06 | Respirar fundo

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Após ter tomado um banho demorado, escovado os dentes e também ter comido todos os biscoitos com o leite, voltei ao banheiro já vestido com um suéter, calças jeans e o meu clássico coturno. Parei em frente ao espelho quase isento da umidade da água condensada pelo vapor do chuveiro.

Observei minha imagem por algum tempo, suspirei com alguma emoção que não era assim tão positiva apesar de todas as coisas legais que aconteceram. Parecia que eu estava olhando para um quadro de outra pessoa. Outra pessoa que eu estava abandonando aos poucos, embora esta ainda tivesse forças para me manter em uma linha, aquela que principalmente dizia respeito à minha missão ali. 

No entanto, eu ainda me senti estranho. Olhei dentro dos meus próprios olhos, castanhos, buscando na imensidão amadeirada algum tipo de conexão sobrenatural comigo mesmo. Passei os olhos pelo meu cabelo escuro caído até os ombros, pelo contorno dos lábios, pelo formato do meu rosto. Havia alguma coisa que me incomodava, alguma coisa que me prendia.

"Posso saber em que você tanto pensa?" Ouvi a voz de Svein, com o ombro encostado no batente da porta e os braços cruzados sobre o peito largo. Eu sequer o percebi chegar.

Troquei olhares rápidos entre ele e meu reflexo, incluindo um risinho expirado seguido de um suspiro profundo. Eu nunca havia me sentido assim antes, era até mesmo difícil de descrever. Entretanto, também me senti incomodado com alguma coisa em minha aparência, o que só me levava a ter uma ideia inusitada referente a cortar o cabelo.

"Acha que eu ficaria melhor se cortasse o cabelo?" Perguntei a Svein, com um tom de curiosidade até mesmo misturado àquela emoção um tanto decepcionada claramente visível pelo meu olhar.

Svein franziu o cenho imediatamente, com certeza estranhando a pergunta. Então, eu apenas balancei a cabeça negativamente e fiz menção de sair do banheiro ao ir na direção dele, como se aquilo fosse a maior bobagem do mundo.

"Esquece, não era nada." Suspirei mais uma vez, meio cabisbaixo, esperando que ele se afastasse da porta e me deixasse passar. Não foi isso que aconteceu, entretanto.

Svein desencostou-se da porta e ficou em minha frente, e segundos depois de me olhar com atenção levou seu indicador dobrado a erguer meu queixo, basicamente me forçando a olhá-lo. As duas safiras azuis em seus olhos me estudaram com cautela, em perfeita combinação com os cabelos compridos caídos sobre os ombros.

"Você está triste." Concluiu ele, com certo pesar na voz ao notar que eu tentei desviar o olhar de seu foco, embora não tivesse rejeitado o toque em meu queixo. "Fiz alguma coisa que te magoou?"

"Não, não, de jeito nenhum." Neguei, associando as palavras a um balançar negativo de cabeça. Até mesmo sem pensar, levei minhas mãos ao peito dele, sequer percebendo o teor íntimo do gesto enquanto ainda não conseguia olhar diretamente nos olhos dele. "Você é mais do que eu poderia querer aqui. É que... acho que eu só fiquei um pouco incomodado comigo mesmo."

"Não deve ser nada demais, já que você é tão bonito." Disse, abrindo um belíssimo sorriso antes de me dar um suave beliscãozinho na bochecha, me fazendo sorrir também, finalmente seguro o bastante para olhá-lo.

Suas palavras, claro, me surpreenderam, e eu duvidava seriamente sobre não haver um brilho reluzindo em meu próprio olhar. Era para eu ter ficado desconfortável, mas tudo o que eu pude sentir foi o meu coração disparar no peito como se eu tivesse acabado de levar um susto.

"E acho que ainda ficaria bonito se cortasse o cabelo."

"Talvez você possa me ajudar com isso, então." Falei, não conseguindo omitir meu sorriso enorme. "Tem uma tesoura?"

"E você? Tem certeza?" Perguntou, ironizando os fatos. Logo depois de mais uma vez sorrir para mim, virou-se suavemente para se retirar do caminho e dois passos depois estava diante do criado-mudo ao lado da cama.

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⏰ Última atualização: Apr 21, 2021 ⏰

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