Inocência

216 22 2
                                    


    – Henrique.....
    Henrique era o assassino, o que faria Amber naquela situação? O corpo dela não se mexia, os seus sentidos se esvaiam aos poucos, justo quando tudo parecia haver uma mudança, ela tinha nele um porto seguro, e agora, como sobreviveria a jovem àquela situação, ela tinha estabelecido uma relação carnal com o assassino, todos os esforços teriam sido em vão?
    Momentos antes, dentro do carro, Lucy e o Sr. Willians se preparavam para ir até Amber.

    – Escuta aqui Willians, não viemos aqui para espionar ninguém, queremos conversar com a Amber e saber se ela está bem!
    – Eu sei Lucy, mas pense bem, e se ela for o assassino? Teríamos a chance de prender um serial killer e sermos reconhecidos pelo mundo, não seria incrivelmente excitante? – Disse o chefe enquanto passava a mão na coxa de Lucy.
    – Se quisesse passar a mão em mim era melhor ter me levado ao motel, e não até aqui. Aliás, você que tomou a iniciativa de vir aqui, me chamou, disse que queria conversar com ela, e eu logo assumi que seria para apoiá-la, mas agora estou começando a achar que não é bem isso!
    – Eu vim para demiti-la!
    – Assim, em pleno domingo? Que história mal contada é essa Willians!?
    – Escuta! Eu gosto da Amber, do trabalho que ela faz no escritório, mas e se ela estiver realmente matando aquelas pessoas? Nós seríamos os próximos!!
    – Não respondeu a minha pergunta, por que agora, de noite, em pleno domingo?
    – Eu queria bisbilhotar um pouco, não viu aquele programa na TV, as várias viaturas pela cidade, o FBI em ação? Tudo isso por causa de uma pessoa, e esta pessoa pode estar naquele prédio!
    – Cansei disso, quero ir embora, você está começando a me dar medo com essa obsessão sem fundamento.
    – Calma, não é isso, eu só quero o bem para a cidade e para quem... –Neste momento Willians avista Amber saindo do apartamento.
    – Aquela não é a Amber? – Pergunta Lucy.
    – Ela mesma! Agora que ela saiu vamos subir e dar uma olhada, quem sabe conversar com algum vizinho dela.
    – Você fala como se fosse um profissional!
    – Que se dane Lucy, eu quero saber a verdade sobre esta menina, vamos logo! – Quando Willians abria a porta do carro pôde ver uma pessoa de capuz preto entrando no prédio de Amber.
    – Droga Willians, e agora!? Quem é aquela pessoa?
    – Um morador talvez.
    – Vestido daquela forma, muito suspeito.
    – Vamos entrar de qualquer forma!
    – Você enlouqueceu? E se for o assassino?
    – Mais uma chance de pegar o tal assassino!
    – O que deu em você? Que senso de justiça é esse? De repente quer se tornar um herói! Sei que é um advogado renomado, mas não um policial, ou um soldado de guerra.
    – Lucy, para de ser tão chata.
    – Só estou dizendo que você pode acabar morrendo!

    Antes de responder a Lucy, Willians avista Amber retornando.

    – É agora Lucy, vamos descobrir a verdade.
    – Temos que ir lá para ajudar, e se ele foi para matá-la!? Vamos ligar para a polícia!
    – Nada de polícia, vamos nós mesmos, se aquele que entrou for o assassino, então serão 3 contra 1.

    Os dois aguardam Amber subir, e logo em seguida sobem atrás. Dentro do apartamento Henrique ainda se mantinha calado.
   
    – Porque Henrique, de todos, justo você!!
    – ......
    – E agora, vai me matar, vai acabar com tudo isso como dizia nas cartas?
    – Amber, você mentiu para mim? – Perguntou Henrique.
    – O quê? Que história é essa de mentir?
    – Sobre essas “cartas”, quais cartas?
    – Mas....Você.....Suas cartas!!
    – Eu não sei do que está falando Amber!
    – Então o que veio fazer na minha casa, porque está vestido assim, e como sabia aonde eu morava se eu nunca te trouxe aqui justamente por não me sentir segura!!!!
    – Calma! Deixe-me explicar. Naquele dia, a pessoa de capuz como pode ver, era eu, mas eu não sou o assassino!
    – Então diga o que está fazendo aqui, agora!
    – Sobre aquele dia, eu te segui, assim que saímos da lanchonete, vim saber aonde morava e se estava bem. Logo em seguida eu fui para casa, tomei um banho e troquei de roupa, mas como não conseguia dormir acabei vindo até a sua rua, só queria passar por aqui.
    – ......
    – Vi que a luz estava acesa e fiquei olhando, na esperança de te ver, e de fato eu vi, porém você também me viu. Sei que estar vestido assim não ajuda muito e sei que ficou com medo naquela noite, mas foi por isso mesmo que vim vestido assim hoje, para me explicar.
    – Eu não consigo, não consigo acreditar no que está acontecendo.
    – Amber, mais uma vez, eu não sou o assassino! Quero que acredite na minha inocência, a verdade é que desde o dia que fomos interrogados eu comecei a te ver por outros olhos. Muitos na sala te achavam estranha, nunca chegaram a lhe fazer mal ou alguma brincadeira que a ofendesse, porém sempre falavam pelas suas costas te categorizando das piores coisas, e por muito tempo eu acreditei, por isso fui agressivo com você quando trocamos nossas primeiras palavras.
    – Henrique, eu sinceramente não consigo processar tudo isso, estou vivendo um pesadelo, e chegar aqui e te encontrar assim, eu não consigo, simplesmente não consigo.
    – Então compartilhe comigo Amber, eu quero te ajudar, me diga que cartas são essas, me diga se alguém está realmente te ameaçando, quero superar tudo isso ao seu lado, é difícil pra mim também viver sob essa constante ameaça de ser assassinado, todos se sentem assim,  mas juntos podemos aguentar.
    – Henrique, eu gostaria que fosse embora!
    – Mas Amber...
    – Por favor Henrique!
    Quando o rapaz começa a sair lentamente, Lucy e Willians surgem.
    – Quem são vocês?? – Pergunta Henrique.
    – Chefe, Lucy! O que fazem aqui?
    – Oi Amber, senti saudades. – Disse Lucy sem jeito.
    – Boa noite a todos. Ehh, viemos aqui para ver como estava Amber. – Disse o chefe.
    – A essas horas, de um domingo? – Amber questiona.
    – Também perguntei isso a ele. – Diz Lucy olhando para o chefe.
    – Se pudéssemos entrar e conversar melhor, acho que as coisas seriam mais bem esclarecidas. – Exclama o chefe.
    – Tudo bem então, entrem, você também Henrique, já que estamos todos aqui. – Anuncia Amber.

    A vizinha do andar de baixo aparece e pergunta se está tudo bem, sentiu a formação de um pequeno tumulto e agora que parecia estar passando resolveu saber da situação de Amber.

    – Oi vizinha, boa noite. Está tudo bem, alguns amigos vieram me visitar.
    – Quanta gente, pensei que estivessem brigando ou coisa do tipo.
    – Não, estávamos conversando, desculpe se a incomodamos, já vamos para dentro de casa.
    – Tudo bem, só quis ter certeza se estava tudo bem mesmo, muitas pessoas conversando na escadaria, as paredes são finas e o som entra todo dentro de casa, meus filhos estão dormindo, inclusive o mais velho, como ele precisou ir trabalhar hoje, chegou cansado. Agradeço por irem conversar dentro de casa.
    – Claro claro, mais uma vez, desculpe incomodar.

    Todos entram, o clima fica estranho, Henrique e Willians ficam se entre olhando, Amber percebe o desconforto e logo pergunta:

    – Então Lucy, chefe, o que vieram fazer aqui?
    – Amber, vou direto ao ponto! – Diz o chefe olhando seriamente para Amber. – Eu desconfio que você seja o assassino!!
    – Não é a primeira pessoa que desconfia. – Fala Amber dando uma risada irônica.
    – Não dê ouvidos a ele Amber, já sabemos que ele não bate bem das ideias só de estar aqui numa plena noite de domingo. – Comenta Lucy.
    – Esta é outra questão deveras importante. Por que estão aqui juntos?
    – Tudo bem, não vou me fazer de inocente, Lucy é como se fosse a minha secretária “particular”, se é que me entende. – Diz o chefe.
    – Amante. – Retruca Henrique.
    – E você meu jovem, quem é você e o que faz aqui a essas horas de um domingo vestido desta maneira? Eu até escutei a conversa de vocês, mas isso ainda não me convenceu, assim como não convenceu a Amber, correto Amber? – Perunta o chefe um pouco alterado.
    – ...... – Amber não responde.
    – Somos amigos, e vim esclarecer um mau entendido. – Responde Henrique.
    – Pelo jeito não esclareceu muita coisa! E que história é essa de carta Amber? – Torna o chefe a questionar Amber.
    – Prefiro não comentar sobre isso, pelo menos não agora.
    – Para a polícia então!? – Questiona o chefe.
    – Senhor, o momento não é o mais propício.
    – A polícia te visita muito Amber, isso não é normal, e como você trabalha para mim, eu quero explicações!!! – Fala o chefe já nervoso.
    – Desculpe senhor, isso não tem a ver com você, e eu não posso expor as coisas assim.
    – Amber, você está demitida! Amanhã passe no escritório e pegue as suas coisas, não quero mais te ver. – Sai o chefe batendo a porta de Amber.
   
    Amber começa a chorar, e antes mesmo que Henrique pudesse falar alguma coisa ela o expulsa. Ele sai de cabeça baixa, novamente pensa em dizer algo mas desiste logo em seguida.
    Lucy vendo a situação pede para ficar, para passar a noite ao lado de Amber.

    – Não sei o que aconteceu entre você e esse tal de Henrique, mas ele é um gatinho. – Falou Lucy enquanto abraçava Amber.
    – Você realmente não tem muita noção né Lucy!? – As duas dão risada.
    – Não precisa contar toda a história ou começar a chorar feito uma louca, só quero que se acalme. Vamos ter uma noite de meninas, já que não há mais necessidade de ir trabalhar. – Lucy dá uma risadinha querendo encorajar Amber.
    – Sim, você está certa, preciso pensar num plano B, não posso parar minha vida por causa disso. – Amber fala enquanto enxuga as lágrimas.
    – Seria bom ter uns apetrechos aqui, tipo um secador, uma chapinha, maquiagem, esmalte, qualquer coisa!
    – Desculpe, casa errada, não tenho nada disso aqui. – Riu Amber.
    – Sempre a sem graça, que mulher largada você é, não sei como aquele menino lindo veio atrás de você.
    – Pois é, está aí uma coisa que eu não sei....
    – Sem drama, vamos tentar nos distrair um pouco.
    – Tudo bem!

    Apoio emocional, coisa que Amber praticamente não tinha na vida, exceto pelo acompanhamento psicológico que teve na infância. Tinha medo de criar uma intimidade com Lucy, nada nunca era o que parecia.
    Lucy sentia muito por Amber, suas intenções eram verdadeiras, queria ajudar, uma alma boa e solidária que habitava no meio da lama suja e corrompível do purgatório.

Na Ilha do Purgatório (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora