Tempo, tempo, tempo, tempo.

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A sala é ainda uma sala, mesmo quando não há nada além de escuridão lá
Mas uma sala não é uma casa e uma casa não é um lar
Quando os dois de nós estão muito distantes
E um de nós tem um coração partido.”


Shawn Mendes.

As pessoas sempre dizem que preferem a dor da verdade que uma mentira feliz, que não importa o quanto de estrago ela possa causar, é sempre preferível, mas eu julgo essa não ser uma verdade irrefutável. A ignorância é um privilégio, e embora enganosa, todos são mais felizes vivendo nela. A tal falsa felicidade.

Ouvir aquelas palavras vindas de Emily foi como procurar por chão no oceano; eu me sinto tão enfurecido que até posso sentir a minha pele febril tomada pela raiva. Eu confiei nela, confiei os meus segredos, os meus medos... Eu fui um grande idiota. Solvi o último gole do meu whisky puro, ouvindo a campainha tocar, o líquido desceu queimando enquanto eu dispensava o copo para ir abrir a porta.

– Ei, eu trouxe as passagens. – meu pai sorriu cordial, me mostrando o envelope, enquanto eu abria espaço para ele entrar. – Só não entendi o porquê de você adiantar a viagem, achei que fosse passar essa noite na Emily e só iria depois de amanhã, aconteceu alguma coisa com os ajustes do lançamento?

– Não. – fechei a porta evitando olhar para o homem atrás de mim.

– Shawn? Você bebeu? – segui o olhar do meu pai e ele apontava a garrafa de whisky quase na metade e o copo vazio na mesa de centro. Senti a minha vista embaçar, me sentindo uma criança boba. – Shawn?

– Acabou. – me joguei no sofá de qualquer jeito, sentindo o gosto salgado das lágrimas fugitivas. – Acabou tudo, pai.

– Ei, do que você está falando?

– Emily mentiu para mim, esse tempo todo ela só se aproximou para saber mais da minha vida, enquanto escrevia uma maldita matéria de fofoca. – despejei tudo de uma vez.

– Filho, eu nem sei o que dizer. – ele apertou meu ombro em solidariedade. – Eu sinto muito.

– Eu também. – enxuguei o rosto com as costas da mão, afugentando o derrotismo. – Mas talvez tenha sido melhor assim, no fim das contas Emily me ensinou uma lição: nunca se permita confiar o seu coração a ninguém, ou melhor, não confie em ninguém.

– Eu acho que você está de cabeça quente e magoado demais para ser racional agora, mas quando sua raiva se dissipar, olha bem a sua volta, é a Emily e eu não acho que ela seja todo esse monstro.

– Pai, ela preferiu me vender ao sensacionalismo a ser sincera. – despejei mais um pouco da bebida âmbar em meu copo. – Emily foi fria e irredutível ao dizer que seguiria com a matéria, ela não se importa com os meus sentimentos ou com o que quer que seja aquilo que a gente teve.

– É sério que você pensa isso? – ele me encarou com as sobrancelhas erguidas. Dei de ombros levando a bebida até a boca. – Shawn, quer parar de beber como um irresponsável? – ele arrancou o copo da minha mão já meio irritado.

– O que o senhor quer que eu ache? A mulher que eu amo estava me usando todo esse tempo, enquanto eu igual um idiota corria de um lado para o outro tentando provar e validar os meus sentimentos. Ela pisou no meu coração sem pensar duas vezes, foi cruel e desleal comigo, então o que mais eu posso pensar dela?

– Meu Deus, como você é dramático. – passou os dedos pelos cabelos num gesto de impaciência que eu reconhecia em mim. – Escuta filho, eu não sei com todos os detalhes o que aconteceu entre vocês ou os motivos da Emily para tomar as decisões que tomou. O que eu sei é que você cresceu nutrindo sentimentos por essa garota e mesmo quando eu achei que você os tinha superado, lá estavam eles no fundo dos seus olhos. O que eu sei é que você se ilumina igual a uma árvore de natal perto dela e quando fala nela o seu sorriso é de um bobo apaixonado. O que eu sei, Shawn, é que desde que essa menina voltou a sua vida, você tem estado mais leve e como pai, isso é o que conta para mim, o seu bem estar.

Fallin' All in YouOnde histórias criam vida. Descubra agora