O consorte

Ciclo fechado

  Xiao se sentou à beira do seu sarcófago e suspirou.

Tinha dito a Yixing que iria voltar a dormir, que iria apenas... Se enterrar vivo. Pediu ao humano que se despedisse da família por ele já que do contrário perderia a intenção pétrea.

A vida para qual Titi lhe acordou, lhe fez mais manso e tendencioso, ele cederia ao apelo da família, dos amigos... Dos consortes. Por isso se foi sem adeus, da ilha do ex rei vampiro para seu antigo túmulo onde Titi lhe enterrou, mas agora não para dormir como disse ao humano que faria.

Mas para morrer.

Por suas próprias mãos.

Sorriu de certa forma irônico, um dia ele a matou, suas ações lhe levaram a morte e pensou que chegaria o dia em que ela o mataria, que devolveria sangue com sangue. Ledo engano, para pôr fim a sua existência ele teria que tirar a própria vida...

Arrancando o próprio coração...

Ergueu o punhal nas mãos, manchado com o veneno mais potente do mundo e sorriu outra vez antes de fincar no peito... Contudo ali, antes que a lâmina tocasse sua pele, uma mão cadavérica lhe impediu e ele sabia de quem era antes mesmo de olhar para seu dono.

Cronos.

O deus do tempo arrancou a arma das suas mãos, a jogou para o canto da caverna e Xiao rosnou indignado, porém sem se mover. A sua frente ele estava como ele era e não a imagem patética de um humano sedutor. Ali, era o próprio deus atemporal coberto da longa túnica escura e multicolor como a poeira cósmica do universo e de olhos profundos e antigos.

— Eu adoraria assistir a sua destruição, mas sei que isso a faria sofrer ainda que agora ela seja uma sombra perpétua que não pode mais se materializar nesse planeta. Nem mesmo eu posso alcançá-la agora, contudo... Velho rei, há algo que ela e Adriath conspiraram e que apenas eu sei. Laine amarrou muitas pontas antes de partir de vez e uma delas foi servir a um pedido pessoal do deus da morte do oeste.

Xiao estreitou os olhos incrédulos. Ele estava mentindo...?

— Não acredito em você.

— Sei que não, mas isso não é sobre acreditar, é sobre fatos. Uma lenda antiquíssima ainda no tempo em que você era apenas uma criança – Xiao então sentiu o suspiro pesado do velho deus - Vênus, Xiao. Vênus...

Xiao se afastou daquele ser se sentindo tão perturbado quanto incrédulo.

Não pode ser o que acho que é...

Resmungou mentalmente.

— Laine voltou para o seu tempo de Viviane para que junto dela, levasse a ilha de Avalon para o sul, quando ambas, de tempos diferentes e poderes equivalentes, juntas, fizeram a travessia, o poder liberado não apenas fez com que Avalon se refletisse em todos os paralelos, como também tornou-se possível, por uma equação inexplicável das formas mágicas e físicas desse universo, a fusão de passado e futuro gerando uma explosão que criou uma micro super nova, um corpo e alma totalmente único e adaptável que cortando tempo, espaço e leis foi enviado para Vênus em seu auge civilizatório, quando a Tiamat ainda era apenas um planeta árido ganhando seus oceanos ao longo passar do tempo. Indo para o mundo onde Hades e Adriath nasceram. A Laine ou a Nerfetiti que conheceu, não existe mais, mas uma alma nova dessa explosão, com memórias genéticas de ambas e de Viviane fundidas em uma só existência, agora vive lá, nessa criança, atirada no Oceano raso do Leste. Sozinha.

— Impossível, estamos falando aqui de três bilhões de anos, a Terra era só um bebê... Não é possível cruzar essa dimensão, nem você conseguiria...