A escuridão necessária pra uma noite tranquila

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Eu acordei bem indisposta no dia seguinte, e tenho certeza de que poucas coisas poderiam mudar isso. Toda aquela história havia me cansado muito. Eu ainda lidava com a culpa de ter magoado alguém que nada me fez. Meus sentimentos sempre foram o norte da maioria de minhas decisões e atitudes, tanto boas quanto ruins. Aly já me disse várias vezes que um dia isso seria destrutivo, mas eu não entendia o lado dele, isso pq eu não sei como alguém tão estático e racional poderia falar com suficiente proficiência sobre sentimentos.
  Me vi em tempo de rever algumas atitudes, do nada parecia que toda a minha vida estava girando bem na minha frente, ao passo que somente o que eu fazia era pensar em qual seria a próxima roupa que eu compraria. Eu estava simplesmente vivendo meus sentimentos por tudo e por todos, sendo só mais uma escrava dos meus próprios sentidos.
   -Estou disposta a amadurecer pelo menos o mínimo - pensei decidida.
  Fiz as rotineiras higienes diárias, me vesti e fui pra escola, mais cedo que o comum. Ao chegar lá, me deparo já com a minha primeira chance de agir:
  -Argh, eu não suporto aquele garoto, desde que ele chegou todos os vêem como o centro das atenções! Até a Akyra ta diminuindo o tempo comigo por causa dele. O lugar dele não é aqui. - Jessy falava enquanto sentada numa mesa.
Abaixo dela, uma roda de cadeiras com alguns sentados; Aly estava com um livro na mão a ler, sem dar a mínima atenção às preocupações da garota. Gabriel e outra menina também estavam lá. Eu não hesitei:
  -Eu ter me afastado de você não tem nada a ver com ele. Você não diria nem metade do que está dizendo se soubesse pelo quê ele passa.
A mesma se virou surpresa:
  -Olha só quem chegou! Você veio mais cedo que o comum hoje.
  Nesse momento Aly pareceu se interessar na conversa, e por isso fechou seu livro e passou a prestar atenção na situação que ali se passava.
  -Vocês ficam olhando como se ele fosse de outro mundo, e esse é o motivo dele estar internado agora. Me desculpe, mas isso me provoca nojo de você.
  Aly me olhou e deu um sorriso de canto de boca, como um sinal de aprovação. Parece que finalmente eu fiz algo que me livrasse daqueles pesadelos que me afligiam até enquanto eu ainda estava desperta, que me fez me sentir no mínimo satisfeita por ter feito o certo.
  Jessy simplesmente me olhou, me encarou e saiu dali. Arrependimento? Nenhum. Aly sorria pra mim como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo pra ele. Eu fui pra sala, e alguns segundos antes da aula começar, senti uma mão em minha cintura, um abraço inconfundível, me arrepiou até os mais profundos pontos de meu corpo, e senti uma voz grave, porém suave, voz em meus ouvidos:
   -Eu disse que não era impossível... Estou muito orgulhoso de você, anjo.
  Ele disse isso em meus ouvidos, mas o impacto daquelas palavras aqueceu até entre meus ossos, e sentir o beijo em meu pescoço que ele desferiu após dizer aquilo foi simplesmemte uma das melhores sensações que eu tive em tempos.
  Virei levemente meu pescoço para seu lado:
   -Ouvir isso de você faz toda a diferença, eu te amo muito...
  Virei meu corpo pra ele e o abracei forte, os braços dele eram os melhores escudos que eu poderia querer, ele me deixava segura em simplesmente qualquer situação, e seus dedos em meu cabelo como que sugavam de mim com toda força todos os medos que eu eu estivesse sentindo. Ele era como uma grande barreira de neve perene entre mim e todos os meus problemas, que simplesmente nunca derrete, não importa a temperatura posta sobre ela.
  Esse seria o dia de comprar nossas roupas, e sem o Astro, internado, e meus pais, muito ocupados, eu estava simplesmente querendo uma companhia. Não pensei dias vezes:
  -Ei, vamos fazer nossas compras hoje?
  -Não perderia isso por nada...
  -fico feliz em saber disso! - solto um sorriso bobo.
  Eu cheguei em casa sorridente aquele dia, e passei boa parte da tarde fazendo tratamento na minha pele, até chegar a hora de ir pro shopping. Me arrumei com roupas pretas e no estilo gótico, são as preferidas do Aly. Chamei um Motorista de Aplicativo e fui pra entrada 3, onde combinamos de nos encontrar. Ele estava com o cabelo meio bagunçado e sua pele estava branquinha como um floquinho de neve. Mas dessa vez isso não era motivo de preocupação, isso porque Aly tem uma ligeira fixação pelo padrão de beleza coreano.
  -Oi, não queria dizer nada não, mas você está simplesmente linda.
  -Ei seu bobinho, assim você me deixa com vergonha!! - sorrio corada enquanto o abraço.
  -E então, vamos? Temos uma noite toda aqui.
  -Claro!!
  Enquanto caminhávamos sem pressa pelo shopping, eu comecei a olhar o rosto dele sem que ele percebesse, e pensei bastante sobre tudo que ele significava pra mim.
  Fazia dois anos que eu o conhecia e a gente tinha se afastado por um tempo. Nós brigamos uma vez porque ele me abraçou e me girou na frente de um velho amigo dos meus pais, e isso causou um problema pra mim. Eu achei que nunca íamos conversar de novo quando eu descobri que ele tinha invadido meu telefone. Aquilo me deixou realmente irritada. Mas nós voltamos, e como voltamos...
Ele mudou bastante entre o garoto prepotente que me conheceu e o garoto de gelo e ouro que eu mal reconheci quando voltamos a conversar.
Ele simplesmente se tornou tudo que eu mais queria, como se tivesse passado todo o tempo em que ficou afastado de mim aprendendo o melhor jeito de me deixar feliz.
  Enquanto eu ainda olhava, ele como que derrubou em mim um balde de água fria, me lembrando o porquê de eu ser tudo, menos discreta:
  -espero que seja por bem que esteja me olhando a três minutos, neném... - o mesmo disse com um um bem-humorado sorrisinho sarcástico.
  Fiquei com vontade de enterrar minha cara no chão de vergonha, mas sabia que era só mais uma demonstração do quanto ele me amava:
  -poxa, garoto!! Você existe?
  O abracei novamente, e pensei comigo mesma:

  "Existe... que bom que existe..."
 

 

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