O garoto diferente

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   Aargh!! Bocejei e acordei meio atordoada, meio sem entender porquê esse maldito despertador tocou tão cedo. Estava já percorrendo meus pensamentos sentada na cama, até lembrar-me de que era meu primeiro dia de aula, e de que, calculando o tempo que perdi naquele vagaroso despertar, estava bem atrasada.
   Levantei-me rápida e apressadamente... Onde está meu secador?! Droga! Ele sempre some. Pelo nível de ansiedade no qual eu estava pra esse dia eu concerteza devia ter me lembrado de separá-lo, como fiz com todos os materiais e objetos dos quais eu precisaria hoje.
   Corri então pra suíte, tomei um banho gelado, tanto a ponto de refrescar até minhas idéias e expectativas pra esse reinício de ano letivo, enquanto o tempo girava o relógio com costumeira pressa.
   Achando meu até então perdido secador dentro do cesto de roupas sujas, ao secar meus longos e lisos cabelos loiros, vi-me quase pronta... maquiagem? Me poupe, não preciso disso. Tenho só dezesseis anos e já desperto olhares e desejos de todos os garotos de minha escola, até os mais velhos.
   -Akyra! O que é isso? Essa definitivamente não é a mais decente vestimenta disponível no seu guarda-roupas, principalmente pra escola!
   -Ah, mãe! Me deixa! Eu gosto assim, e quero usar assim!
   -Saia da minha frente, antes que precise subir novamente pra se trocar.
   Isso me aborrece muito. Sempre tem alguém pra falar das minhas roupas. Eu não mereço ouvir tudo isso! O mundo seria um lugar bem melhor se cada um cuidasse só da própria vida. Ah, que se dane, vou logo pra escola antes que eu me atrase ainda mais.
  -Eu estou profundamente decepcionada com o fato de estar nessa escola a quatro anos e ver os mesmos garptps feios todo ano! - Exclamou Jessy, minha melhor amiga.
  -Ah, não seja tão exigente, tem uns do nono ano que são até bonitinhos...
   -Nós somos do PRIMEIRO ano, Akyra. Não adianta nada.
   -bem, pelo menos um ou dois novos chegaram...
   Uma rígida e muito amarga voz nos interrompeu, bem característica de Carlo, Aquele velho e rabugento professor de ciências naturais.
   -Sentados, já! Iniciarei a aula em um minuto.
  O obedeci rapidamente, já não vendo a hora do intervalo, dito que ciências naturais era a matéria mais entediante que podíamos estudar. Enquanto eu ainda me sentava, chegou, ainda mais atrasado, um garoto, alto e bem gordo, muito estranho na verdade. Me perguntei o que alguém como aquele garoto podia fazer, e logo descobri...
   -bem... não pretendo fazer nenhuma prova diagnóstica, eu literalmente não me importo com o que vocês aprenderam ou deixaram de aprender, por isso farei algumas perguntas, e quem obter êxito em respondê-las será acrescido de um ponto e meio na média bimestral, sem rodeios.
  Gelei por dentro, ao lembrar-me de que eu tenho pais simplesmente muito exigentes quanto às minhas notas.
   -Ano passado ensinamos muito a vocês sobre a luz solar. Alguém se habilita a fazer observações coerentes sobre a mesma?
   -É quente, professor! - Exclamei animada.
   -Me poupe, garota. Apenas fale quando for sair algo útil de sua boca. Mais alguém?
  Olhei à minha volta, até ver uma grande e volumosa mão se erguer. Era o garoto estranho.
   -Pois não, garoto? Seu nome e o que tem a dizer, por favor.
  O percebi ligeiramente tímido, mas logo encontrou suas palavras:
   -Anh... Me chamo Astro, senhor. A luz solar leva por volta de oito minutos pra atingir o planeta terra. A luz Branca é uma mistura de todos os comprimentos de onda, do espectro visível e invisível.
  -Interessante. Sabe algum jeito de separar essa mistura?
  -É simples, senhor. Basta fazer a luz branca passar por um prisma.
  -Muito bem colocado, pelo menos alguém aqui sabe o que falar.
  Me vi ligeiramente impressionada, mas sei que ele nem é tudo isso, concerteza é só mais um nerd que quer inflar seu ego pra se esquecer daquele corpo gordo e feio que tem. Aliás, inda bem que ele se senta do outro lado da sala.
 

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