– Abra a porta! – ordenou a mulher ao jovem branco sentado num rolete de madeira a afiar uma forquilha.
– Feito – respondeu monocórdico.
Com a porta aberta, Lily contorceu-se para tentar fugir, enquanto Rory ficou imobilizado pelo medo. No interior, grades uniam o teto ao chão e o passadiço separava aquilo que seriam duas celas cheias de pessoas magras e acanhadas.
Um dos prisioneiros colocou a cabeça entre as grades para ver quem entrava. O seu olhar era tão triste quanto o silêncio medonho que se fazia sentir naquele lugar. Nenhum dos prisioneiros tentou barafustar ou mexer-se, exceto aquele homem já com alguma idade. As suas roupas estavam esfarrapadas e sujas, e os seus sapatos apresentavam o mesmo desgaste de tantos outros prisioneiros dali.
Lily e Rory foram atirados para a mesma cela, mesmo em frente àquela onde se encontrava o homem.
– Porquê? – esperneou Lily mais uma vez. Não lhe parecia justo ou correto o que estava ali a acontecer.
– Silêncio! – disse a mulher entre dentes.
O jovem branco apertou a forquilha com força e lançou um olhar ameaçador que fez Lily temer pela sua vida. Ela achou então que o melhor seria não se manifestar e ficar quieta.
A mulher fechou a porta da cela com uma corrente e um cadeado. No momento em que o fazia não conseguiu conter um olhar de ternura em direção a Lily.
– Vamos – ordenou depois ao jovem, atravessando a porta de saída com aparente pressa.
Enquanto a mulher se afastava, o jovem deixou a porta aberta e sentou-se no tronco para voltar ao que estava a fazer antes de ela chegar.
Lily ficou cabisbaixa, num canto, agarrada às suas pernas. "Não devia ter ouvido o Rory" – pensava furiosa.
Rory permaneceu triste e silencioso junto às grades, observando com cuidado a sua esperança a desaparecer nos rostos de cada um dos prisioneiros. Ele continuou naquele estado de tormento até que Lily se acalmou e começou a perguntar-se porque estavam todos tão quietos. Erguendo a cabeça, ela reparou finalmente no homem com a cabeça entre as grades. Ela levantou-se para se aproximar dele, mas alguém a agarrou pelo braço.
– Não – pediu-lhe uma voz rouca e trémula.
– Porquê? – perguntou Lily à mulher sentada no chão que a tinha agarrado.
– Ele tem o olhar preso noutro mundo. O colar que vês em torno do pescoço dele é um presente para aqueles que estão prestes a tornar-se num sacrifício.
– Colar? Sacrifício? Como assim? – indagou, percebendo o brilho discreto da pedra azul-escuro que pendia por entre os buracos da camisa do homem.
– O colar que te permite viver os teus maiores sonhos... para lavar o corpo e a mente dos tormentos, fracassos e arrependimentos. É uma prenda oferecida em troca da vida.
– Porque o vão sacrificar?
– Para acalmar a ira daquele que tu acordaste.
– Que eu acordei? Como assim? Quem é ele... o ser do mito? Ele é real? Todos os que estão aqui vão servir como sacrifício?
Uma outra senhora deu uma cotovelada à prisioneira que estava a conversar com Lily.
– Já falei demais... desculpa – disse a prisioneira, calando-se.
– Não, por favor. Eu preciso de saber!
Lily insistiu mais uma vez, mas a prisioneira, que deu a cotovelada à outra, lançou-lhe um olhar tão ou mais ameaçador do que o do jovem branco. Ela encolheu-se e foi para junto do amigo. Depois de momentos de silêncio, decidiu engolir o orgulho e falou:
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Etéreo: Vila Suspensa
Teen FictionLilith Smith é uma menina de quinze anos, magra e não muito alta. Os seus olhos verdes sobressaem entre os cabelos negros e despenteados que lhe cobrem parte do rosto. Ela mora debaixo de um teto modesto com a sua mãe, pai, irmã e irmão. Apesar de g...