Os Esqueletos

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Ao atravessar a saída eu não parava de sorrir, mesmo que eu só conseguisse pensar na minha fome e no quão frio aquele lugar era.

O caminho estava coberto por neve, e grandes árvores faziam um som estranho e tenebroso quando batia aquela mesma brisa gelada que eu sentia do outro lado, a diferença é que agora ela era bem mais forte e fria.

"Nós conseguimos" disse Flowey olhando para frente com os olhos marejados e um sorriso num misto de alívio com algo como esperança e cansaço.

"Nós conseguimos" eu afirmei com segurança como se tivesse tentando convencer a nós dois de que tínhamos passado pelo grande e insano monstro.

Acho que a nossa ficha não tinha caído ainda, até que eu comecei a sentir muito frio e continuei andando e imaginando que em algum lugar por ali seria bom para dar uma pausa e descansar, pelo menos um pouco.

O caminho era tão quieto e estranhamente aconchegante que, talvez, pela emoção do momento, eu me senti como se estivesse em casa.

Até que uma neblina baixou, me deixando com muito frio, e eu olhei em volta procurando algum abrigo ou coisa parecida, quando eu vi uma silhueta estranha atrás de mim, mas com a força da neblina eu logo perdi de vista a sombra.

Talvez fossem só uns Froggits ou coisa parecida; me contentei com a possibilidade e decidi seguir meu rumo, mas, pouco a frente, eu e Flowey ouvimos um graveto sendo quebrado, como se alguém tivesse pisado nele.

Eu me virei rapidamente e "O que foi isso?" Flowey perguntava enquanto meu sangue gelava por completo.

Eu saí correndo até que encontrei uma ponte de madeira, e, na frente dela tinham dois esqueletos vestidos com roupas estranhas.

Um deles usava uma jaqueta preta e amarela, um suéter vermelho de lã e uma bermuda, também preta e amarela; ele calçava um par de tênis vermelhos e tinha um colar de estrela no pescoço, seus dentes eram bem afiados e um deles era dourado, suas íris eram vermelhas e ele usava cachecol preto e vermelho.

O outro vestia uma blusa curta, preta, com as mangas tão rasgadas que pareciam até afiadas, usava um tipo de lenço vermelho bem pequeno no pescoço e luvas longas e botas, também vermelhas, além de uma calça preta e um cinto.

O menor deles se pronunciou dizendo, com uma expressão de determinação no rosto "Eu faço isso." Estendendo sua mão ao mesmo tempo em que uma de suas íris tinha se apagado e a outra soltava uma fumaça na mesma cor vermelha do olho do esqueleto.

Eu senti meus pés serem puxados levemente do chão, e, antes que algo de ruim pudesse acontecer, o esqueleto que parecia estar usando uma fantasia, disse com os olhos fixados em mim, "Sans, você precisa parar com essas ações violentas."

Logo em seguida, o esqueleto de casaco me colocou no chão, e eu senti minhas pernas formigando e Flowey tremendo. Eu nunca mais queria sentir isso pelo resto da minha vida.

Os esqueletos voltaram a falar, ainda nos encarando com rigidez nos 'olhos'. "O que foi que eu disse sobre esse seu comportamento?" Perguntou o esqueleto fantasiado. "Você sabe que eu tô cagando, né?!" respondeu o outro esqueleto, com irreverência e algo parecido com...desapontamento? Tristeza?

"Você precisa de dignidade, irmão." disse o grandão com orgulho de si mesmo. "Precisa de honra e dignidade." O outro esqueleto passou a olhar para o nada com a mesma expressão sem fazer o menor ruído, então o grandão continuou falando "De qualquer forma, isso é sobre matar o humano e a florzinha dele."

Flowey congela de medo, oque me faz querer reconfortá-lo, falando em sussurros, eu disse "Vai ficar tudo bem Flowey." por sorte, o grandão não reagiu de forma agressiva nem nada parecido, ele apenas me encarou com raiva.

"E você sabe que eu queria ter essa honra." Disse ele enquanto me olhava com uma felicidade estranha. "Eu vou matar um humano e, finalmente, entrar para a guarda real."

Um silêncio muito desconfortável me fazia sentir cada vez mais frio, meus lábios estavam roxos, minha pele acinzentada e meus corpo parecia muito mais pesado do que antes; eu, realmente, não teria descanso nenhum por ali.

Aos poucos eu me encolhi de frio e fiquei agachada, abraçando meus joelhos, enquanto os dois esqueletos me olhavam em silêncio, esperando alguma reação a mais, mas eu só conseguia pensar que acabaria morrendo congelada enquanto eles me encaravam.

O meu corpo foi ficando mais pesado até o ponto em que eu perdi o meu equilíbrio e caí no chão cheio de neve; o grandão parecia cansado de ficar me observando e virou suas costas para ir embora, quando me disse "Vamos lutar quando você não estiver a beira da morte." e se afastou alguns bons passos.

Antes de se juntar ao esqueleto fantasiado, o outro esqueleto me jogou o seu casaco e foi embora.

A Flor Mais Gentil Do SubsoloOnde histórias criam vida. Descubra agora