Capítulo 5

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- Como chegamos aqui? – foi a pergunta que saiu da minha boca.

 Estação Zuli. Não conseguia acreditar mesmo olhando o nome na placa indicativa acima de nossas cabeças.

- Então ainda se lembra, não é? – Otávio me encara.

 Ele começou a andar até a escada rolante mais próxima e eu o segui.

- Você nunca sentiu vontade de voltar? - ele volta a falar.

 Demorei um tempo para responder, olhando ao redor enquanto descíamos pela escada.

- Tive vontade. – soltei. – Muita.

 Muitas vezes imaginei como seria ver isso, mesmo sabendo da dificuldade de acontecer tal coisa. A cidade de São Paulo sob neve.

 É claro que não havia pessoas por ali, mas os semáforos continuavam funcionando acima dos automóveis parados no meio da rua. Mesmo sem movimento, atravessamos a faixa somente quando o sinal abriu para pedestres.

- Ainda hoje não acredito que você decidiu se mudar. – diz Otávio andando ao meu lado a passos lentos. – Sua mãe te deu a opção de morar com a avó aqui, mas...

 Eu fui embora. Desde o momento que pisei no bairro Belo Mundo, prometi nunca mais voltar para Zuli. Acabou que em três anos nem sequer sai do bairro.

- Ainda estou surpresa por estar aqui. – digo depois do silêncio.

 Nossa respiração fazia vapor no ar. A neve ocultava o som dos nossos passos. Todas as residências e estabelecimentos estavam silenciosos.

- Ainda se sente culpada. – crava Otávio. – Se você não tivesse trocado de número, desativado suas redes sociais e proibido sua avó de contar seu novo endereço, saberia que todo seu sofrimento é em vão.

 O encarei com o cenho franzido.

- O que você quer dizer?

 Otávio me encara, mas não responde minha pergunta, ao invés disso, aponta para um condomínio que não tinha muitos andares e era bem cuidado. O lugar onde ele morava.

- O que seu coração mais desejou durante esses três anos? – pergunta ele fazendo mais vapor no ar. – As pessoas não deveriam negar um pedido sincero do coração. É como se você recusasse um pedido de pão a uma criança faminta, por medo de passar fome no dia seguinte.

- E você por acaso sabe o que meu coração deseja? – olho para Otávio.

- Então você conseguiu? – uma voz feminina indaga. – Encontrou a Lívia. – a pessoa estava de pé em frente á portaria. Através dos flocos de neve que caiam lentamente a reconheci.

- Joana. – não conseguia acreditar.

Meus DesejosWhere stories live. Discover now