixava dúvidas que a garota estava ansiosa.

 Comecei a me lembrar da primeira vez que usei esse meio de transporte com minha mãe. Assim como Beatriz, encarei tudo com um olhar fascinado.

"Fique atrás dessa linha amarela. Tenha cuidado para não cair, é perigoso." – mamãe disse para sua filha de cinco anos.

 Escutei o som que tinha nos guiado até este lugar.

- Tá vindo! – Beatriz gritou. – O metrô ta vindo, Lívia!

- Sim, ele está. – sorri.

 Em segundos os primeiros vagões passaram a nossa frente, e então o metrô parou. A porta do penúltimo vagão se abriu para nós.

- Vamos? – pergunta Otávio a Beatriz.

- Sim!

 Entramos, segurando as mãos da garota.

 Nunca tinha visto alguém tão animado assim para andar de metrô. Fiquei imaginando Beatriz em uma cidade grande daqui alguns anos, pegando a condução em horário de pico.

 Assim como no lado de fora, lá dentro não havia pessoas. Quando soou o apito avisando que as portas se fechariam, fiquei esperando que alguém fosse entrar correndo, desesperado para não perder a viagem, ainda mais uma com vagões vazios. Mas ninguém entrou. Quando começamos a ganhar velocidade encarei Beatriz.

- Onde quer se sentar?

 A garota olhou para cada assento, até escolher um que tinha a janela inteira a sua disposição. Otávio deixou que eu sentasse junto a ela, enquanto ele se sentou no assento virado para nós, que pegava apenas uma parte da vista.

 Nem bem passamos pelo túnel e saímos para o céu aberto, Beatriz em um salto se pôs em pé.

- Nossa! – exclamou. – Dá para ver todas as casas daqui.

 As casas, arranhas céus, ruas, carros parados e um céu agora sem nuvens. Me coloquei em pé junto a garota, na esperança de ver alguma pessoa lá embaixo, mas não tive sucesso.

- É como vi na TV. – disse Beatriz. – Queria conseguir ver minha mãe daqui. Você vê ela, Lívia?

- Não. – balancei a cabeça. – Mas prometo que vamos encontrá-la.

- Eu sei que vamos. – afirmou a menina sorrindo para mim. – Você prometeu que eu andaria no metrô e cumpriu. Agora sei que você vai encontrar minha mãe.

 Sorri com facilidade e coloquei minha mão sobre sua cabeça, bagunçando seu cabelo louro.

- Obrigada por confiar em mim. – digo agradecida.

 Otávio nos encarava do outro assento com um largo sorriso.

- Estamos chegando à próxima estação. – ele avisou.

 Nenhuma voz informou aquilo, mas olhando pela janela pude avistar outra plataforma, confirmando as palavras de Otávio que nem tinha se mexido do seu assento.

- Ei! – digo quando o metrô começa a desacelerar. – Tem uma pessoa na plataforma. Acho que é uma mulher.

 Beatriz segue meu olhar, e estreitando os olhos, abre um sorriso.

- É a mamãe! – volta a dar pulinhos. – Lívia, é a minha mãe ali.

Meus DesejosWhere stories live. Discover now