PRÓLOGO
Os cristãos traíram a humanidade.
Antes da Nova Era, a nossa espécie habitava na Terra, quando um ser envolvido em grande majestade e glória partiu o céu em dois, descendo de um reluzente portal do espaço até nós, cercado por uma multidão de seres com aparência celestial.
O Retorno de Cristo - eles disseram.
E o chamado Cristo demonstrou seu poder curando doentes e operando indescritíveis milagres, conquistando assim a fé de milhares de devotos apaixonados e também opositores enfurecidos. Para os crentes o Cristo se tornou um líder espiritual, um líder com vontades supremas e este foi o início das dores. Pois qualquer semelhança que ele poderia ter com o real Cristo acaba neste ponto da história.
Ao comando do Falso Cristo, homens e mulheres derramaram sangue sob a bandeira do cristianismo mais uma vez, matando a todos pelo caminho que não se juntavam a causa de seu mestre. A Terceira Guerra Mundial foi a pior de todas as guerras da humanidade, nação se levantou contra nação, reino contra reino, pai contra filho, filho contra o pai. A destruição em massa quase consumiu completamente o planeta, até que a verdadeira natureza dos invasores foi finalmente revelada. Impostores, seres que esperavam diminuir nosso volume populacional e poder de guerra para dominar nossa espécie.
No fim, a humanidade derrotou o verdadeiro inimigo, entretanto, as condições de vida do planeta Terra tornaram-se instáveis. A humanidade precisou partir em busca de um novo lar, em naves que carregavam os sobreviventes da guerra, através do misterioso Portal Celestial deixado para trás, encontrando assim um lar radioativo, repleto de bestas monstruosas e possibilidades da criação de super humanos, o que até então era considerado impossível. A procura trouxe meus ancestrais até aqui, Aruna.
A construção da nova civilização, as divisões políticas, as ambições humanas, a repetição infinita dos mesmos erros da espécie em um loop atemporal me trouxeram até este ponto.
Neste instante, os olhos azuis do príncipe expressam uma frieza assustadora, fixando o olhar em minhas mãos sujas do sangue da realeza, sujas de morte. Espalmadas em cima do peito de um homem cujo espírito já se foi, embora seus olhos castanhos claros ainda estejam abertos, opacos, a uma vida de distância da expressão de outrora. Ele se foi.
Ao erguer o olhar em minha direção novamente as retinas do príncipe ardem como as faíscas de um fósforo antes de ser atirado em um caminhão de gasolina. O guerreiro puxa ar por suas narinas, cerrando os dentes e seu corpo treme, não pelo luto, não por algo que espelhe um sentimento de vulnerabilidade, pelo contrário, como de um animal selvagem que anseia fervorosamente pelo momento de rasgar a presa. A obstinação de um assassino sangue frio é a última coisa que vejo em seus olhos antes de ele explodir em violência.
Não vejo mais o príncipe diante de mim, todavia, o infame Algoz.
A pior das tragédias é que eu sei que meu amado, meu grande amor, irá me matar.
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Saga Serena - Fé e Vingança (Degustação)
SpiritualitéEm um futuro hostil às religiões, Serena Iglesias, uma cristã, arrisca a sua vida ao viajar para um reino fascista onde seu pai foi morto injustamente, tendo que sobreviver aos desafios do colegial elitista e resistir a paixão que sente pelo irrever...