A Praia

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Henry havia acordado a pouco tempo, e estava sentado no que parecia ser uma canoa, tentando entender o que estava acontecendo.

Não se lembrava de quase nada, exceto o fato de que antes de apagar se viu coberto de um líquido púrpura e, suas cicatrizes nos pulsos doíam.

Após de recuperar da tontura, levantou-se e percebeu que já não se sentia mais tão enjoado.

A canoa finalmente havia chegado em terra firme.

Henry se sentiu meio receoso à ideia de pular para fora da canoa, pois mesmo que não se lembrasse de nada, sentia que coisas ruins aconteceriam se ele saísse.

Mas após horas sem conseguir pensar no que fazer, decidiu pular para fora.

Se surpreendeu ao ver um mar azul ciano, lindo como as praias de Porto de Galinhas, um destino turístico localizado no nordeste brasileiro, que Henry havia visitado quando tinha 14 anos.

Olhou para o céu, que curiosamente ostentava uma cor meio dourada e ao mesmo tempo rosa, próxima de um areia-rosa.

Além disso, milhares de estrelas adornavam este céu, com seu brilho fraco refletindo na água do oceano.

Henry resolveu andar um pouco pela praia, que tinha a areia da mesma cor do céu, e era uma areia extremamente fofa.

Henry lembrou-se dos abraços de seu melhor amigo, Erik Bueno, e de quando conversava com seu amigo virtual, Luã.

Sentia saudade de sua vida anterior, e queria logo sair desse sonho maluco que estava vivendo.

(Mal sabia Henry que essa era sua realidade, e não estava sonhando, e sim morto)

Henry andou um pouco mais e encontrou uma série de palmeiras enfileiradas em duas colunas, como que fazendo parte de alguma entrada chique para algum lugar mata adentro.

Ao se aproximar notou que havia um caminho feito de pedras brancas entre as palmeiras, e esse caminho levava até o que parecia ser um templo, feito de pedras também brancas.

Haviam quatro torres de aproximadamente vinte e cinco metros de altura, e no meio havia uma abóbada areia-rosa, que brilhava muito.

As palmeiras tinham seu caule branco, e suas folhas eram douradas, e cada uma tinha mais ou menos doze metros de altura.

Ao longo de todo o caminho havia uma série de braseiros de bronze apagados dos dois lados.

Eles estavam dispostos a uma distância de mais ou menos 3 metros entre um e outro.

Quando Henry adentrou a trilha de pedras brancas, e começou a andar em direção ao templo, o dia rapidamente escureceu.

Porém ao invés do céu tomar um tom negro, se tornou um rosé mais escuro.

Henry estava maravilhado com tudo aquilo, e as coisas ruins que sempre permeavam a sua mente pareciam não existir mais.

Tudo que vinha na sua mente no momento eram as lembranças alegres de quando conversava com seus amigos, saía com eles para lanchar ou os levava em sua casa para jogar videogame.

Tudo isso aquecia seu coração, e ele se sentia muito bem naquele ambiente.

Conforme Henry ia passando pelos braseiros de bronze, estes se acendiam para iluminar o seu caminho.

Quando Henry olhou ao redor, percebeu que roseiras cresciam rapidamente e enfeitavam ainda mais o caminho majestoso e branco.

Pétalas de rosa na cor areia-rosa começavam a cair aos poucos do céu, e enchiam o caminho de Henry, que não via a hora de contar tudo aquilo para Erik, Ana Julia e Luã e trazer eles para aquele lugar incrível.

Quando Henry finalmente chegou ao fim da trilha, se deparou com dois enormes portões dourados, e neles estavam gravados uma série de frases e nomes numa grafia estranha, que começava a se modificar para a língua de Henry conforme ele se aproximava.

Quando estava perto o suficiente para tocar as portas, conseguiu finalmente ler o que estava escrito.

Era uma série de centenas de nomes de pessoas boas que passaram por sua vida, e de frases carinhosas e carregadas de amor que seus amigos proferiram a ele durante sua vida.

Henry sentou-se e ficou lendo e admirando as portas por horas, e lágrimas começaram a escorrer de seu rosto.

Henry nunca na havia se sentido querido ou amado por alguém em toda a sua vida, e agora ele experimentava essa sensação pela primeira vez.

Era quase como se pudesse sentir o toque quente e o abraço de todos os que estavam nomeados ali, e Henry imediatamente se levantou e resolveu abrir as portas do recinto.

Ao tocar as portas, elas se abriram imediatamente, e quando Henry entrou lá, viu-se no centro de um salão rosado, cercado por colunas gregas de mármore rosa.

Eram os pilares que sustentavam a vida das pessoas, e as impediam de se machucar.

Os pilares que sustentavam as almas dos vivos quando nem eles conseguiam mais se segurar.

Ao todo eram sete: O pilar do amor, o da alegria, o da confiança, o do carinho, o da amizade, o da paixão, e o da paz.

Juntos eles sustentavam a estrutura do templo, que se chamava Humanidade. 

(Esqueci de mencionar, mas o nome estava escrito numa placa de bronze acima das portas da entrada, do lado de fora)

Tudo aquilo tinha um significado importante, já que aquele templo representava tudo que segurava e mantinha a raça humana.

O homem é persistente, forte, tende a se recuperar de traumas sofridos, e mesmo cheio de cicatrizes continua pensando sempre no melhor.

A raça humana tem tudo de ruim.

A morte, a violência, o roubo, o adultério, o abandono, e tantos outros males foram originados e são praticados por humanos todos os dias.

Mas a principal característica do homem é, que mesmo que só haja o mal nele, ele segue acreditando que um dia vai fazer o bem, e esse templo é o que sustenta esse ideal.

O homem tenta melhorar todos os dias, seja por alguém que ama, ou por si mesmo.

Todos praticamos o mal sempre, as vezes até sem perceber.

Mas não muda o fato de que queremos sempre corrigir os nossos erros e lutar por algo melhor.

Henry deitou-se, e admirou pela abóbada de vidro o último resquício do sol rosado se despedindo do dia.


Quando finalmente adormeceu, tudo se apagou.

Por um instante, deixou de existir, assim como tudo que aconteceu antes.

E na mesma velocidade que tudo se foi, tudo se refez, mas de outra forma.

Acalme-se pequeno Henry, pois sua jornada acaba de começar.

Você acaba de adentrar o limbo, e já sente os efeitos desse lugar de reflexão.


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