III. Aprisionados

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– Abra a porta! – ordenou a mulher ao jovem branco sentado num rolete de madeira a afiar uma forquilha.

– Feito – respondeu monocórdico.

Com a porta aberta, Lily contorceu-se para tentar fugir, enquanto Rory ficou imobilizado pelo medo. No interior, grades uniam o teto ao chão e o passadiço separava aquilo que seriam duas celas cheias de pessoas magras e acanhadas.

Um dos prisioneiros colocou a cabeça entre as grades para ver quem entrava. O seu olhar era tão triste quanto o silêncio medonho que se fazia sentir naquele lugar. Nenhum dos prisioneiros tentou barafustar ou mexer-se, exceto aquele homem já com alguma idade. As suas roupas estavam esfarrapadas e sujas, e os seus sapatos apresentavam o mesmo desgaste de tantos outros prisioneiros dali.

Lily e Rory foram atirados para a mesma cela, mesmo em frente àquela onde se encontrava o homem.

– Porquê? – esperneou Lily mais uma vez. Não lhe parecia justo ou correto o que estava ali a acontecer.

– Silêncio! – disse a mulher entre dentes.

O jovem branco apertou a forquilha com força e lançou um olhar ameaçador que fez Lily temer pela sua vida. Ela achou então que o melhor seria não se manifestar e ficar quieta.

A mulher fechou a porta da cela com uma corrente e um cadeado. No momento em que o fazia não conseguiu conter um olhar de ternura em direção a Lily.

– Vamos – ordenou depois ao jovem, atravessando a porta de saída com aparente pressa.

Enquanto a mulher se afastava, o jovem deixou a porta aberta e sentou-se no tronco para voltar ao que estava a fazer antes de ela chegar.

Lily ficou cabisbaixa, num canto, agarrada às suas pernas. "Não devia ter ouvido o Rory" – pensava furiosa.

Rory permaneceu triste e silencioso junto às grades, observando com cuidado a sua esperança a desaparecer nos rostos de cada um dos prisioneiros. Ele continuou naquele estado de tormento até que Lily se acalmou e começou a perguntar-se porque estavam todos tão quietos. Erguendo a cabeça, ela reparou finalmente no homem com a cabeça entre as grades. Ela levantou-se para se aproximar dele, mas alguém a agarrou pelo braço.

– Não – pediu-lhe uma voz rouca e trémula.

– Porquê? – perguntou Lily à mulher sentada no chão que a tinha agarrado.

– Ele tem o olhar preso noutro mundo. O colar que vês em torno do pescoço dele é um presente para aqueles que estão prestes a tornar-se num sacrifício.

– Colar? Sacrifício? Como assim? – indagou, percebendo o brilho discreto da pedra azul-escuro que pendia por entre os buracos da camisa do homem.

– O colar que te permite viver os teus maiores sonhos... para lavar o corpo e a mente dos tormentos, fracassos e arrependimentos. É uma prenda oferecida em troca da vida.

– Porque o vão sacrificar?

– Para acalmar a ira daquele que tu acordaste.

– Que eu acordei? Como assim? Quem é ele... o ser do mito? Ele é real? Todos os que estão aqui vão servir como sacrifício?

Uma outra senhora deu uma cotovelada à prisioneira que estava a conversar com Lily.

– Já falei demais... desculpa – disse a prisioneira, calando-se.

– Não, por favor. Eu preciso de saber!

Lily insistiu mais uma vez, mas a prisioneira, que deu a cotovelada à outra, lançou-lhe um olhar tão ou mais ameaçador do que o do jovem branco. Ela encolheu-se e foi para junto do amigo. Depois de momentos de silêncio, decidiu engolir o orgulho e falou:

Etéreo: Vila SuspensaOnde histórias criam vida. Descubra agora