Ruínas

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Já haviam passado duas horas desde o início da caminhada que levou o jovem até a ruína do que um dia foi uma cidade. A vegetação havia tomado conta dos edifícios, e a infiltração acabou fazendo com que alguns viessem ao chão.
Rick olhava em todas as direções, procurando algum sinal de perigo, até que uma coisa o chamou a atenção, um rastro em meio a uma avenida a frente, marcas de uma horda. O processo de decomposição dos zumbis é algo extremamente lento, e que pode ser ainda mais retardado quando estão em uma horda, o gás metano, produzido pelo material em decomposição forma um ambiente que preserva a estrutura dos mortos. De alguma forma, os zumbis sabem disso, e com o passar do tempo, com a falta de alimento, eles começaram a se agrupar, formando hordas cada vez maiores, destruindo qualquer vestígio de vida pelo caminho. Essas hordas foram as responsáveis por derrubar as últimas cidades e postos avançados das forças armadas. Ao contrário do que todos os governos do mundo se esperava, o tempo apenas fortalecia a ameaça zumbi.
- Acho melhor você contornar a cidade.
- Tem um lago, mais a frente, preciso chegar lá pra pegar um pouco de água
- Aquelas marcas são recentes, eles ainda estão por aqui.
- Devem ser os mesmos do mês passado, é uma horda pequena, vou entrar e sair antes que sintam meu cheiro.
- Rick, olha a largura daquele rastro, devem ter dezenas deles. Não são como o de mais cedo, eles estão mais preservados, são mais rápidos.
- O lago é logo depois aquele prédio. - O Henry olhou para a direção que Rick apontou, a trezentos metros de distância, uma ruína de um prédio. - eu vou entrar, subir até o terceiro andar, olhar em volta e ir atrás da água, se estiverem por perto eu saio de lá antes que me percebam.
- Não acho uma boa idéia.
- Mas é o único jeito.
O jovem caminhou até o prédio rapidamente. Suor escorria sobre a a testa e as mãos estavam trêmulas. Os zumbis vagantes tinham alta capacidade olfativa e auditiva, conseguindo identificar um alvo a quase um quilômetro de distância, mas em compensação sua movimentação era lenta e errante. Já os zumbis de horda eram completamente o oposto, a presença amontoada de mortos vivos reduzia o alcance do olfato e audição, mas a diminuição da decomposição proporcionava um porte físico melhor, alguns eram capazes até mesmo de correr e escalar obstáculos, os "corredores" como ficaram conhecidos no começo da Pandemia.
Rick entrou pela portaria do prédio, havia várias ossadas carbonizadas, espalhadas pelo chão, adultos, crianças, animais, tudo, lembranças do que aconteceu nos primeiros instantes do surto. O jovem engoliu seco, caminhou até as escadas, ouvidos atentos, nada, colocou o pé direito sob o primeiro degrau, que rangeu levemente, o coração estava acelerado, sua mão suava frio, parte por causa do nervosismo e parte por causa da falta de sono. Começou a subir, devagar, fazendo o mínimo de barulho possível, chegou ao segundo andar, mais ossos pelo corredor, paredes manchadas pelo fogo, marcas de arranhões desciam pelas portas que sobraram. Um calafrio percorreu todo o corpo enquanto se preparava para subir mais um andar. O silêncio era absoluto, o que contribuía mais para a tensão. Terceiro andar, não haviam mais ossadas no chão, apenas vegetação que havia tomado conta das paredes. A frente da escada havia uma janela, o vidro estava coberto por poeira e musgos, Rick se aproximou devagar, e após segundos de hesitação colocou a mão sob e a limpou, olhou para fora, viu o lago, cerca de cem metros de distância, o céu estava limpo, era em torno de 08:00 hrs da manhã, nenhum sinal da horda. Respirou fundo e suspirou aliviado. Em seguida, algo agarrou sua perna. Todos os músculos de seu corpo paralisaram, instintivamente ele olhou para baixo desesperado, seus olhos se arregalaram, um morto, metade de um, agarrado a sua perna. Pânico, Rick caiu no chão, batendo a cabeça na parede. O impacto fez tudo girar a sua volta, desestabilizado e em completo desespero, o jovem começou a deferir chutes contra o rosto da criatura, que se aproximava cada vez mais. Sem sucesso, e em uma medida de totalmente drástica ele sacou a arma, disparando contra o crânio do morto vivo. A adrenalina tomou conta do corpo, fazendo sua cabeça rodar mais ainda, deitado no chão, olhos fixos no teto, respiração ofegante, sua visão se embaçou lentamente, até que tudo escureceu.

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