Corredores

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Rick acordou em uma cama, a luz do sol entrava pela janela do quarto, o cheiro familiar de panquecas preencheu seu nariz. Sua cabeça doía. Ele se levantou devagar esfregou os olhos. Olhou em volta, ele conhecia aquele lugar, sua antiga casa. Se dirigiu ao banheiro, ao olhar o espelho se viu, como era a sete anos atrás, com dezenove anos, cabelo cacheado, pele clara, sem sinal de barba pelo rosto. Ele levou a mão a suas bochecas, tocando suavemente cada milímetro.  Lavou o rosto, então escutou um barulho no primeiro andar, seu corpo enrijeceu involuntariamente, andou até a escada, passos leves, e então começou a descer.
Escutou mais barulhos, alguém estava mexendo com talheres, devagar, foi até a cozinha e então uma dor atravessou seu peito. Henry estava na cozinha, de costas para Rick, fazendo o café, como ocorria todas as manhãs. O jovem ficou imóvel, até que Henry percebeu sua presença.
- Porra amor, quer me matar do coração?
Silêncio.
- Acordou cedo, tá tudo bem? - Rick correu até ele, o abraçando forte, então, lágrimas começaram a a escorrer pelo seu rosto. - Ei, o que foi?
- N-Nada, nada. - O jovem ainda tentava assimilar o que estava acontecendo
- Calma amor, tá tudo bem. - Henry lhe deu um beijo no rosto, e então se virou para a mesa. - Vem, vamos tomar café.
Rick puxou uma cadeira, em frente a Henry, e se sentou. Fazia anos desde sua última refeição acompanhado. Ele começou a se lembrar daquele dia, vagamente.
A televisão estava ligada na sala, uma jornalista informava as notícias da noite anterior. Henry segurava seu smartphone na mão direita, estava no twitter.
Rick sabia o que estava por vir.
- Você viu os trends? Aquela infecção está em primeiro de novo, parece que um surto começou em uma cidade próxima. O exército está sendo enviado. Acha que eles vão conseguir conter dessa vez?
- Sim (não). - Sua resposta foi automática, a mesma daquele dia, a sete anos atrás, ninguém acreditava que a situação se tornaria o que se tornou, incluindo Rick.
- Espero que não seja igual em Tokyo, dizem a cidade caiu em três dias.
(Silêncio)
- A OMS disse que uma vacina deve ficar pronta no início do ano que vem, espero que estejam certos.
- Tomara. - Retrucou, sem emoção em suas palavras.
- Amor. - Henry ergueu as mãos, tocando as de Rick. - O que foi?
- Não é nada, foi só um sonho ruim.
Henry se levantou, caminhou, parando de frente ao jovem. - Levanta.
Rick obedeceu, se levantou, e então Henry o abraçou. - Está tudo bem, você fez o possível. - O tom de voz mudou, mais ríspido.
Mais lágrimas, seu peito doía.
Os dois permaneceram abraçados por alguns instantes, Rick ainda chorava.
- Amor, olha pra mim. - Henry sorriu, beijou levemente a testa do rapaz, e então se afastou. - É hora de acordar!
Rick abriu os olhos e se deparou com o teto do corredor, sua cabeça ainda doía. Se levantou cm dificuldade, apoiando na parede, e então finalmente voltou a realidade.
Um cheiro doce do café da manhã foi substituído por um odor forte e podre que fez suas narinas arderem. Então, como um choque, ele percebeu o que estava acontecendo. A horda, estava se aproximando, estava muito próxima. Ele se levantou, correu até a janela, e ao olhar novamente para fora, o nervosismo voltou a tomar conta, dezenas de zumbis, marchando em direção a entrada do edifício. Um corredor o avistou e disparou em sua direção, Rick o viu se aproximar, imóvel, a horda estava a cinquenta metros, e o corredor já havia chegado, estava escalando o prédio.
Rick olhou em volta, viu uma coluna de sustenção, em questão de segundos uma luz surgiu em sua cabeça.
Ele jogou a mochila no chão, vasculhando rapidamente o interior até encontrar uma granada.
- O que você vai fazer?
- Você já sabe.
- Tem mais três andares a cima, você não vai conseguir sair daqui a tempo.
Rick olhou na direção oposta, a parede do corredor havia desmoronado, revelando o exterior.
- Você vai morrer se pular.
- Tem uma piscina daquele lado. Vou pular nela. Quando a horda estiver aqui dentro o prédio vai cair sobre eles.
- Todos os zumbis da região vão ouvir, vai atrair mais hordas.
- Eu não vou estar aqui pra descobrir.
- Isso contando que a piscina vai estar cheia, se nada no caminho, sem mortos dentro dela.
Rick ignorou, a horda já havia começado a entrar.
Uma batida forte na janela fisgou a atenção, o corredor, estava tentando quebrar o vidro. Rick o encarou, então sacou a arma e disparou, o derrubando.
- Quatro - sussurrou.
Então voltou a atenção para a granada, correu até a janela e olhou para baixo, os últimos mortos entravam no prédio, ele já ouvia o ranger do primeiro degrau da escada.
O desespero começou a tomar conta de todo o corpo. Ele correu até o pilar, apreensivo, com a mão trêmula, puxou o pino, largou a granada e disparou na direção oposta.
Um zumbi apareceu na escada, suas mãos apodrecidas alcançaram o braço do rapaz, que revidou acertando um soco em cheio no rosto da criatura, que caiu para trás.
Poucos passos até alcançar a abertura, sua boca estava seca, seu coração quase parando. Então um estrondo invadiu seus ouvidos, o barulho da estrutura desmoronando se aproximou de Rick antes de saltar para fora do prédio.

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