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    Passaram algum momento conversando e desabafando, com Joe sendo o mais falante entre os dois, claro, até que decidiram passar o resto do dia fazendo qualquer outra coisa sem ser estudar. Saíram escondidos da escola, uma coisa que não era novidade para Ben, já que sempre que sentia vontade ele ia pra casa e se trancava em seu quarto, correram para a casa de Ben, Sarina não estaria lá, então estava tudo bem.  Subiram na casa da árvore, que ficava no quintal dos fundos, e agora o refúgio do Taylor tinha alguém significativo para ele dentro. Sempre imaginava seu amigo inexistente ali consigo e ter Joe ali substituia isso por uma memória boa.

— Então essa é a sua torre encantada, Rapunzel? — Perguntou Mazzello, quando entraram.

    O espaço era pequeno, então tinham que se manter abaixados para se locomoverem dentro daquele lugar. Mas ainda teve espaço o suficiente para que o loiro desse um empurrão de leve no ruivo, que apenas riu da expressão emburrada do outro. Provocar Benjamin era uma de suas novas atividades preferidas, pois percebeu que adorava ver aquelas sobrancelhas franzidas sendo acompanhadas de um biquinho irritado. Era… fofo.

— Eu não sou a Rapunzel — Resmungou. — e ela não tem uma torre "encantada".

— Você entendeu o que eu quis dizer.

— Cala a boca.

    Ben tinha a péssima mania de mandar as pessoas pararem de falar quando se irritava, era involuntário mas já o safou de várias lições de moral e discursos banais de apoiadores do setembro amarelo. Não que ele odiasse a campanha, mas ele sabia que as pessoas que se diziam importar em relação aos suicidas e portadores de transtornos mentais na verdade só faziam isso por reconhecimento em alguma coisa, e não por amor ao próximo. Odiava quem tentava se promover usando causas em que não acreditava.
  

    Foi a vez de Mazzelo de empurrar o loiro, revindando o empurrão anterior. E então uma brincadeira de quem é o último a empurrar começou. Eles continuaram até que Joe caísse para trás, puxando Ben consigo. Ficaram um em cima do outro, até se encararem e terem uma crise de risadas. Ben deitou ao lado de Joe, ainda com suas pernas encolhidas, e a sensação de que o mundo ainda era um lugar bom o preencheu, só Mazzello para causar esse sentimento tão estranho e novo dentro de seu peito. Não gostava dessa sensação, pois sabia o quão enganosa ela poderia ser e temia pelo pior, que fizesse besteira e ele fosse embora. As risadas haviam acabado.

— Sabe, Ben? Até que ficar aqui é melhor que passar o dia jogando vídeogame. Apesar de eu amar Mario Kart. — Joe sentou. — Mas acho que tenho que ir.

  Benjamin permaneceu deitado do mesmo jeito, não queria que ele fosse, então puxou o ruivo pelo braço, o forçando a voltar a ficar do jeito que estava antes.

— Não vai embora. — Foi mais uma ordem do que um pedido, tinha realmente problemas com socialização.

— Tá.

   E ficaram assim mais um tempo, até se olharem mais uma vez.  Benjamin não conseguia tirar seus olhos dos lábios finos do ruivo, e o Mazzello passava pelo mesmo problema em relação ao garoto ao seu lado. Se aproximaram mais um pouco e logo seus lábios estavam unidos, foi algo involuntário. Benjamin subiu em cima de Joe, que segurou os ombros do Loiro enquanto esse segurava suas bochechas, aquele pequeno selinho se transformou em um beijo. Os olhos de Ben estavam fechados.

   Quando Joe estava indo embora, o clima estava  mais romântico entre os dois, estavam de mãos dadas e com sorrisos bobos no rosto. Levou o amigo até a porta da frente, já que seu quintal era cercado por uma cerca considerada elegante por sua mãe, escolha dela inclusive. Sarina não estava em casa, provavelmente ainda estava naquele pequeno cubículo que chamava de escritório, na empresa que a recém havia contratado e a pagava um salário consideravelmente baixo que teria de usar para sustentar tanto ela quanto o filho naquela casa, já que antes ela deixava com que Roger ajudasse nas despesas de Ben, mesmo com o garoto detestando a ideia. Mas ao abrir a porta, deram de cara com a mulher loira, que estava buscando suas chaves dentro de sua bolsa de couro. Ela olhou para os dois. A mulher entrou e logo reparou em Joe, ficando surpresa ao ver que seu filho estava acompanhado. Ele nunca levava amigos para casa, e Sarina agradecia a isto, pois não sabia com que tipo de pessoas seu filho andava, apesar de ele estar sempre sozinho, e temia pela segurança dos dois. Eles soltaram suas mãos rapidamente.

— Amigo Novo?

— Mãe, esse é o Joe. — Apresentou. — Meu amigo.

— Joe de Joseph? Aquele Joe? — Perguntou, conhecia somente um Joe, o amigo da infância de Benjamin, um garoto adorável. Benjamin assentiu. — Ah, querido, como você esta diferente, você cresceu! — Começou com aquelas "baboseiras de mãe", como diria o Jones-Taylor.

— Mãe, o Joe tem que ir.

    Tentou intervir.

— Por que não o convida para jantar? Temos espaço para mais um.

   Queria acabar logo com tudo aquilo e estava quase empurrando o Ruivo a força para fora. Odiava quando sua mãe se metia em sua vida daquele jeito, mas não queria gritar com ela, não na frente de Joe.

— Eu posso ficar. — Joe segurou a mão de Benjamin, que forçava seu ombro como quem estivesse dizendo para que ele fosse embora. — Ah não ser que Ben não queira que eu fique.

 
   Ficou nesse impasse, mas ao ver a expressão se sua mãe e o olhar pidão de Joe, Benjamin não soube dizer não. Suspirou pesadamente.

— Jante com a gente, Joe. — Desistiu de sua luta, que afinal nem fazia sentido, pois no fundo queria tanto que ele ficasse quanto sabia que o outro queria ficar. — Eu quero que fique.

    E a felicidade se implantou no olhar do ruivo, um sorriso compartilhado com a mãe do loiro o fez ficar envergonhado. Era só um jantar, não? Para que tanto entusiasmo?

Night Mime • HardzelloOnde histórias criam vida. Descubra agora