Capítulo 4

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   Assim que chegamos ao refeitório, avistei Gregg aguardando numa mesa e um sentimento de saudade invadiu meu peito. Quando nos aproximamos, ele envolveu os braços em volta da minha cintura e me recebeu com um daqueles típicos abraços de urso.

— Finalmente consegui te ver. — Ele falou, assim que me libertou do abraço. — Estava sentindo tanto a sua falta. 

— Eu também estava com saudade. — Tinha o maior sorriso estampado no rosto, Gregg estava entre minhas pessoas favoritas no mundo. — Essa é Halston Stage, estudamos na mesma turma. — Hal estava com uma postura tímida enquanto apertava a mão de Gregg, e por incrível que pareça, a tagarela estava se atropelando nas palavras. 

— É.. É um prazer conhecer você, pode me chamar de Hal. 

— O prazer é meu Hal, sou Gregory Sulkin, mas prefiro Gregg. — Ele finalmente soltou a mão da minha colega, mas manteve o brilhante sorriso no rosto. Tinha esquecido do quanto seu sotaque britânico era gostoso de ouvir. — Anabella avisou que viria, então tomei a liberdade de comprar almoço para você também. Optei por pizza, é o que a maioria das pessoas gosta. 

  A conversa sem pausa reinou enquanto nos acomodávamos para comer, parecia que não via Gregg há tempos, nossa interação sempre fluiu muito bem. Mesmo com as minhas diversas tentativas de incluir Hal na conversa, ela não parecia ter palavras para se incluir nos assuntos, sempre acabava gaguejando e ficando corada. Aquela era uma atitude esquisita vinda da minha colega espertinha, resolvi me preocupar em perguntar aquilo mais tarde. 

— Estava otimista em relação a esse semestre, achando que conseguiríamos passar bastante tempo juntos, mas me enganei feio. Nosso cinema vai ter que ser adiado para amanhã, estou cheio de exercícios de cálculo avançado para resolver, também preciso preparar minha aula da monitoria. — Gregg anunciou. O fato dele ser um aluno espetacular foi decisivo quando o escolhi para o cargo de futuro marido.

— Tudo bem, não se preocupe com isso, as aulas estão apenas começando. — Falei, aproveitando para dar um beijinho na bochecha do meu namorado prodígio. — Tenho alguns textos bem extensos para ler, então estarei bem ocupada. 

— É a semana de comemorações para os calouros, hoje tem mais uma festa. — Hal pareceu ter recuperado o poder sob a própria língua. — Estamos apenas começando, não há necessidade de ficar tão neurótica. 

— Você vai à festa, Hal? — Gregg perguntou, fazendo minha colega corar. Estava começando a achar engraçada a situação, nunca fiz o tipo ciumenta, mas parecia que Hal estava começando a ter uma quedinha pelo meu namorado.

— Hm.. sim. — ela respondeu, baixo demais.

— Então baby, talvez devesse confraternizar mais um dia. — Gregg sugeriu. 

— Acho que não vai rolar, dessa vez prefiro fazer meus cuidados com a pele enquanto estudo mais tarde. — Era minha resposta irrevogável. 


   Eram quase nove da noite e eu estava cumprindo meus objetivos, tinha máscara de argila no rosto e o cabelo recém lavado, secando dentro da toalha. Havia tomado um longo banho e depilado todo lugar onde minhas mãos conseguiram alcançar, além de passar uma generosa quantidade de hidratante pelo corpo. Meus companheiros da noite eram um texto de Max Weber que estava chegando ao fim, e os garotos da One Direction cantando no alto-falante do celular.

  As batidas na porta interromperam meu raciocínio do texto, tentei não ficar impaciente enquanto levantei da minha confortável cama para atender. Arregalei os olhos quando vi Zendaya parada do outro lado da porta, com os braços cruzados e uma expressão sarcástica no rosto. 

— Desculpe, achei que era o quarto da Bella, mas bati na porta do Incrível Hulk. — Revirei os olhos, tentando segurar o sorriso que se formava nos meus lábios.

— Bateu na porta da Incrível Bella. Entre. — Me afastei do caminho, e quando Zendaya entrou, o quarto pareceu pequeno.

— Definitivamente, você é melhor que aquele verdão musculoso. — Zendaya puxou a cadeira da minha escrivaninha e se sentou, como se já estivesse habituada a bater inesperadamente na minha porta.

— Então, o que te traz aqui? — Andei até o banheiro para tratar de limpar o rosto. Essas máscaras eram ótimas para a pele, mas péssimas na hora de remover 

— Sua amiga Halston. — A voz da Zendaya soou mais perto que eu imaginava, me fazendo levantar a cabeça para conferir sua localização naquele banheiro pequeno. — Ela insistiu que eu viesse te buscar, está segurando as pontas lá em casa enquanto não voltamos.

  Zendaya pegou um pacote com algodão que estava em cima de uma prateleira e se aproximou mais de mim, se encarregando da tarefa de limpar alguns fragmentos de argila que restaram no meu rosto. Em seguida, examinou alguns vidrinhos até encontrar um tônico facial, que logo estava sendo espalhado pela minha pele. O ato foi simples, mas acabei corando, estava me sentindo como a Hal na hora do almoço.

— Eu já disse que não vou, não sei porque ela insiste. Espera, a festa é na sua casa? 

— Sim, é na minha casa e deu trabalho para organizar. Você já deve ter estudado o suficiente, só dá uma passadinha por lá, se não gostar, é só me dizer que te trago de volta. — Eu estava curiosa para conhecer a casa da Zendaya e provavelmente não teria outra oportunidade. — Aposto que as coisas por lá estão melhores que aqui com esses garotos da One Direction.

— Ei, nem venha criticar minha banda querida. — Ela deu de ombros, tentando segurar a risada. Falhou miseravelmente. 

— Agora entendi o que viu no seu namorado, ele é bem parecido com esses cantores. — Ela enfiou as mãos nos bolsos da calça enquanto encostou no batente da porta do banheiro. Eu estava inclinada sob a pia, me maquiando através do reflexo do espelho.

— E você conhece meu namorado? — Era estranho falar sobre Gregg com ela, principalmente porque ela assumiu uma adorável carranca. Essa era uma expressão que ainda não tinha visto em seu rosto. 

— Não o conheço, mas vi vocês dois se lambendo no refeitório mais cedo. Héteros adoram essa merda de exposição romântica. — Ela revirou os olhos, mas logo voltou a me fitar atentamente. Eu não deveria me sentir tão a vontade sendo foco de tanta atenção, as vezes parecia que Zendaya possuía poderes visuais que me liam.

— Engraçadinha. — Terminei a maquiagem mais básica que consegui fazer, logo estava com o secador de cabelo em ação. — Quando você soube?

— Soube o que? Que sou lésbica? — Afirmei com a cabeça. — No Ensino Médio, foi o momento mais assustador da minha vida. A primeira vez que beijei uma garota, era como se soltassem fogos de artifício dentro de mim, uma sensação totalmente nova. Assustadora.

— E como sua família lidou com isso? 

— No começo foi complicado, tive que fazer um monte de terapias por causa da minha mãe. Por sorte, em menos de um ano, meus pais começaram a aceitar. — Ela se aproximou e tomou o secador da minha mão, subiu o cabelo da minha nuca e começou a secar a parte que eu não alcançava. 

  Tentei me penalizar mentalmente de todas as formas conforme minha nuca se arrepiou, eram sensações involuntárias. Quando olhei nosso reflexo no espelho, encontrei o olhar de Zendaya estudando meu rosto, ela permanecia secando meu cabelo, mas não prestava tanta atenção na sua tarefa. 

— Acho que o cabelo já está legal. — Falei, me obrigando a quebrar o contato visual. 

— Ah, certo. Tem razão. Vou te esperar ali, fuçando sua playlist. — Rapidamente, ela desligou o secador e voltou para o meu quarto. Soltei a respiração que nem sabia que estava prendendo, só conseguia pensar no quanto aquela noite seria longa. 


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