Após dias e dias andando (aparentemente em círculos), Henry resolveu parar um pouco para descansar.
Só se lembra de ter acordado no meio de uma floresta branca durante a noite.
As árvores eram brancas, e suas folhas também.
Salgueiros, carvalhos e pinheiros.
Uma combinação não tão comum para uma floresta, mas como estamos falando do limbo, está tudo normal até demais.
No centro da floresta havia uma clareira, toda preenchida por uma vegetação rasteira dourada, e a fonte de um pequeno riacho também se encontrava lá.
A água era de uma cor próxima ao magenta (para os que não conhecem, é como um rosa), e havia dois peixes que nadavam sempre juntos: Paixão e Ódio.
Eles nunca se distanciavam, mas nunca se aproximavam de mais.
Se atraíam, mas ao mesmo tempo se repeliam.
Paixão era vermelho, um vermelho sangue, imponente.
Ódio era vermelho púrpura, e envenenava os corações dos homens.
Esses dois sentimentos são extremamente próximos, e é perigoso manuseá-los.
Eles são completamente opostos e ao mesmo tempo tem tudo em comum.
São um paradoxo perfeito, e afetam as vidas de qualquer ser humano.
Henry fora dominado pelos dois durante toda a sua vida, e frequentemente sentava-se durante a noite para observar os dois peixes nadando em par.
E lembrou-se das inúmeras pessoas que conheceu durante sua vida, duas em especial.
A primeira chama-se Victor, e é o exemplo perfeito de uma paixão que converteu-se em ódio.
Já Rogério era o caso oposto, pois tudo que Henry sentia por ele era o mais puro ódio, que aos poucos transformou-se em amor.
Tudo isso nos leva a pensar sobre tudo, e sobre como não vale a pena descartar os outros por um amor, afinal de contas amanhã você pode brigar com essa pessoa e passar a odiá-la, além de ter perdido todos por ela.
Assim como não vale a pena se dedicar tanto para odiar e destruir alguém, já que amanhã você pode passar a ver esta pessoa com outros olhos e amá-la.
Como eu disse no início, a Paixão e o Ódio são sentimentos extremamente próximos.
Mesmo que você sinta apenas um deles por determinada pessoa, ainda assim acabará fluindo entre um sentimento e outro, já que não há como distinguir um do outro.
A mesma essência se divide e causa efeitos diferentes.
Os dois causam obsessão, os dois machucam as pessoas, e os dois matam.
Finalmente, Henry começara a perceber onde estava.
Finalmente, Henry compreendia que tinha algo para aprender ali.
Mas não poderia se dar ao luxo de aproveitar toda esta sabedoria.
Quando amanheceu, voltou a buscar caminhos para fora dali, e novamente se frustrou ao não encontrar nada.
Porém, não conseguiu voltar.
Ao dar meia volta em direção a clareira, como fazia todos os dias, o caminho a sua frente se fechou.
Cinzas começavam a cair sobre seu rosto, e o céu dourado começava a tomar um tom mais alaranjado.
O cheiro da fumaça já invadia suas narinas, e Henry não compreendia o que estava acontecendo.
Estava tudo tão bem, mas agora tudo iria desmoronar novamente.
As chamas começaram a consumir toda a floresta, e as árvores albinas, que armazenavam milênios em pura sabedoria, se transformavam aos montes em pilhas de cinza e brasa.
Henry tentou correr, mas ao olhar ao redor percebeu que o fogo o cercava.
Gritava por socorro, e estava afundando no desespero.
As chamas estavam cada vez mais próximas, e seu corpo já estava todo molhado de suor.
O calor era grande demais, e quando percebeu, o fogo já tocava-lhe as pernas e braços.
Era uma dor indescritível, e seus tecidos do corpo se destruíam com a intensa temperatura, e seus músculos estavam expostos.
Sua carne formava bolhas e mais bolhas, e seu rosto se desfigurava.
Henry já estava caído no chão nesse momento, e seus ossos já se tornavam visíveis.
Tentava chorar e agonizava de dor, tentava gritar mas suas cordas vocais já eram consumidas pelas chamas.
Nunca havia sentido tanta dor.
E simplesmente, apagou.
Tanto o fogo do incêndio, quanto as chamas da vida que algum dia sopraram dentro de seu peito.
E novamente, encontrava-se morto.
Seu corpo agora era irreconhecível, e não havia restado nada além de uma pilha de ossos com pedaços de carne queimada, dispostos aleatoriamente por seu esqueleto.
Quando finalmente se esvaiu, tudo se apagou.
Por um instante, deixou de existir, assim como tudo que aconteceu antes.
E na mesma velocidade que tudo se foi, tudo se refez, mas de outra forma.
Acalme-se pequeno Henry, pois sua jornada começou a pouco.
Você se encontra dentro do limbo, e continuará morrendo mesmo estando morto.
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A Passarela
Teen FictionExiste o bem, e existe o mal. Existe céu, e existe inferno. Existe a infância, e existe a juventude. Existe a fase adulta, e existe a velhice. Existe o nascimento, e existe a morte. Existe o tempo, e existe o espaço. Existe a dor, e existe o prazer...