01 | Piloto

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Verão de 1998...

"Bem-vindo a Skjånes", dizia a placa à beira da estrada coberta de cascalho compactado quando desci daquela velha van que rangia mais que as dobradiças da porta da última casa onde meus pais viveram em Bergen.

Foram quase dois dias de viagem e mais de 2.200 quilômetros de chão percorridos até que eu chegasse ali, naquele fim de mundo mais perto do Polo Norte do que se poderia imaginar chamado Skjånes. Pelo que eu ficara sabendo a respeito, era uma pequena vila cuja economia era baseada na pesca. O lugar perfeito para um conspirador permanecer escondido.

Cheguei àquela comuna de 64 habitantes já por volta das oito da noite, justo no intervalo de tempo em que o sol permaneceria no céu durante o dia todo sem se pôr. Bom, pelo menos agora seriam 65 habitantes no lugar onde a temperatura com certeza não passava dos 11 graus, embora estivéssemos em pleno verão norueguês.

Passei os olhos ao redor e respirei fundo, abismado com a linda paisagem.

Urzes verdes se estendiam pelos morros que compunham o horizonte até que estes se sobrepusessem, diminuindo de tamanho na direção das águas do oceano que eram tocadas indiscretamente pela luz dourada que vinha do céu azul e apenas pontilhado por algumas nuvens brancas de um lado enquanto projetavam uma comprida sombra do outro.

O ar puríssimo era certamente umedecido pelas águas da baía ao redor da qual a vila era construída, embora a maioria das casas, quase todas pintadas em cores quentes, se concentrassem à minha esquerda, para onde seguia a pequena estrada de cascalho por onde segui. O ruído das pedras sendo esmagadas sob meus coturnos marrons era o único som audível, além do cantarolar da brisa que por ali corria travessa, apenas.

A primeira impressão que tive não foi ruim. O lugar era bonito, apesar de ter sua parcela desoladora pelo completo isolamento do resto da civilização que eu conhecia, ou costumava conhecer, enquanto morava na capital. Meu coração chegava a apertar quando eu pensava em Oslo. Como eu amava aquela cidade.

Andando sobre o cascalho, passei por uma casa vermelha à minha esquerda, cujo quintal gramado e com algumas bétulas que não cresceram era circundado por uma cerca marrom de meio metro de altura. No canto da cerca havia um mastro onde, lá no topo, a bandeira norueguesa tremulava na direção noroeste, despertando em mim uma leve sensação de patriotismo por alguns instantes.

Segui em frente, pela estradinha que levava até a próxima casa, em tom salmão, já a uns bons metros de distância da primeira. Ao lado desta, metade sobre o gramado e metade sobre o cascalho, um Toyota Carina prata, provavelmente do ano 1988, se encontrava parado. E foi justo quando eu passava na frente da mesma casa, tentando entrar no meio da vila, que uma figura abriu a porta e desceu as escadas da pequena varanda carregando um saco preto na mão direita.

Ele parecia ser uma imagem de um típico viking das histórias que um dia li enquanto na escola. Sempre adorei histórias assim, principalmente aquelas que continham bastante mitologia. O homem possuía cabelos loiro-escuros ondulados e compridos caídos sobre os ombros largos, barba bem cuidada e uma altura com certeza superior à média do país. Daquela distância eu não conseguia enxergar com certeza a cor de seus olhos, mas poderia adivinhar que eram claros.

Assim que abriu a tampa da lata de lixo na porta da casa e jogou o saco preto lá dentro, ele bateu as mãos grandes uma na outra como se as limpasse e então virou seu olhar na minha direção uma vez, voltou-o rapidamente para a lata de lixo e de novo me olhou, como se tivesse percebido uma miragem em minha figura, parada no meio do caminho, olhando para a casa dele.

O homem franziu o cenho, olhou para os lados, procurando alguma outra alma viva naquela solidão singular, onde apenas nós dois nos encontrávamos. E foi justamente aí onde recordei o porquê de eu estar ali. Eu, Nikolai Andersen, precisava encontrar alguém de codinome 'Ranur', que estava escondido naquela vila, sem levantar maiores suspeitas.

NORUEGUÊS - Série NaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora