Capítulo 8

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    Se eles tinham dinheiro, por que eu estava aqui? Talvez fosse uma forma de manter meus pais na linha.
            Mas, por que?
Muitas perguntas e nenhuma resposta.

  — Patricinha, vamos. — Chamou Bacalhau, algo o incomodava.

   — Eu não sou Patricinha. — Não era mesmo. Fechei a porta quando saí. — Aonde será nossa primeira parada?

   — Só tu mesmo, Princesinha. — Por alguns segundos parece que aquele peso que Bacalhau carregava se esvaiu.

   Não reclamei por esse motivo, ele precisava de um ombro amigo.
   Dei um leve sorriso, ele tinha uma cara mau, mas aparentemente era tranquilo, a dúvida ainda rondava mente, me perseguindo e perturbando.
    Não saber o motivo de está aqui, e isso me deixa inquieta.
   
    — Vamos ver algo especial. Vou te levar pra conhecer a pracinha. — Ele diz.

    Ele foi saindo da casa e eu observei o ambiente, ontem eu não havia visto a piscina, hoje ela parece mais notória.
   Bacalhau abriu o portão e saiu, imaginei que fossemos de carro ou mesmo a pé. Mas quando ele subiu em uma moto, senti que todos os meus receios estavam confirmados.
   
    — A gente podia ir de carro. — Eu digo.

    — Não. Vai perder toda a graça, prometo que não vou deixar você cair. — Ele dá aquele sorriso que conquista qualquer pessoa.

   Num momento de coragem subi na moto, passei meus braços ao redor de bacalhau, era uma experiência totalmente diferente.
    Eu jamais faria isso antes, Dandara faria, mas eu não. Entretanto esse lugar me faz ser diferente. As coisas seriam diferentes, minha mãe não estava aqui para me obrigar a nada.
    Eu senti a moto pegar impulso e subir mais o morro, eu sempre tive um preconceito com a favela, imaginava que era um lugar ruim e cheio de violência.
    Havia pessoas passando pelas ruas, algumas nos olhavam de cara feia, enquanto outras pareciam simpáticas.
    Sentia o vento bater no meu rosto, meu cabelos voavam, era uma sensação tão grande de liberdade.
    Bacalhau parecia está se divertindo também, ele era habilidoso, como se já estivesse acostumado a fazer isso.
     Paramos perto de uma praça como ele havia dito, desci da moto e esperei o mesmo fazer.

      — Não é muito longe da sua casa, dá pra vir a pé. — Ele me diz. — É um lugar tranquilo, mas se alguém te incomodar, diz que você é a irmã mais nova do VH.

    — Tudo bem. — Victor Hugo também era um bandido? Parecia ser um menino bom. — Quem poderia me incomodar?

   — As putas desde morro, logo vai conhecê-las. — Me responde uma voz do nada.

    Era a Catarina.

    Catarina é a prima da Camilla, as duas não se dão tão bem, pesquisei sobre elas ontem no Facebook.
    
   — Que susto, Loirinha. — Diz Bacalhau rindo. — Estou mostrando o morro para a Juliana.

     — Que bom! — Ela sorri levemente, era um sorriso falso, não chegou aos seus olhos.

   Um telefone começa a tocar, era o do Bacalhau que atendeu e parecia preocupado.
   
    — Que merda tá acontecendo?! — Pergunta Catarina direta.

   — Alemãos, os cara tão invadindo. Leva ela pra sua casa e só sai depois que isso acabar. — Ele manda.

    Disparos foram ouvidos, as pessoas que andam pela ruas começaram a correr de um lado pro outro, fogos pareciam ser disparados, tudo aconteceu muito rápido.
    Quando eu percebi Catarina havia pego minha mão e começamos a correr, não tínhamos um rumo entramos em uma casa que parecia aberta.
   Mais tiros foram disparados, não parava, era um cenário de guerra, nunca precisei passar por algo assim.
    Catarina entrou dentro daquela casa, invadindo como se fosse sua, eu a segui, não estava pensando muito bem.

     — Tia Heloísa fica calma. — Catarina dizia a uma mulher que estava jogada no chão da sala

    Eu a conheci ontem, se não me engano era a irmã do Senhor Rafael, ela era casada com o Senhor Daniel.
    Foram simpáticos comigo

    — O meu filho tá lá fora! — Ela chorava enquanto dizia as palavras de forma embaralhadas.

     — O Gabriel sempre volta, ele vai voltar não se preocupe. — Ela tenta confortar Heloísa.

     Uma menina entra na sala com um copo d'água, vi a cena sem me intrometer, não era daqui.
   
      — Mãe, fica calma. Biel vai voltar! — A menina fala confortando ela.

    Heloísa chorava mais e mais, os disparos pareceriam se aproximar.
    Elas queriam leva-la para dentro, imagino que seja para descansar, aquela situação estava me deixando nervosa.

     — Heloísa, não conheço Gabriel, mas eu sei que ele vai querer ver a mãe quando chegar. Seu filho não vai gostar de te ver nesse estado! — Disse a ela de maneira firme.
 
       Heloísa olhou pra mim, como se lembrasse de algumas coisa, mas se levantou com ajuda da Catarina.

   — Obrigada! Eu sou a Jennifer. —  A menina me agradece, ela estava nervosa, ela bebeu a água que havia trago.

     — Me chamo Juliana Fernandez, Senhora Heloísa é a sua mãe? — Eu a pergunto.

    — Sim. — Ela responde com um suspiro cansada enquanto se senta no sofá. — Você fala de forma engraçada.

    — Desculpe, eu tive muitas aulas de etiquetas durante a infância. —  Me explico, Jennifer parecia até legal.

    — Não se desculpe, você vai se acostumar rápido. — Ela diz um sorriso gentil, parecia cansada.

      — Espero que sim... — Respondo.

    O silêncio que se seguiu não era pesado, estávamos pensando em vários coisas.
     As coisas aqui eram intensas, me pergunto se as histórias que ouvi também são verdadeiras.
    
   Desculpa pela demora!
O que vocês estão achando?

Filha do morroOnde histórias criam vida. Descubra agora