Meu corpo dói, o cheiro de desinfetante invade o lugar onde eu estou deitada. Alguns bips ao redor, o vento, os sussurros. Eu desci para o inferno então? Claro Brena, você não é importante pra ninguém se acostume com isso. Aqui é escuro e tenebroso é como se eu estivesse presa dentro de mim mesma. Tento abrir os olhos para contemplar o lugar onde passarei toda a minha eternidade, mas tudo dói, cada célula do meu corpo reclama quando movimento o braço, não sinto minha pernas, muito menos meu braço esquerdo. Eu devia estar sentindo dor. Depois de morrer? Ainda lembro do carro na qual eu bati de frente. Será que alguém se machucou? Droga, eu devia ter pensado nisso. Fui egoísta ao lembrar apenas da minha dor, mas nada passou. Ainda sinto muita dor, não só no corpo. Mas na alma é uma dor mais forte. E se alguém se machucou no acidente?
— Eu não pagarei nenhum centavo da conta desse hospital, que ela morra nessa maldita cama — quando os monstros que habitam minha mente se calam. Consigo ouvir a voz do diabo perfeitamente encarnada. Nem depois de morrer terei a oportunidade de me livrar desse homem? O que eu fiz para os deuses me castigarem dessa maneira?
" Acorde meu amor" — consigo abrir os olhos aos poucos, estou em uma casa enorme cercada de grama e brinquedos infantis, uma mulher que não consigo ver o rosto dança com uma criança pequena que usa apenas uma frauda. O cheiro de grama e chuva acariciam meu nariz, como se sentisse minha chegada a moça solta a criança deixando um beijo na cabecinha careca antes de flutuar? Até mim, olho em volta tentando encontrar outra pessoa que possa me beliscar e me tirar desse pesadelo ou sonho. Ainda não me decidi, a camisola branca abraça meu corpo, enquanto meus cabelos dançam juntos ao vento.
" Volte meu amor" — não consigo ver o seu rosto graças a névoa que o cobre. Mas a sua voz é doce, e muito familiar pra mim. Seria ela um dos meus monstros? O quanto perturbada minha mente está?
— Quem é você? — consigo sussurrar.
" Você será feliz meu amor, mas terá que derrubar cada um dos seus monstros. Deixe ele entrar, ele é o seu desejo oculto"
Antes que eu consiga fazer ou falar algo a névoa desapare e meus olhos piscam com a claridade excessiva do quarto, em uma poltrona ao lado da janela está Mary, lendo um de seus romances. Pelas olheiras que ocupam seu rosto já estou aqui a muito tempo. Semanas? Dias? Horas? Não tenho noção alguma. Não sinto minhas pernas e meu braço esquerdo está engessado e as dores são insuportáveis. O colchão incomoda minha lombar.
Mesmo assim a mulher misteriosa dos meus sonhos não saí da minha cabeça, quem seria o meu desejo oculto? Quem contou pra ela que eu mereço ser feliz um dia? Uma suicida louca, que não suporta mais olhar o seu próprio reflexo no espelho. Nem para morrer eu presto, a dor de estar viva domina meu corpo. Eu só queria morrer, eu só queria sentir aquela paz que dominou meu corpo quando meu carro bateu de frente. A única coisa que quero sentir é paz, nem que isso ocorra no inferno. Não quero mais olhar pra mim, essa Brenna repleta de cicatrizes na qual a família Croft destruiu.
" Mas terá que derrumar cada um dos seus monstros"
A frase martela dentro do meu ser, ela não sabe de nada. Ela não sabe a merda de vida na qual eu vivi, as dores que senti, das noites em claro que passei sentindo medo. Medo de sentir as mãos deles em mim, das queimaduras feitas com charuto cubano. Humilhações em público, quando eu era tratada como empregada pelas minhas irmãs, mas nunca como membro da família Croft. Eu nunca fiz parte daquela família.
— Não, eu só quero morrer. Me deixem morrer — grito, quando as imagens passam como um filme em minha cabeça. Uma lâmina pode cortar os meus pulsos e acabar com tudo isso, ou eu posso atravessar alguma avenida movimentada e me jogar na frente de algum caminhão, tomar alguns remédios em excesso. Eu só preciso sentir aquilo novamente, eu só quero descansar em paz.
— Brenna? — os olhos de jabuticaba da minha melhor amiga estão assustados, ela treme tentando manter meu corpo parada mas algo me fez mexer o corpo sem controle algum.
— Faça parar? Não quero mais sentir — digo sentindo as lágrimas descerem sem controle pelo meu rosto. Mary aperta um botão sem parar enquanto meu corpo treme sem controle algum.
— Eu quero que ela vá embora Mary, faça essa maldita dor parar! — imploro quando os olhos do meu pai atravessam o quarto. Não sei em que momento meu corpo parou de tremer ou como a dor desapareceu, só sei que o terror ficou estampado em meu rosto antes que eu apaga-se novamente com os olhos dele ali.
[…]
— Jogue ela em algum puteiro. Essa vagabunda não vale nada igual a você. Sua negra imunda. Se ela aparecer novamente na minha frente vou mata-la como devia ter feito a muito tempo. Ela seduziu o meu marido com essa gordura toda, ela quer ser melhor do que as irmãs mas nunca chegará nem perto de uma delas — a voz da mulher que um dia eu chamei de mãe está por todo quarto — Vou fazer um cheque, quero que você e ela desapareçam do mapa. E se ela morrer? É melhor ainda, tenho nojo de ter colocado do mundo um ser desses. Aqui! Meio milhão de reais pra vocês sumirem daqui, mate ela e fique com o dinheiro é o melhor que você faz — os saltos dela batem no piso de madeira antes da porta bater. Consigo respirar fundo, sentindo um pouco de alívio ao saber que eles me querem longe.
— Mary-y? — consigo falar, atraíndo a atenção dela. Usando somente uma camisa xadrez vermelha e branca, um jeans desgastado, minha melhor amiga aproximasse da cama. Seus olhos vermelhos e a aparência cansada me deixam preocupada com ela. Mesmo que eu esteja quebrada em todos os sentidos da palavra, olhar pra ela é como um bejo por do sol. Sua pele negra bem cuidada constrasta lindamente com seus cachinhos, que hoje estão ressecados. Ela está sofrendo, é isso que eu faço com as pessoas.
— Por quê? — é a pergunta que a mesma faz segurando minha mão. O contato é bem vindo.
— Eu não aguento mais Mary e… — quando vou começar a explicar os motivos pelo qual eu tentei e ainda vou tentar tirar minha vida. Um homem alto, usando jaleco e prancheta na mão entra no quarto. Em letras bonitas no lado direito do jaleco está escrito " Doutor Fábio" ele é alto, forte e másculo.
— Boa tarde senhorita Croft — fala abrindo uma fileira de dentes bonitos — Vejamos — seu sorrio vai diminuindo conforme ele lê o que está escrito no prontuário. — A senhorita sofreu traumatismo craniano, quebrou duas costelas. O osso da perna esquerda, o braço, teve uma infecção generalizada que conseguimos controlar com a ajuda de antibióticos. Sinto muito senhorita Croft mas devido a batida você não poderá ter filhos, a pancada danificou seu útero por isso vamos realizar acompanhamentos trimestrais — diz com sua máscara de frieza característica dos médicos. Mas suas palavras ainda estão sendo absorvidas pelo meu cérebro. Eu nunca poderei ser mãe, não sei se isso é bom ou ruim. Na verdade não sei mais nada.
Eu só queria descascar em paz, sem sentir que o mundo quer me engolir a todo momento. O que parece fácil para uns pra mim é difícil, respirar dói mas não mais do que viver em um mundo onde ninguém gosta de você.
— Bre? Um moço trouxe você pra cá. Ele quer te ver.
— A quanto tempo eu estou desacordada? — pergunto sentindo a garganta seca. Respiro fundo sentindo o cheiro de desinfetante dominar com mais potência o quarto.
— A três meses — responde, depositando um beijo nos fios soltos do meu cabelo. Eu fiquei desacordada por três meses? Essa constatação me pega de surpresa.
— Quem me trouxe? — pergunto ainda em estado de choque.
— Um moço chamado… — ela coloca a mão no queixo, pensativa — Heitor Bonfim!
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Desculpa a demora meninas , meu celular está estragado . E não estou conseguindo escrever direito.
Pra terem uma ideia estou conseguindo ligar ele hoje , desde ontem ele apagou.
Então perdoem !
Próximo capítulo é o Heitor .
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HEITOR ™ SÉRIE DESEJOS OCULTOS [L1]
Roman d'amourHeitor Bonfim é o tipo de cara cafajeste que sabe do poder que tem e não tem medo se usa-lo, aos 25 anos carrega nas costas a responsabilidade de comandar o império da família. Porém ele já está de saco cheio das exigências feitas pelo pai e resolv...