1

667 48 42
                                    

Esperava pela presença de seu garoto perfeito, apesar de nunca ter visto seu rosto, ele parecia ser sua única salvação da realidade, onde seus pais se odiavam e descontavam a frustração da sua recente separação em Benjamin. A casa da árvore nunca foi um refúgio tão necessário quanto se tornou atualmente.
   

   Lembrava-se de quando as brigas eram raras e de quando seu pai o colocava na cama todos os dias, mas agora ele nem ao menos estava mais lá. Havia se mudado para uma casa maior, com uma pessoa diferente, isso o fazia querer detesta-lo, o que era muito estranho supondo que seu pai sempre foi seu maior herói. Para Benjamin, o problema não era seu pai estar trocando sua mãe daquela maneira por um homem, já que entendia como seus avós tinham sido com o pobre homem e que aquele casamento tinha sido arranjado, o único problema era ele deixá-lo ali com ela. Sarina nunca foi uma mãe carinhosa, apesar de não ser uma megera, sempre foi mais dura do que uma mãe normalmente era com sua criança. Não era por mal, queria que Benjamin fosse forte, mas as vezes acabava sendo rígida demais.

    Nos últimos dias, sentia que dormir era melhor do que permanecer acordado, em seus sonhos, encontrava-se com ele, o garoto misterioso que não tinha face, apenas um capuz cobrindo seu rosto. No início teve medo dele, mas a maneira gentil com que ele o tratava ia o cativando tanto que já não temia mais nada vindo daquele ser incrível a sua frente, suas conversas eram sempre divertidas e animadas, queria ficar ali para sempre com aquele garoto.

     Desejava sempre que podia que não fosse tudo um sonho, para não acordar mais no meio da madrugada sem ter ao menos tido a chance de se despedir, acabar em lágrimas e sozinho novamente. Ele era tão importante e necessário para si quanto respirar, e nem nome ele ao menos tinha, ou pelo menos era algo que Ben nunca chegou a perguntar, nomes não eram necessários, mas sempre o chamava de seu amor. O Garoto nunca rejeitou tal apelido carinhoso.

"Espera"

  O loiro levantou-se antes de ele ir embora e o segurou pela mão.

"Quando irei te ver de novo?"

"Estarei aqui sempre que precisar de mim."

  Era sempre a mesma resposta, mas ele precisava perguntar todas as vezes, para ter certeza.

"Posso ao menos saber o seu nome?"
 
   Esperançoso, perguntou. O garoto soltou sua mão.

"Me chame de M."
  

    Acordou em súbito, com algo molhado. Um balde de água havia sido jogado em sua cabeça.

— Quantas vezes eu já lhe disse para não se drogar, Benjamin Taylor?

   Sarina estava em pânico, claramente furiosa, os cigarros estavam jogados aos pés da cama e as carreiras de cocaína também. Ela temia perder o único que a restou da mesma maneira que perdeu Roger. Não para um homem, mas para a morte.

— Quintis vizis iu já lhi dissi para nãi si drogir, Binjimin Tiylor?

  Ele debochou de sua preocupação, se levantando ainda meio zonzo, ela tinha lágrimas nos olhos. Saiu deixando o loiro sozinho, as manhãs não costumavam ser tão difíceis quando ele estava ali.

   Seu estômago reclamava por comida, comeu qualquer coisa depois de se arrumar e viu uma nota de 20 libras deixada em cima da mesa junto de um bilhete. Sarina havia ido para mais uma entrevista de emprego e o deixado sem o carro, teria de pegar o ônibus para a escola. Vestir-se de uma cor só era algo comum para o jovem Taylor, andava de maneira desleixada por não se importar mais com a maneira em que as pessoas iriam interpretar a sua aparência, só queria ser a sua verdadeira forma de ser.

   Naqueles corredores cheios de armários escolares, que apesar de estarem completamente lotados de estudantes por todas as partes, Benjamin ainda se sentia mais sozinho ali do em qualquer outro lugar, onde todos tinham um grupinho para se juntar, sua própria panelinha. E tudo o que Benjamin tinha era um caderno surrado onde ele anotava o que queria e rabiscava até algo interessante surgir nas folhas amareladas. Algumas garotas tentavam se juntar a ele, várias tentaram, mas ele não sentia atração alguma por elas, não queria ser rude, mas ignorar todas elas parecia ser muito melhor do que insultar ou gritar.

   Não precisava de nenhuma ajuda, a única pessoa que queria por perto era seu fornecedor, Rami, que apesar da cara de bom moço, conseguia as melhores ervas do colégio por um preço ótimo. Agora, voltando a sua rotina de merda, ele teria aula de alguma coisa onde dormiria até o próximo intervalo e depois iria assistir seja lá o que a professora de geometria teria para dizer e seguiria para sua próxima aula, onde o professor de sociologia com certeza passaria uma atividade em equipe e ele seria o último a sobrar e então pediria para fazer sozinho. Passaria o tempo vago a seguir fazendo esboços e lendo seja lá o que tem naquele livro de auto ajuda que o coodenador o deu pelo setembro amarelo e então voltaria para a sala para mais uma frustrante aula de Química, onde seu parceiro é um garoto nojento que fica jogando bolinhas de papel nas meninas e tirando catarro do nariz, para finalmente poder acabar o dia e ir para casa.

   Sua rotina era normalmente assim, com exceção de quando Lucy grudava nele, a garota o conhecia desde a infância e apesar de não serem próximos, era o mais perto de um amigo que ele tinha. Mas não era sempre que ela fazia tal coisa, já que costumava andar com o grupinho de Rami, que além de popular pelo o que fazia, era o namorado dela.

   Abriu seu armário com força, pegando o livro de auto ajuda que sabia que estaria lá dentro e fechando o armário com força, seus cabelos que batiam quase nos ombros ainda estavam molhados devido ao banho que havia tomado para tirar todo aquele cheiro de peso morto que antes exalava do loiro. As olheiras debaixo de seus olhos demonstravam o quão cansado ele estava, claro, mantia uma rotina cansativa enquanto a noite se drogava para dormir e sonhar com um ser que nem ao menos existia!

  Sentia vontade de acabar com aquilo tudo.
   E sentia muita.



   ***

Essa é a minha primeira história aqui então pode ser que fique meio meh, mas espero que gostem.
e desculpe se eu ofender alguém, não é  minha intenção.

Night Mime • HardzelloOnde histórias criam vida. Descubra agora