04 | Vodca barata

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Ao primeiro sinal das horas da manhã, quando todos já estavam despertos na pequena vila, eu saí da casa de Svein e subi a colina, procurando a única casa verde da vila com uma única passada de olho ao redor. Era a primeira vez que eu estava saindo sozinho por ali e, apesar de ser boa uma melhor ambientação, eu ainda não sabia as direções com total certeza.

Acabei encontrando a casa verde no caminho oposto para o qual seguia a estradinha de cascalho que levava ao píer e ao depósito de lenha, contornando a baía, bem mais próxima àquela floresta de árvores não tão altas que se formava na base dos morros.

Tomando meu rumo, voltei à chegada da vila sobre os cascalhos até o trevo de entrada. Para o lado direito, a estrada levava à uma igreja, já para o lado esquerdo, a Skjånesveien seguia para a sair da vila, contornando a baía antes de avançar para o Oeste. Segui para a esquerda, para que contornasse a massa de água que parecia invadir a terra.

O ar estava calmo, fresco. Ventava pouco. A luz ineficiente do sol tentava, em vão, aquecer a terra, não sabendo que seus esforços eram totalmente inúteis. Naquela parte do mundo, calor era algo que não existia. Acostumados ao frio e à neve durante a maior parte do ano, aquele povo tinha suas peculiaridades.

Conforme contornava a baía, ia olhando a paisagem. Analisava cada pequeno detalhe daquela beleza setentrional que poucos tinham a chance de ver. Não me importei se ainda tinha alguns bons metros pela frente, pois a imagem compensava o tempo extra de caminhada. Os morros, verdes na base e cinzentos no topo, erguiam-se imponentes, apesar de sua pouca altura, projetando sombras de acordo com a inclinação do sol.

Apesar da exuberante vista, eu ainda achava estranho não ter que disputar espaço com os prédios, pessoas e veículos com os quais era acostumado em Oslo. A tranquilidade do lugar era tamanha que até mesmo os bramidos das gaivotas que tinham seus peixes roubados pelos mandriões eram facilmente ouvidos da borda das águas.

Alguns minutos depois eu estava diante da casa verde, ao pé de um morro, logo após uma bifurcação que seguia daquele nível a cima onde se localizava uma casa maior, com muitas janelas, vermelha como o galpão dos peixes do dia anterior. A casa de Alva, no entanto, tinha um terreno pequeno, mas ainda rodeado por uma cerca branca já um tanto irregular.

A casa dela tinha dois andares, uma pequena varanda na frente onde acabava o terceiro degrau da escada. Havia também três ou quatro coníferas de tamanhos diferentes ao lado da casa, que tinha a entrada paralela em relação à estradinha de cascalho, obstruindo a vista de uma das janelas. Parecia ser um lar aconchegante, envolto de arbustos bem-cuidados e gramado verdinho.

Subi os três degraus com cautela e dei três batidas na porta, parando sobre o chão antes do tapete retangular e vermelho diante da entrada que trazia um desejo de boas-vindas. Do lado esquerdo, duas cadeiras baixinhas ficavam próximas ao igualmente baixo parapeito da mesma cor da cerca que guardava a vista belíssima da baía, da maior concentração de casas da vila e dos morros ao fundo, que formavam um labirinto antes da faixa de mar que chegava ao mar aberto.

Alguns segundos depois ela abriu a porta, sorridente, e me surpreendeu com um abraço caloroso que eu sequer tive tempo de retribuir, seguida de um menininho de talvez dois anos que a agarrou pela perna. Eu o observei, curvando os lábios em seguida em um sorriso suficiente.

"Nikolai, acho que já conheceu Herman, meu bebê." Disse, curvando-se para pegar o menino no colo. Como acontecia com Alva, a pele estupidamente clara do garotinho contrastava com a escuridão de seus olhos e cabelos lisos. Ela balançou-o um pouco nos braços, mas ele não se importou. Herman pareceu ter gostado de me encarar.

"Oi, Herman." Falei, também sorrindo, pegando a mãozinha do menino e balançando-a levemente, como um aperto convencional, só que sem força alguma. Herman me fitou com os olhões curiosos antes de balbuciar algumas palavras, movendo excessivamente as bochechas gordinhas e rosadas.

NORUEGUÊS - Série NaçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora