O grande dia havia chegado. Henri estava devidamente vestido, com seu traje de gala de seda verde-esmeralda. Henri respirou fundo e desceu as escadas. Todos os olhares estavam pousados no aniversariante. Cumprimentou os convidados desajeitadamente e ficou por ali, vendo os casais dançarem enquanto a suave música tocava.
Viu, em um lado do salão, seu pai rodeado por um grupo de idosas ridiculamente e espalhafatosamente vestidas que, na opinião de Henri, eram barangas com mais de sessenta anos.
Por incrível que pareça, não viu Carl, mas não se importou muito: Estavam brigados desde o episódio do soco, cinco meses antes, o que servira para afastar o francês e o prussiano de vez e para entortar ainda mais para o lado o nariz de Vincent.
" Por outro lado, ele sempre gostou muito de festas... Estranho."
Se esquivou das moças e foi até a varanda, apoiando as mãos no balcão. Lembrou de uma passagem de Shakespeare:
" Romeu, Romeu, onde estás?" , sorriu enquanto imaginava o quão mais interessante Romeu e Julieta seria se, ao contrário de Julieta, fosse Romeu quem estivesse no balcão suspirando por sua amada.
Seus pensamentos foram interrompidos por Julien:
– Olá! – Exclamou ele, sorridente. Henri sorriu ao ver o amigo:
– Como vai?! Soube que, semana passada, foi seu aniversário. Catorze anos. Muitos anos de vida, Mon Ami!
Julien deu um soquinho amigável no braço de Henri. Sorriu.
– Mas VOCÊ é quem merece os parabéns: Agora já é um homem. Um adulto.
– Mas com cara de criança. Não tenho barba ou bigode.
– Mesmo assim é um adulto. Como se sente sendo um?
– Não sei... normal...?
– Ah...
– Não vi a Louise no baile.
– Ela saiu com a Sophie-Marie Dousseau. A Sophie não se sente bem em bailes, e a Louise achou melhor acompanhar a Sophie.
– Sua irmã é um doce!
– Realmente. – Julien pigarreou. – Henri, você não escreveu mais... aconteceu alguma coisa?
Henri não disse nada. Julien suspirou.
– Foi seu...?
– Foi.
– Aquele idiota! Conde balofo de uma figa!
– É...
Julien se calou. Henri ficou olhando para a lua. Uma das crianças, filha de uma camareira, puxou a manga de Henri. O aniversariante se virou.
– P-Pardon, monsieur Vincent... Houve um acidente...
– Com quem, Jacques?!?!
– Louise... Roux...
– Merde! – Murmurou o nobre.
– Ela está no pátio, senhor!
– Obrigado pelo aviso, Jacques. Julien, vamos!