5

278 32 26
                                    


 
    As aulas do dia seguinte foram menos silenciosas para Ben, ele tentava prestar atenção em Mazzelo, que tagarelava sem parar sobre algo que havia acontecido, numa animação que aos olhos de qualquer um seria super contagiante, mas uma coisa estava preocupando o garoto Jones. Não havia sonhado com ele, nunca havia passado uma noite sem sonhar com ele desde que os encontros se tornaram frequentes e agora ele simplesmente desaparece? Isso estava o incomodando. Seu amigo inexistente era sua fórmula de escape, o que faria agora se tudo desandasse?

  
   Não queria pensar nisso, e nem deveria, não precisava de uma crise, não conseguiria carregar o peso de ter outra na escola, não naquele momento.

— Ben, você 'tá me ouvindo?

    Joseph estalou os dedos na frente dos olhos azuis do amigo, o fazendo piscar e acordar para a realidade, olhou para o ruivo, balançando de leve a cabeça, em concordância, mesmo que na verdade não soubesse de nada do que o garoto ao seu lado havia dito, e nem conseguia se sentir culpado por isso.

— Cara, você 'tava viajando total!

— É. — Riu fraco, desviando o olhar. — Foi mal.

— Você disse "foi mal"? — Fingiu-se de chocado. — Estou ouvindo com meus próprios ouvidos que Benjamin Jones-Taylor, príncipe do reino dos anjos, está pedindo uma espécie de desculpas?

  Benjamin não conseguiu conter uma risada, não conseguia acreditar em como a criatividade daquele garoto era imensa, sua expressão confusa logo fez com que Joe risse também.

— Cara, de onde você tira esse tipo de coisa?

— Culpa sua por ter essa carinha de anjo, totalmente perfeito. Sorrindo então… — Dramatizou mais uma vez. — Meu coração até surta.

  Ao ouvir aquilo, o garoto travou e pode sentir suas bochechas darem uma leve esquentada, na maior parte do tempo, não recebia elogios, ah não ser de algumas garotas que se achavam "estranhas" e queriam ele no meio de sua "estranhisse", então não sabia lidar com eles. O sinal tocou bem neste exato momento, para a sorte do loiro, e todos estavam se levantando e guardando suas coisas, iriam trocar de aula.

— Vamos? — Joe perguntou, quando tinha pegado seu livro. — Ei, que caderno é esse?

   Estava se referindo ao pequeno caderno de Ben, com a capa quase toda opaca, tirando uma única foto de um cachorro sorrindo, totalmente adorável aos olhos do ruivo, não conhecia o lado fofo de Ben, se sequer exista a possibilidade de existir um lado fofo no Jones. Era adorável pensar que o ponto fraco do loiro emburrado são cachorrinhos.

— É segredo.

— Ah, me conta, vai! — Mazzello fez manha, porém Benjamin negou, era pessoal demais, até mesmo para alguém como Joe. — Pelo menos me fala o porquê do cachorro.

  O loiro suspirou, mostrando melhor a capa do caderno para o ruivo a sua frente. Ele prestou atenção em cada detalhe.

— Esta é a Frankie, minha cadelinha. Eu tirei essa foto no outono do ano passado.

— Você tem uma cadelinha? — Achou a coisa mais fofa do mundo, e Frankie parecia ser totalmente o oposto do tipo de cachorro que uma pessoa parecida com Benjamin Jones-Taylor teria. — Por que não a vi na sua casa ontem? Ela estava com algum amigo ou…

— Ela morreu. — Cortou qualquer outra especulação que Joseph pudesse ter. Sua expressão continuava séria, mas dava para perceber a tristeza em seu olhar. — Vai fazer um ano.

— Ah, Ben, eu sinto muito! — Joe se sentiu culpado, mas o loiro negou com a cabeça, juntando o caderno em seus braços.

— Eu já superei, ela estava sofrendo muito. — Explicou. — Agora podemos ir? Ou quer matar a última aula?

   Eles se entreolharam, sorrindo de uma maneira maliciosa, estava claro o que pretendiam.

— Vamos matar essa maldita aula? — Joe sugeriu, meio incerto.

— Vamos matar essa maldita aula. – Ben confirmou, e eles correram para pegar suas coisas em seus armários.

  Pegaram suas mochilas e foram saindo sorrateiramente do colégio, disfarçando para que não fossem percebidos. Quando chegaram nos portões, Joe sentiu-se aliviado, por não terem sido pegos fugindo e respirou fundo, soltando o ar de seus pulmões. Ouviram um coçar de garganta vindo detrás deles, se entreolharam desesperados para finalmente se virarem, vendo ninguém mais e ninguém menos que Rami Malek.

— Oi Ben, Joe. — Cumprimentou, ficando ao lado dos dois garotos. — Fugindo?

   Eles se entreolharam, dando de ombros, ambos conheciam o Malek e confiavam nele, voltaram a olhar para o Egípcio, assentindo. Um sorriso se abriu nos lábios do moreno, uma animação um tanto quanto suspeita. Ele claramente queria algo.

— Se importariam se… eu fosse com vocês? — Perguntou, enfiando suas mãos nos bolsos do moletom, parecia meio nervoso, totalmente sem jeito. — Sabe… Lucy e eu namoramos e… — Começou. — Bem, vocês são família… e ela não veio hoje…. e ela mora na mesma rua que você, Ben, então eu pensei…

— Quer ir vê-la, não é? É só vir com a gente. — Joe respondeu pelo loiro, que por uns instantes entrou em uma batalha mental sobre aceitar aquilo.

   Benjamin se preocupava, pois Lucy era… bem, era Lucy! A sua prima uns meses mais nova, os dois haviam praticamente crescido juntos, e ele também conhecia a reputação do Malek, apesar de saber que ele era uma boa pessoa, ou achava que ele era. Ainda tinha Joe, que estava convidando o garoto sem ao menos ter intimidade com ele, ou será que tinha? A ideia de Mazzello se relacionar com outras pessoas não deveria incomodar Benjamin, mas então por que ele sentia esse incômodo ao pensar nisso? No fim, acabou se dando por vencido, e aceitando que Malek fosse com eles, afinal, o caminho não era tão distante e evita-lo poderia ser pior.

    Até porque não havia nada demais em leva-lo até a rua, se estava levando Joe para casa. A ficha realmente não havia caído. Mazzello iria pela segunda vez em sua casa e finalmente mostraria a ele como era sua vida. Não estava nervoso, mas sentia que deveria estar.

    Ia ser uma tarde bem longa.

Night Mime • HardzelloOnde histórias criam vida. Descubra agora