Capítulo 8

251 26 62
                                    

   O repentino sumiço de Zendaya estava me deixando apreensiva, nem mesmo Hal sabia o paradeiro da garota. Já a considerava uma amiga, mas a falta de comunicação me incomodava extremamente. Para minha surpresa, ela resolveu aparecer num dos meus momentos de afeto em público do Gregg. 

Estávamos numa área de convivência perto dos jardins da Briar. Meu namorado tinha os braços em volta da minha cintura, e os lábios brincando na minha clavícula, quando ela passou apressada. 

— Zendaya! — Chamei alto o suficiente para que várias pessoas ouvissem, estava me controlando para não parecer preocupada demais. 

— Bella, não sou surda. — Ela respondeu no tom sarcástico habitual, andando na minha direção. O capuz da blusa de frio estava na sua cabeça, escondendo boa parte dos belos cachos, seus olhos tinham profundas olheiras. Não se parecia nada com a pessoa confiante que conheci, muito pelo contrário, tinha uma postura derrotada.

— Desculpe, é que você passou correndo, e está com fones no ouvido... — Era muito difícil não aparentar todo nervosismo. Gregg segurou minha mão, me lembrando da sua presença. Eu não deveria estar incomodada com o fato do meu namorado ter segurado minha mão, tampouco com os olhares da minha amiga. — Zendaya, esse é o Gregg. 

— Prazer em te conhecer, Zendaya. — Gregg falou, com um dos seus melhores sorrisos no rosto. 

— Igualmente. — Ela respondeu, apertando sua mão que estava estendida. — Bella, tenho que ir nessa. Estou um pouco atrasada para a aula. 

— Espera. — Pedi, segurando seu braço. Andamos um pedaço até nos afastarmos do fluxo de pessoas, Gregg não pareceu incomodado em esperar. — O que aconteceu? Você desapareceu completamente. 

— Tive que ir visitar minha família, minha avó faleceu. — Ela soltou, impaciente. 

— Eu sinto muito. Deveria ter se comunicado comigo, fiquei preocupada. 

— E preocupada por qual motivo? — Zendaya soltou o braço das minhas mãos, a mágoa tomou suas feições. — Você nem me conhece, prefiro passar por essa merda sozinha. Volte para o seu namorado. — E saiu depressa, sem me dar oportunidade de responder. 

   A frustração me invadiu. Não levaria em conta as palavras agressivas dela, mas também não achava saudável passar por um momento de luto solitário. O restante do meu dia foi o mais arrastado possível, parecia uma eternidade. Mesmo a noite, quando tentei me concentrar no texto de Antropologia da próxima aula, meus pensamentos me levaram à Zendaya. Me informei no mapa do celular, qual ônibus que me deixaria perto do apartamento dela. 

   Quando cheguei, achei esquisito o fato do porteiro liberar minha entada para o seu andar, mas conforme me aproximei da porta, percebi que estava rolando uma festa. O som estava nas alturas, além dos convidados que pareciam bem animados. Andei por aquele monte de gente, antes de finalmente encontrar Zendaya sentada numa roda de pessoas, identifiquei apenas o rosto de Jacob Elordi e Alexa Damie. Ambos sorriram e acenaram assim que me viram, mesmo envergonhada, retribuí os cumprimentos. 

— Senta aqui, Annabella. — Jacob chamou, abrindo um espaço ao seu lado no sofá. Apenas aceitei o lugar, conversaria com Zendaya quando fosse um momento oportuno. — A gente tá jogando jogo de verdade ou desafio. 

— Desculpa Jacob, mas eu não estou com vontade de participar. — Respondi, me preparando para levantar. 

— Está no final, não se preocupe, você pode passar a vez. — Ele anunciou, o que me fez assentir e permanecer. 

  Realmente, eu pude passar a vez quando a garrafa parou na minha direção. Todos que estavam jogando eram veteranos, consegui interagir e dar boas risadas  com duas garotas: Barbie Ferreira e Sydney Sweeney, ambas amigas de Alexa. E por falar na dita cuja, ela aceitou o desafio de beijar o Jacob, o que me surpreendeu. Olhei na direção de Zendaya, mas ela tinha uma expressão de tédio, como se o fato da sua não-namorada beijar outro cara, não significasse nada. 

— Minha vez de perguntar. — Alexa falou, a garrafa estava na direção de Zendaya. — Verdade ou desafio? — As duas se encararam como se já soubessem alguma coisa, algo subentendido ficou no ar. Por fim, Zendaya cruzou os braços e olhou diretamente na minha direção, pela primeira vez na noite.

— Desafio. — Soltou, impaciente.

— Eu te desafio a ficar no armário da despensa com a Annabella por cinco minutos. — Algumas pessoas ovacionaram a escolha de Alexa, satisfeitos com o desafio. Zendaya apenas revirou os olhos e se levantou, indo em direção a um corredor, todos permaneceram me encarando com expectativa. 

   Aquela provavelmente seria minha única oportunidade de conversar com a senhorita irritada, já estava ficando cansada de ser evitada por ela. Resolvi me levantar e seguir para o corredor, uma pequena porta que ficava em baixo da escada estava aberta. Quando vi minha anfitriã emburrada, entrei e fechei a porta, o espaço era bem apertado, produtos de limpeza e vassouras tomavam a maior parte do lugar. 

— O que veio fazer aqui, Bella? Eu não lembro de ter te convidado. — Ela soltou, ainda com os braços cruzados. 

— Se você continuar agindo como uma vadia, eu vou te fazer beber um pouco de desinfetante. — Assim que respondi, a expressão dela se suavizou e seu sorriso retornou ao rosto. — Assim está melhor.

— Tudo bem, me desculpa por hoje mais cedo. Eu só estou passando por um momento complicado, preciso esquecer toda essa merda que vem acontecendo. Não justifica, mas não é como se os meus colegas tivessem notado que eu estava mal, e quando você perguntou o que aconteceu, foi novo e esquisito pra mim. 

— Eu já te desculpei, mas ficaria grata se parasse de ser uma tonta. — Ela ainda estava com um sorrisinho malicioso. O espaço realmente era apertado, e ter aquele perfume tão bom invadindo minhas narinas, dificultava meu foco. — Eu gosto da sua amizade de verdade, só quero que saiba que pode contar com a minha ajuda. 

— Tudo bem Bella, te agradeço por isso. Acredite ou não, eu senti falta da sua chatice esses dias em que fui para a casa da minha família, minha avó com certeza gostaria de você.

— Sinto muito por ela. 

— Obrigada. — Deu um sorriso triste e cerrou o maxilar, notei que estava desviando os olhos para tentar se fazer de forte. Quando envolvi os braços em torno do corpo de Zendaya, foi como se ela desabasse. Se segurou em mim e o choro silencioso sacudiu seu corpo, testemunhar sua fraqueza fez meu peito comprimir também. Conforme acariciei a extensão das suas costas e soltei frases como "vai ficar tudo bem", o choro foi se acalmando, e seu aperto em torno de mim se afrouxando. — Minha avó foi a primeira pessoa a descobrir e me aceitar de primeira, sabe? Sem julgamentos morais ou religiosos, ela me apoiou tanto, foi meu alicerce. Eu só não quero que ela ache que deixou uma fracote para trás. 

— Não precisa ser forte o tempo todo, se permitir chorar não te faz uma fracote. — Falei, limpando as lágrimas que tomaram seu rosto. Seus olhos estavam vermelhos, mas ela conseguiu dar um sorriso de verdade.

— Você é uma pequena intrometida, sabia disso? —Respondeu, debochando de mim. Nossos olhos se travaram por um longo minuto, e o sorriso de deboche foi desaparecendo. Zendaya deu um passo à frente, acabando com qualquer espaço que nos separava, eu era capaz de sentir sua respiração rasa contra a minha. 

  Meu coração estava batendo descompassado, e eu realmente não estava me sentindo dona do meu próprio corpo, foi de longe a sensação mais apavorante e curiosa que já senti. As mãos de Zendaya se apoiaram na parede, deixando minha cabeça entre seus braços, ela permaneceu sua inspeção lenta pelo meu rosto, seus olhos pareciam acariciar todo lugar que observavam. Quando umedeceu os lábios com a ponta da língua, uma boca nunca me pareceu tão convidativa. Achei que não resistiria ao desejo que me invadiu, mas batidas na porta me assustaram. Zendaya se afastou, quebrando nosso contato visual.

— Já passaram dez minutos, suas pervertidas. — A voz de Alexa soou do outro lado. Resolvi dar o pé dali o mais rápido possível, sem olhar para trás. 

   A tarefa mais difícil seria aceitar que eu realmente senti um desejo irrefreável essa noite, e se não fosse por Alexa, sabe lá o que teria acontecido. Estava carregando mil sentimentos, os piores foram os de culpa e de confusão. 

Discovering LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora