03 | Histórias e biscoitos com leite

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Após a pescaria, voltamos a Skjånes.

Como dito por Ludvik, por volta do meio-dia já estávamos em terra. Após nossa breve conversa sobre as ações governamentais, decidi não prosseguir com o assunto, então apenas falamos sobre pesca, e sobre como eu era péssimo em pescar quando criança nos verões que meu pai me levava para algum lago nos arredores de Oslo.

Svein poderia dizer que era o oposto de mim quando se tratava de pescaria. Ele e Ludvik, claro. Ambos trouxeram de volta uns bons peixes, cada um em seu respectivo balde metálico. Svein levou o balde com seus peixes pela alça no caminho de volta para sua casa, assim que nos despedimos de Ludvik. 

Apesar de várias horas terem se passado, eu ainda não havia esquecido daquele olhar estranho que recebi de Svein no barco, como se ele soubesse das minhas reais intenções com aquela conversa sobre o governo com Ludvik. No entanto, tentei não levar isso em consideração com minha indiferença. Eu apenas precisava atuar bem, matar alguém e dar o fora dali.

"Prefere peixe assado ou cozido?" Perguntou Svein, quando estávamos a meio caminho de sua casa. Apesar de agora ter os cabelos presos em um coque desleixado, algumas mechas ainda caíam pelas laterais de seu rosto, deixando-o com uma atmosfera mais receptiva, eu diria. 

Eu não costumava comer muito peixe, mas preferia quando era cozido, disse a ele. 

"Te levo para conhecer algumas pessoas mais tarde, já que não temos muito o que fazer. Verá que os moradores de Skjånes são melhores que os de Oslo."

"Devo levar isso como um insulto?" Rebati, tentando quebrar o gelo para que ele não me achasse demasiadamente estranho. Mesmo que as minhas piadas fossem péssimas, já serviriam como máscara.

Svein, aparentemente surpreso, abriu a boca para falar alguma coisa, mas se interrompeu.

"Não... quero dizer, você parece ser legal. Estou falando dos outros moradores de Oslo." Disse ele, um pouco embaraçado. Por alguma razão, esse novo jeito 'desarmado' que ele mostrou me fez rir ao mesmo tempo que abaixei o olhar para os cascalhos sob nossos pés.

"Não se preocupe, era brincadeira."

Percebi por sua sombra que ele balançou a cabeça negativamente antes de expirar um riso de contentamento.

"Vamos nos dar muito bem, pelo visto."

"Espero que sim."

Durante o resto do caminho, não falamos muito. O tempo estava agradável, apesar de ainda um pouco frio. Dentro de casa, a temperatura era melhor.

Enquanto Svein preparava o peixe na cozinha habilidosamente, eu fui até minha mochila, deixada perto do sofá onde dormi para maior segurança. Verifiquei se tudo ainda estava no lugar.

Peguei algumas centenas de coroas em dinheiro na lateral interna da mesma e enfiei no bolso. Quis ver também se o meu punhal ainda se encontrava ali, e não demorei muito para que visse o brilho do guarda-mão prateado antes da lâmina protegida pela bainha de couro preto. 

Pensei se não era idiotice manter aquilo ali, em fácil acesso, mesmo que Svein não fosse mexer em minhas coisas. Eu não tinha outro lugar para escondê-lo, entretanto. Coloquei-o de volta no fundo da mochila e cobri com o dinheiro, depois, cobri o dinheiro com as minhas outras duas trocas de roupa. Fechei o zíper e deixei a mochila no canto da sala, entre o braço do sofá e a parede de madeira bege. 

Voltei à cozinha e encostei o braço na parede atrás de uma das cadeiras da mesa. Encontrei Svein de costas para onde eu estava, trabalhando com as mãos em uma agilidade impressionante. Era um tanto estranho ver um homem daquele tamanho cozinhando. Ele certamente devia fazer alguma outra atividade que exigisse mais esforço físico, afinal, pescar e cozinhar não o deixariam tão forte. 

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