– E então?
– A menina desmaiou. A moça que estava com ela acabou gritando e tive que sair correndo.
– SEU INCOMPETENTE! COVARDE!
– M-Me perdoe, senhor...!
– ESTÁVAMOS MUITO PERTO! MUITO!
– Algum plano B, senhor?
O " Senhor" suspirou.
– Não. Qualquer coisa eu lhe deixo a par. Pode sair, Antoine.
Antoine saiu, mas não sem antes deixar um papel na mesa de seu empregador.
***
Após se machucar em uma cavalgada, Henri foi até o consultório do pai. Quando François saiu para resolver algo muito entediante e que não merece ser explicado com mais detalhes, Henri analisou o consultório do pai. O consultório era tão desinteressante quanto o próprio homem: Livros de medicina mofados e velhos, de um século antes, enchiam as prateleiras.
" Antiquado!", pensou ele.
Saiu da cadeira na qual estava sentado e andou pelo cômodo meio escuro. Entre tantos papéis idiotas, um chamou sua atenção com um nome e uma quantia de dinheiro:
"Antoine Chermont
320 Luíses"
Do que se tratava?
Virou o papel. Continha as seguintes palavras:
" O estupro acontecerá no dia do aniversário do meu único filho. No dia do baile, 17 de abril. Fique vigilante e a postos. Se vir uma menina ruiva com uma touca branca é ela, Louise Roux. A aborde."
Henri guardou o papel no bolso e correu até a cozinha. Sophie olhou para ele.
– O que quer?
– O Julien está? Preciso falar com ele.
– Vou chamá-lo.
***
– Ai. Meu. Deus!!! – Julien dava pulinhos enquanto lia e relia a frente e o verso do papel. – Isso é inacreditável! Eu... eu... não sei o que dizer...!
– Se eu... – Henri tentou falar, mas caiu no choro. Agora sabia como sua mãe se sentira ao descobrir as traições do marido: Culpada e triste.
Ele se ajoelhou, com o rosto entre as mãos, as lágrimas correndo livremente, a mente um turbilhão de pensamentos. Julien o abraçou.
– FOI TUDO MINHA CULPA! MINHA CULPA! SE EU NÃO TIVESSE ME APAIXONADO POR ELA, NADA DISSO TERIA ACONTECIDO!
– Shh... Shh...
Henri se acalmou um pouco.
– V-v-vo-vo-vou c-c-confrontá-lo...! – Sua voz tremia e ele gaguejava.
Julien assentiu, sem saber o que dizer.
***
– O QUE SIGINIFICA ISSO?!?! ANDOU MEXENDO NAS MINHAS COISAS?!
Henri andou a passos pesados até François.
– Sim, andei! E descobri algo muito interessante a seu respeito...! – Henri tirou do bolso o papel que havia achado mais cedo. Leu tudo em voz alta. – Mandante de estupros, hm? O que diz em sua defesa?!
François deu um sorriso maligno.
– Minha vingança ainda não está completa...
Henri estremeceu.
– O que... O que quer dizer com isso?
– Os Roux... não são bons católicos. São Huguenotes, calvinistas de merda! – Sibilou, espalhando seu bafo.
– A religião não importa! O que importa é o caráter. Uma pessoa pode ser, digamos, atéia e ser uma boa pessoa, mas pode ser católica e ser uma pessoa horrível...
– O seu romance com Louise foi o que eu precisava para mandá-los embora. Obrigado, querido filho...
Henri saiu.