Deux

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Henri passeava pelo jardim com Louise, ouvindo pacientemente tudo o que aquela garota encantadora da província lhe contava. Louise olhou para Henri.

– Estou falando demais?

Henri segurou a mão dela enquanto a sentava em um banco.

– Não. Moças que falam demais não me aborrecem.

– De onde tirou isso?

– Minha mãe. Ela falava muito e não me aborrecia. Ela era como você, e isso é um elogio... – Henri sorriu tristemente.

Louise segurou a mão dele. Henri estava de cabeça baixa, encarando os próprios sapatos e fungando baixinho.

– Não gosto de ver ninguém triste...

– Me perdoe...

– Está tudo bem, Henri.

Louise pegou um lenço esverdeado e bordado com suas iniciais e deu a ele.

– Tome.

– M-merci...

Henri passou o lenço pelos olhos que começavam a lacrimejar.

– Merci. Merci Beaucop...

– De nada.

Henri terminou de enxugar os olhos e beijou a mão dela em um gesto cavalheiresco. Ela corou.

– Você é fofa.

– Você também. O que você quer ser quando você crescer?

Henri deu um sorriso maroto e fez um gesto teatral. Bradou:

– Um poeta! Um músico! Um amante! Um artista!

Louise bateu palmas e disse:

– Amo arte... não sabia que tocava.

Henri suspirou.

– Mas sonhos são apenas sonhos...

– Por que diz isso?

– Meu pai. Diz que arte é coisa de mulheres e que homens melosos (Que fazem versos, música ou teatro), não são homens de verdade. Também diz que não cria o filho para ser um maricas. Ele quer que eu seja um advogado ou um médico. Segundo ele, essas são profissões respeitáveis que dão dinheiro e... – Ele suspirou. – ... segundo ele não é tão maricas quanto a escrita de versos. Mas eu ainda quero ser um poeta publicado, nem que seja sob pseudônimo! E você? O que quer fazer?

Louise pensou um pouco.

– Talvez nada...

– NADA?!

– Você sabe muito bem da falta de oportunidades que as mulheres têm. Eu escrevo, também, mas nunca pensei em publicar meus textos. Afinal... quem os leria?

– Eu.

Louise sorriu.

– E, talvez, meu pai e meu irmão. Nada e ninguém além dessas pessoas. O mundo pertence aos homens, Henri. Mas não são todos: O mundo pertence, apenas, aos homens ricos e poderosos. Os pobres não importam: O resto nunca importa.

Henri estava de queixo caído.

– De onde... de onde tirou isso?!

– Da vida...

***

Julien andava distraído pelo palacete quando esbarrou em Carl. O prussiano o encarou, franzindo o nariz.

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