O Golpe

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PORTO REAL

Já haviam se passado dois dias desde a vitória sobre os Mortos, mas a cidade ainda estava devastada, mas lentamente Porto Real reunia forças para se reerguer. Os cadáveres do exército inimigo foram todos reunidos em uma pilha na Praça Central para então serem queimados na manhã que sucedera a batalha, já os corpos daqueles que defenderam a cidade foram postos sobre altares de madeira na manhã seguinte também na Praça Central, para então terem um fim através das chamas. Nem mesmo quando o Grande Septo de Baelor foi explodido se sentiu um cheiro tão forte de queimado na capital. A rainha Cersei ao ir para as janelas da Fortaleza Vermelha teve uma forte ânsia perante ao cheiro, e imediatamente se recolheu aos aposentos reais.

Tyrion e Verme Cinzento observavam de perto a pedido de Daenerys o estado dos dragões, ainda nos mesmo lugares de suas quedas. O estado de Drogon dava esperanças ao anão, que observou que o dragão já se alimentava razoavelmente bem, embora ainda longe das quarenta cabras que chegará a comer por dia em Pedra do Dragão. Em contraste com irmão, o estado de Rhaegal era deplorável. O cheiro podre de suas feridas era possível ser sentido há dezenas de metros, sangue ainda escorriam dos corte e se espalhavam pelos cascalhos da curta praia que se formava na encosta da Colina de Aegon. Ao contrário de Drogon, ele não demonstrava nenhuma reação. Animais abatidos que eram levados para sua alimentação ficavam horas sem ser tocados, e quando decidia comer, mal comia uma cabra inteira.
- Ele morrerá. - observou Verme Cinzento.
- Sim, ele irá... - concordou o anão. - Receio que seria melhor acabar com seu sofrimento. Mas Daenerys já perdeu demais por hora. Daremos a chance para um milagre.

Do alto dos muros da Fortaleza Vermelha, Arya observava as águas negras da baía, até receber a companhia de Gendry.
- Não deveria estar mais agasalhada? - perguntou o bastardo, em alusão a fina malha de couro que a Stark vestia.
- Eu sou do Norte, já enfrentei ventos mais gelados. - respondeu ela sem sequer olhar para trás.
Gendry sorriu com a resposta afiada, e parou em seu lado, e acompanhou sua visão.
- Sinto muito pelo seu irmão. - Arya permaneceu em silêncio. - Espero que achem-no.
- O corpo?
- Arya, não...
- Se ele estivesse visto já teríamos o encontrado. Não seja tolo, já basta Sansa. - Arya estava visivelmente em negação com a morte do irmão.
Gendry não sabia o que dizer, mas sabia que o melhor a fazer, era deixar a loba sozinha, e assim fez.

- Temos de decidir o que vamos fazer, minha rainha. - lembrou Qyburn.
- Em relação a que? - Cersei esquentava as mãos no cálice com chá.
- A Targaryen, majestade.
- A puta está de coração partido, não será uma ameaça por hora. Além disso, ela abdicou de seu direito a coroa diante de toda a cidade.
- Justamente por isso, majestade. Ela perdeu tudo, e pessoas que nada tem, nada temem. Ela pode tentar tomar o trono, ela ainda tem homens a seu lado. - observou o Mão. - Temos de aproveitar que seus dragões estão enfraquecidos.
Cersei tomou um longo gole de chá, e permaneceu em silêncio por uns instantes.
- Você está certo.

No cais da cidade, Yara Greyjoy lançou ao mar o corpo de seu tio Euron, morto no Portão do Dragão. Quando perguntada o motivo de não queima-lo com os outros na Praça Central, ela respondeu:
- Os peixes também precisam comer. E Daenerys?
- Parece que não tem saído do quarto. - respondeu um homem.
- Entendo...

- Você precisa comer. - Missandei largou uma bandeja de prata com ovos, pão e leite, mas só recebeu o silêncio como resposta.
Daenerys estava magra, e possuía olheiras enormes, não comia desde o fim da batalha, apenas se hidratava. Sansa e Missandei a faziam companhia dia e noite, Tyrion fazia visitas pontuais, para saber em que estado se encontrava sua antiga rainha. A espada de Jon trazida pela maré, descansava do lado de Daenerys em sua cama, e com ela dormia. Na manhã que sucedera a batalha, Fantasma entrou no quarto, e dali não saiu mais. Ficava deitado atrás da porta, se levantando somente quando a mesma se abria, ou para se aproximar de Daenerys, pondo sua enorme cabeça no colo da Targaryen, que acariciava o mesmo. Fora as irmãs, Tyrion e Missandei, qualquer um que entrasse no quarto via os enormes caninos do lobo branco.
Tyrion entrou no quarto, em passos silenciosos.
- Já comeu? - perguntou, e recebeu um balançar de cabeça negativo de Missandei. - Daenerys, você precisa se alimentar, isso não é bom para você e nem para o bebê.
Daenerys permaneceu em silêncio, mas fantasma rapidamente se ergueu de seu lado, com os pelos ouriçados e dentes a mostra, e olhar fixo para a porta.
- Atrás da porta! - disse Sansa.
Rapidamente Tyrion se dirigiu até a porta e a abriu, mas nada encontrou.
- Onde estão os guardas? - perguntou Missandei.
- Estavam aqui quando entrei. - Tyrion parecia confuso. Todos se entreolharam. - Precisamos sair daqui. Temos de partir ao anoitecer.
- Partir para onde? - questionou Sansa.
- Pedra do Dragão. Falarei com Yara para preparar uma embarcação.
- Meus filhos não podem voar ainda. Não vou deixa-los para trás. - Daenerys se pronunciou com a voz fraca.
- Se não sairmos de Porto Real seu outro filho não vivera para andar. - rebateu Tyrion. Daenerys ficou em silêncio, visivelmente abalada com a situação que se encontrava. - Arrumem suas coisas, peguem só o necessário, ao anoitecer eu volto. - e o Lannister se pôs porta a fora.
Tyrion desceu as escadas circulares em passos largos, não se prestou a correr para não chamar atenções indesejadas. Começou a sentir dor nas curtas pernas por conta do esforço que tava fazendo as mesmas sofrer, e distraído com os pensamento e planos que bolava em sua mente, não notou a aproximação de por suas costas, e apena com um golpe, o anão caiu desacordado.

- Então ela carrega um filho do bastardo morto. Deplorável, outro bastardo. - cuspiu Cersei.
- Caso ela tome o trono o bastardo será legitimado. - previu Qyburn.
- Isso não irá acontecer. - garantiu ela.
Um guarda Lannister entrou na sala da Mão.
- Meu senhor, Tyrion Lannister foi capturado.
- Que ótima nóticia. - comemorou Qyburn. - jogue-o nas celas negras até termos capturas os outros.
Após a retirada do guarda, Qyburn e Cersei se entreolharam e sorriram, comemorando o começo de seu última jogada.

Arya andava pelos muros da fortaleza vermelha, com as mãos unidas por trás e o olhar fixo no chão. Começou a pensar que se tivesse conseguido matar o Rei da Noite em Winterfell, Jon ainda estaria vivo. Notou um pequeno grupo de quatro guardas vinte metros mais a frente, e estranhou o motivo de homens nos muros ao invés de estarem ajudando com os feridos e a limpeza dos escombros da cidade, e logo parou de andar. Um dos guardas apontou para a mesma, e começaram a vir em sua direção, a mesma imediatamente se virou e começou a andar na direção oposta, viu por cima dos ombros que os guardas aceleraram o passo, o que foi o suficiente para a mesma ver que tinha algo errado.
A garota Stark começou a correr, mas não adiantaria por muito tempo, outro pequeno contingente de homens da rainha vinham em sua direção para encurralá-la. Sem saída ela parou, e se viu cercada pelos dois lados.
- A rainha exige sua presença, ela deseja conversar. - disse um guarda.
- Se quisesse conversar não teria mandado dez homens atrás de mim. - rapidamente Arya se jogou do muro, para uma queda de mais de trinta metros, mas para sua sorte caiu sobre uma carroça que trazia arroz para o castelo. Apesar dos grãos evitar sua morte, a queda lhe causou bastante dor, mas nada que evitassem sua fuga. A mesma saiu em disparada através das ruas estreitas da cidade, ela sabia que não podia fugir pela vias principais, seria facilmente capturada. Em meio a escombros e fumaças, resquícios das explosões de fogo de vivo, a garota não parou de correr.
- Atrás dela. - ouviu a ordem e o som das armaduras
Acelerou no mesmo instante, não sabia para onde iria, sua intenção era se esconder, não queria deixar Sansa e Bran para trás, e nem o filho de seu falecido irmão. Subitamente foi puxada por uma porta fortemente e por reflexo logo sacou a fala em seu cinto e apontou para jugular do homem que a pegou, o mesmo imediatamente ergueu as mãos. Arya não demorou para reconhecer o homem grisalho.
- Lorde Reed?
O mesmo fez um sinal com as a mão pedindo para a mesma ficar quieta e a puxou para longe da porta. Somente uma parede separava os dois da estreita rua que os homens de Cersei descia em sua perseguição. Ao notarem o som das pesadas armaduras se afastando, Arya se desvencilhou dos braços do homem.
- O que está fazendo?
- Não parece óbvio? Estou salvando você. - o homem estava com trapos velho cobrindo suas vestimentas e cabeça, panos indignos de um lorde. - Temos de ir.
- Eu não vou a lugar nenhum. Não vou abandonar meus irmãos. - rebateu ela.
- Confie em mim, agora não podemos fazer nada contra a rainha. Não temos nenhuma vantagem de contingente e nem as bestas Targaryen. - Arya franziu o cenho com a verdade expelida por Howland. - Temos que cruzar a Torrente, tenho homens me esperando para nos levar.
- Nos levar para onde? - a Stark não estava entendendo.
Lord Reed pôs um trapo sobre a mesma e a puxou para fora do casebre em que se escondiam.
- Ontem descobri algo. - o homem seguia serpenteando as estreitas ruas em direção à Praça dos Peixeiros, próxima ao Portão da Lama. - Um de meus homens tinha de levar a rainha Daenerys uma mensagem, a pedido de um camponês que o abortou no cais.
- Qual era a mensagem? - questionou Arya.
- É melhor não falar aqui, ou estaremos todos perdidos. Você verá.
Arya ficou confusa, sem entender o que estava ocorrendo, para onde o homem de que seu pai sempre mencionava em suas histórias estava lhe levando. Chegaram ao cais, onde encontraram homens que os direcionaram até um pequeno barco a remo, que não cabia mais do que seis pessoas. Embarcaram sem sequer dizer uma palavra, apenas dois homens os acompanhavam, os responsáveis por remar. Para onde estavam indo, estava fazendo certo ela, em deixar seus irmãos para trás. A travessia pela Torrente do Água negra lhe rendeu meia hora de pensamentos e questionamentos, que logo lhe seriam respondidos.

The Last War - Game Of ThronesOnde histórias criam vida. Descubra agora