Saga Serena - Fé e Vingança (Degustação)

• | Capítulo 4: Se ajustando a realidade |

Capítulo 4

Se ajustando a realidade

"Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço. "

ROMANOS 7:15

Nasci no ano de 298 da Nova Era nas celas do calabouço do Castelo Galahad - o palácio da família real - localizado na mundialmente famosa Cidadela de Bretália, a impenetrável. Como eu já havia lhe dito, meus pais, Julieta Iglesias e Enrique Valverde, estavam na cidade de Kretan por uma emergência familiar, pois apesar dos meus avôs paternos serem alazianos de sangue, eram servos da família central do Clã Moriarty, um dos clãs nobres mais poderosos de Bretália. Eles não esperavam que a visita se tornasse tão longa por motivos pessoais e políticos, ou nem teriam viajado, visto que minha mãe já estava com sete meses de grávida quando chegaram.

Paralelamente a isso, os reinos de Alazon, Akator e Bretália estavam em um momento histórico emblemático que atualmente é chamado de Crise Tríade. É complexo, então presta bem atenção! Na época, Shuri Traore era a rainha do Reino de Akator, tinha um casamento de anos com Alejandro Rodrigues - um duque alaziano - e possuía uma irmã mais nova, a Aduke Traore, tornada rainha consorte de Bretália, desde seu casamento arranjado com o rei desta nação, Maddox Montecchio.

Apesar de mais jovem, Rainha Aduke já tinha tido um filho com Rei Maddox, o herdeiro Príncipe James. Enquanto que sua irmã, Rainha Shuri - que era diagnosticada com doxanima -, apenas sofria uma série de abortos espontâneos, até finalmente conseguir segurar uma gravidez. A princesa que ainda não havia nascido já era prometida em casamento para o Príncipe Lorenzo Saramego, outro alaziano cujo o matrimônio tinha como propósito manter os laços entre os dois países. No entanto, a gravidez da Rainha Shuri era de risco e sua internação repentina causou um forte rumor de que ela e a criança morreriam antes mesmo do parto começar.

Segundo a lei, em caso de morte da rainha e sua bebê, a próxima na linha de sucessão ao trono seria Aduke, dado que Alejandro era apenas um rei consorte, ou seja, não tinha direito ao trono. Deste modo, o rei de Alazon na época, Antônio Saramego, temia que Rei Maddox através de sua esposa tomasse posse de Akator, tornando Bretália um poderoso império que atacaria o Reino de Alazon novamente – repetindo o histórico de guerra das nações. Assim, Rei Antônio, na tentativa de impedir isso, orquestrou uma tentativa de assassinato contra a Rainha Aduke e seu filho, James, de cinco anos, o que não ocorreu como planejado.

Em resposta a isso, Rei Maddox fechou as fronteiras de Bretália, impedindo a entrada e a saída de todos os alazianos do reino, o que incluía meus – totalmente insignificantes naquele contexto - pais. Eles estavam na estação de trem, prontos para voltar a Alazon, quando todo o alvoroço aconteceu. Naquela noite, uma onda de violência se alastrou naquele lugar, dezesseis pessoas consideradas "perigosas" pelos policiais foram alvejadas com armas de fogo, uma delas meu inocente pai que sangrou até morrer no chão da estação ao proteger minha mãe – gestante de nove meses -, sem ter qualquer relevância no conflito político.

Minha mãe, Julieta, e todos os outros que foram capturados durante a confusão ou que foram pegos cometendo qualquer atividade "suspeita" em Kretan foram presos no calabouço de Galahad. Foram dias difíceis nas celas, por que foi ali, traumatizada, presa em sua condição desumana que ela me deu à luz – na primeira noite – com a ajuda de ninguém mais do que a própria Rainha Aduke. Esta que tem minha profunda gratidão por além de ter me ajudado a nascer, debaixo do nariz do seu marido armou para que todos os inocentes voltassem ilegalmente de trem de volta a Alazon.