A sinfonia do juízo final

Capítulo 38 - A resistência do fim do mundo

37 dias antes do Juízo Final

— Eis que é chegado o dia, passamos por muitas coisas, escavamos histórias e mitos secretos que rodeiam esta cidade, tantas informações e revelações embaralhadas que achar uma saída parecia impossível, mas, preciso que deem um voto de confiança no melhor que consegui fazer, e já antecipo que no pior dos casos, se falharmos, teremos pelo menos tentado fazer a diferença no mundo, não entregando nossas vidas nas mãos do destino, esperando pela morte. Lutamos e lutaremos até o último segundo contra este mal que tenta extinguir a humanidade. E seja ele proveniente de um humano, do sobrenatural, Deus ou qualquer outra figura cuja existência foge do nosso conhecimento, mostraremos que existe algo que nenhum deles pode tirar de nós. O maior trunfo do homem. A esperança.

Abri sobre a mesa uma junção de vários papéis, desenrolando-o como um papiro, entre as diversas anotações soltas, desenhos, esquemas e fotos, havia escrito uma frase grande que possivelmente chamou inicialmente a atenção de todos ao olharem.

"Tocaremos a sinfonia do juízo final".

Comecei a explicar de imediato ao ver os rostos confusos dos presentes, Mytru até mesmo pronunciou um latido em possível protesto de exigência a uma melhor explanação.

— Vamos do início! Durante minhas investigações, conheci a figura chamada de rei dos esgotos, um homem que vive administrando um grupo de moradores de rua que espalhavam informações para todos os cantos de Riverside, o meio perfeito para distribuir as ordens de um líder entre seus súditos sem se expor e de forma discreta. Através dele, além de ser apresentado as histórias do primeiro prefeito, que compôs escritos enigmáticos inspirados por uma figura mortífera da sua consciência, tive acesso a lenda do coletor, ou grande olho, um homem que aparentemente teve contato direto com estes textos, batizados de 'evangelho do diabo', acredito que nenhum de nós tenha respostas sobre seu conteúdo, mas de alguma forma ele parece relevante para esclarecermos alguns pontos que permanecem nas sombras. O coletor desapareceu após aparentar ter sucumbido a loucura do livro.

Todos estavam atentos, se concentrando para captarem aonde meu raciocínio daria.

— Saltamos no tempo e temos Stanley descobrindo que Elijah é o mascarado que anunciou o juízo, porém, muito mais manipulado que culpado. O importante disto é saber que uma organização maior está por trás de tudo. As cartas recebidas por ele também são relevantes para cruzar estes eventos que outrora pareciam isolados.

— Já com Rebecca, descobrimos um fato que considero primordial para o quebra-cabeças, mas antes de falar dele, quero lembrá-los do que Kathy presenciou em suas investigações, pois, podemos afirmar com quase certeza que a sinfonia é de fato uma canção, parece óbvio, mas não conseguíamos certificar isto com base apenas nos sintomas apresentados pelos afetados. E agora inclino-me a acreditar que o grupo de Gracie sejam os executores da música que originou o apocalipse.

Parei por alguns segundos e olhei para confirmar se todos estavam juntos comigo no raciocínio, talvez neste ponto, alguns já tenham entendido o que pretendo fazer.

— Voltando a Rebecca e o sangue escarlate, cravamos algo que estava presente em praticamente todos os eventos e não consideramos em nenhum momento sua relevância. O livro da divina comédia. Podem achar que estou enlouquecendo, mas antes, pensem comigo, coincidência ou não, eu estava ministrando uma aula sobre Dante no dia que tudo aconteceu, o prefeito menciona em suas cartas das cinco estações um sanatório batizado de 'inferno de dante', uma possível prova da influência da obra em sua loucura. Elijah quando conheceu Zelda também fez citações do poema. A escola de artes fez a pré-seleção dos músicos dando como atividade uma composição que envolve a obra. E por último e não menos importante, a apresentação secreta das estrelas harmônicas da noite será uma atuação de uma diferente tradução do livro.