Capítulo 6

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É difícil descrever o que sintia, é como ser um peixe fora d'água, aquele não era o meu habitat natural, não conhecia aquelas pessoas que se diziam ser minha família.
Eu sabia que eles estavam se esforçando para me receber, entretanto parecia tão errado.

- Tem namorado, Juliana? - Sou tirada dos meus pensamentos por Camilla.

- Não tenho, não saio muito de casa. - Tomei cuidado com a resposta.

Camilla começa a rir, Rayane a acompanha, me senti um pouco constrangida e insegura, eu não havia feito nada a mesma.

- Não seja malvada, Milla! - Catarina me defende.

Após conversar com meu "pai" tentei fazer algum vínculo com as pessoas, mas estava sendo difícil, Rayane era a seguidora fiel de Camilla, Catarina por mais peculiar que possa parecer era muito gentil.
Dandara iria rir desse momento, diria que já consegui ser odiada sem nem falar uma palavra.
Camilla se sentia ameaçada, era o que eu acreditava, talvez achasse que a mãe dela me daria mais atenção ou qualquer coisa do tipo.
Aquela família era estranha, disso eu tinha noção, mas por que minha tia pediu para que eu andasse com uma canivete?
Se eles tinham uma boa situação, por que moravam na favela? A casa era grande, a ambiente era bem amplo e confortável.

- Malvada? Não, sincera! Ela deve ser a maior rodada, por isso ninguém quer essa puta! - Camilla falou aquelas palavras na minha cara.

Nunca fui muito violenta, sempre deixava para Dandara a inconsequência. Mas ali, naquele momento, eu queria dá um terrível soco no rosto da Camilla.

- A cadelinha ficou quieta! Pra que tanto dinheiro se nem sabe se proteger? - Rayane deu corda.

- Não vou te bater. - Falo de forma clara a Camilla. - Você vai se machucar.

Não fiquei pra ouvir o resto, eu saí, deixei todo mundo pra trás, sem me importar com os olhares.
Entrei na casa e desci as escadas, andei até encontrar a sala espaçosa, me sentei no sofá e encarando o nada.
Eu não queria chorar! Eu era forte! Mas por que palavras de uma pessoa que eu nunca vi na vida machucavam tanto?
Eu não sabia! Me imundei na melancólica como sempre fiz, dessa vez não havia ninguém que eu pudesse me tirar de lá.
O que estava fazendo aqui?
Entre tantos pensamentos me lembrei de uma frase: "Por trás de uma pessoa que machuca, há sempre uma pessoa machucada".
Não me lembrava do Autor, mas a frase foi perfeita.
Entendi que não devia julgar Camilla, as pessoas tem defeitos, então é mais fácil apontar para os erros dos outros do que apontar para os próprios.
Amadurer dói, amadurecer significa ser cuidadoso com o que diz, repeitar o que ouve e refletir sobre o que pensa, mas acima de tudo, significa crescer e voar com as próprias asas.
Eu podia voltar e jogar tudo na cara dela, mas eu não sei o que se passa em sua vida, sei como é ter pessoas te julgando e te ferindo o tempo todo.
Eu cresci assim, num lugar onde todos sorriem e dão batidinhas em suas costas, mas no fundo querem ver sua destruição, é um jogo.
O jogo do Poder, ninguém é seu amigo, não há família, não há ninguém, confie em si mesmo, apenas em si mesmo...
Joguei a minha vida toda, e não seria hoje o meu dia de perder, vivia em meio a tubarões, mas eu era um tubarão, não uma sardinha...

- Você está bem? - Uma voz interrompe meus pensamentos.

Era Catarina, assim como a família tinha cabelos loiros mas os olhos eram cor de mel.

- Estou sim, obrigada pela preocupação. - Sorriso falso.

- Não fique chateada com a Milla, estávamos ansiosos pra te receber. - Eu não estava para vim.

- Serei sincera com você Catarina, sei que não tem culpa. Mas não ficarei em um lugar onde não sou bem vinda.

- Você é bem vinda aqui. Não dá bola pra Milla... Tia Emilly e Tio Rafael fizeram muita coisa pra você está aqui. - Ela sorrir. - Vamos subir, não deixarei Camilla te incomodar mais.

Me pergunto se Catarina é gentil ou ela está tentando enfiar uma faca na minhas costas, isso não tem tanta importância agora.
Reuno minha forças e subo as escadas com cabeça erguida, eu sou Juliana Fernandes, e ninguém poderá me humilhar.
Abro a porta novamente, Camilla havia ganhado a batalha mas não a Guerra.

• • •

Passei a tarde na mesa de Brena, trocamos até mesmo WhatsApp, a comida estava deliciosa.
Camilla não me incomodou. Mas eu não conseguia tirar ela da minha cabeça. O que ela tinha?
Eu não sou uma mimadinha rica, nem nunca fui. Tenho culpa por ter um sobrenome importante? Ou uma herança bilionária? Não!
Por que isso estava me incomodando tanto? Todo mundo me acha perfeita, eu aprendi a esconder minhas cicatrizes com sorrisos.
Aprendi a ser quem eles querem que eu seja, uma boa aluna, uma boa filha e uma boa herdeira.
Mas por que as vezes eu me sentia tão vazia? Eu tenho tudo! Tudo! Dinheiro, poder, família e saúde. O que eu queria? Melhor, o que eu precisava?
Tentei parar de pensar, tentei com afincor, mas era atormentada. Minha mente não parava.

- Você gosta de Grey's anatomy? - Me pergunta Victor enquanto senta ao meu lado no sofá da sala.

- Sim. - As pessoas já tinham ido embora. - Victor, por que só me procuraram agora?

Eu estava chateada, eles simplesmente me deixaram e 15 amos depois voltaram, achando que tinham o direito de me arrancar de casa.
Como se eu fosse uma criancinha sem rumo!

- Sei que mó chato, mas falando sério, nem eu sei. - Ele diz enquanto coça a cabeça. Era um sinal que ele estava nervoso.

- Eu não pertenço a esse mundo... Não quero te magoar nem nada, só não acho que me enquadro aqui. - Confesso.

- Acontece, mas vou pedi pra amanhã algum menor, te levar pra dá um rolê pela favela, tu vai gostar, papo reto. - Ele fala enquanto parece resolver algo pelo celular.

- Menor? - Que tipo de coisa era aquilo?

- As vezes esqueço que tu não é daqui. - Ele rir. - É uma forma como chamamos os meninos daqui, nossos pais vão explicar melhor depois.

- Tudo bem, então. - Relaxei ali naquela sofá.

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Desculpa pela demora!
Mas, estava viajando e já voltei e assim que puder já irei postar.
Quero agradecer aqueles que leram os capítulos, é algo muito importante pra mim e estou começando a escrever agora porém estou cheia de esperança.

Filha do morroOnde histórias criam vida. Descubra agora