Quatre

68 12 87
                                    

Continuou. Durante todo o fim do inverno e início da primavera continuou. As cartas e os poemas nunca paravam de chegar. As cartas, inicialmente curtas, agora vinham com páginas. Contavam sobre suas respectivas infâncias, sobre os livros que haviam lido, as pessoas que tinham conhecido ao longo da vida. Os sentimentos eram deixados para os poemas.

As cartas, como sempre, eram entregues por Julien Roux, que, com o passar dos meses, foi desenvolvendo uma amizade com Henri. Foram meses maravilhosos, mas que logo seriam pisoteados e jogados em um poço de escuridão...

***

Foi no mês do aniversário de dezoito anos de Henri. Enquanto o salão de baile era enfeitado, o alfaiate da família Vincent tirava as medidas de Henri no quarto.

– Desculpe pela sinceridade, monsieur Henri, mas, se meus olhos não me enganam, o senhor não cresceu nada em um ano. Está sofrendo de alguma doença horrível?

Henri crispou os lábios e bufou.

– Se está aqui para comentar sobre minha altura e não fazer o que tem que fazer, saia!

O alfaiate baixou a cabeça e murmurou um:

" Me desculpe..."

***
Após uma cavalgada com Julien, Henri voltou para seu quarto. Qual não foi a sua surpresa ao ver seu pai mexendo nos papéis em sua escrivaninha... inclusive as cartas de Louise...

– O que está fazendo aqui?! – Henri tentou ser minimamente educado. François girou nos calcanhares com uma das cartas na mão. Balançou as páginas da carta no ar.

– O QUE É ESSA BESTEIRA?!

Henri ficou lívido.

– P-por... P-por favor, me devolve isso...

François não deu ouvidos ao filho e leu a carta em voz alta e em tom sarcástico.

– " Sempre sua, Louise Roux"

Parou de ler e olhou para o filho, que escondia o rosto entre as mãos.

– UMA FILHA DE EMPREGADO?! A FILHA DO MEU SECRETÁRIO, AINDA POR CIMA! O que tem a me dizer sobre isso, Henri-Philippe Vincent?!

Henri não respondeu, de tão envergonhado que estava. O digníssimo conde François Vincent continuou a falar:

– Pois EU digo o que achei disso: Isso é uma falta de vergonha! Afinal de contas... quem se interessaria por um rapaz tão feio e sem graça?! Quem amaria alguém como você?!

Ao ouvir essas palavras, Henri tirou as mãos do rosto. Encarou o pai com raiva, os olhos esverdeados que herdara da mãe faiscavam de raiva.

– Minha mãe me amava!

François riu.

– Lhe amava tanto que se matou!

– Se matou por SUA causa, pai!

– Você não pode ME culpar! – François riu e franziu o nariz. – você só pode SE culpar: A viu morrendo e ficou tremendo como um bebê...!

Henri saiu correndo e chorando. Foi para o jardim que sua mãe, como botânica amadora, plantara juntamente com um Henri cheio de inocência. Por um momento, quase se viu criança, correndo por ali e rindo enquanto sua mãe plantava mais algumas rosas...

Exausto, se sentou debaixo de uma árvore com um canteiro e dormiu, esperando que o sono que o pegasse fosse o da morte.

***

Acordou com alguém lhe sacudindo. Era Julien.

– Ahn?

– Seu pajem me mandou avisar que a roupa que você usará no dia do baile que comemorará seu aniversário já foi entregue.

– Ah...

Julien ajudou Henri a se levantar. Voltaram para o palacete. 

Sang ProtestantOnde histórias criam vida. Descubra agora