Um Tempo Antes da Verdade

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    Amber voltava para casa pelo metrô, com o sentimento de que tinha feito a coisa certa, tinha um pouco de peso na consciência, por mais que a denúncia tivesse sido anônima, em teoria só ela sabia que outro assassinato ocorreria. Olhava fixamente para o chão do metrô quando alguém se aproxima e pede licença para sentar-se ao seu lado, ela levanta os olhos para responder e dá de cara com Dylan, a jovem congela, o rapaz se senta ao seu lado e pergunta:
    – Você é a Amber certo?
    Amber nervosa quase não conseguia pensar.
    – Si..sim, meu nome é esse mesmo.
    – Te encontrei em boa hora Amber.
    – Como?
    A jovem já não entendia mais nada, ele a conhecia? Sabia seu nome e tinha algo a lhe dizer! O coração já estava saltando pela boca.
    – Recebi uma carta...
    – Ai meu Deus!!!!!!
    – Calma, não se espante. – Sorriu Dylan.
    – Que carta seria essa?
    – Na carta dizia que você me observa a algum tempo, em locais públicos, nos arredores da faculdade, e se você me observa nesses locais presumo que me observe em sala de aula também, estou certo?
    Amber algumas vezes realmente fez o que estava escrito na carta, com pouca frequência, mas fez. O que isso significava? Amber extremamente envergonhada confirmou.
    – Sim, me desculpe, eu te observo bastante, algumas vezes te observei nos arredores da faculdade em cafés, até mesmo naquele boliche que os alunos frequentam depois das aulas.
    – Nossa!! É muita informação de uma vez só. Resumindo, você é uma stalker?
    – Mil desculpas!
    – Afinal por que eu? Entre tantos caras populares na sala você colocou os olhos justo em mim!?
    – Sempre te achei um cara muito bacana.
    – Sinto muito, mas eu gostaria de dizer que não tem como corresponder suas expectativas, estou saindo com uma pessoa.
    – Ah não, tudo bem, fique tranquilo! Eu só queria saber uma coisa, quem te entregou essa carta?
    – Engraçado, a situação só fica mais estranha. – Sorriu Dylan. – Há uns 3 dias eu achei essa carta na minha mochila.
    – Achou na sua mochila?
    – Pois é, achei. Pelo tipo de carta eu até pensei que poderia ser alguma brincadeira dos meus amigos da classe, porém não tivemos aula esses dias, a não ser que eles tenham colocado antes do que aconteceu com a menina morta.
    – Ou alguém colocou na sua mochila enquanto não estava vendo.
    – Agora eu fiquei confuso, por que alguém faria isso?
    – Sei lá, alguém que não gosta de mim que queria me entregar. – Sorriu Amber sem graça.
    – Faz sentido.
    – O que estava fazendo quando achou a carta na mochila?
    – Estava esperando o ônibus para ir trabalhar quando fui pegar um lanche na mochila, estava com fome, aí eu achei a carta.
    – Desculpe ser tão intrometida, mas você está voltando do trabalho agora certo?
    – Sim, geralmente eu saio mais tarde, mas hoje teve uma festinha aonde trabalho e todos largaram mais cedo.
    – Saindo mais cedo ou mais tarde, acabou de dizer que no dia em que achou a carta você estava esperando o ônibus correto?
    – Sim.
    – Então por que está voltando de metrô agora? Deveria estar voltando de ônibus!!
    – Isso é um interrogatório? Eu que vim buscar satisfação da carta e eu que sou interrogado. – Dylan dá risada.
    – Desculpe, se não quiser, não responda.
    – Eu respondo sim, só achei a situação engraçada. – Continuou sorrindo.
    – .....
    – No dia em que achei a carta eu tinha saído com a minha namorada, fomos ao shopping, de lá eu fui trabalhar. Aproveitamos que as aulas estavam suspensas.
    – Entendi! Mais uma vez me desculpe ser intrometida, e me desculpe mais ainda por ficar te stalkeando.
    – Sem problemas, só quis resolver isso antes que chegasse aos ouvidos da minha namorada.
    – Obrigado pela compreensão.
    – De nada. Bom, eu desço aqui, até amanhã na aula.
    – Até.

    Amber ainda estava vermelha de vergonha, mas preocupada com a carta, provavelmente foi o assassino que a colocou na mochila dele, agora ela sabia que Dylan também poderia ser uma vítima. Duas estações depois a jovem desceu e seguiu para o seu prédio.
    Zona norte de Manhattan, dentro da viatura, detetive Adams, policial Jackson, e diretor Franklin.
    – O quê!?
    – Isso mesmo detetive Adams, ele me ligou e disse essas mesmas palavras que estou lhe dizendo.
    – Depois precisamos grampear o seu telefone, e tentar rastear de onde veio a ligação dele. – Diz o policial Jackson.
    – Ele quer me usar para informar o que vai acontecer, como vou reagir a isso?
    – Calma senhor, vamos colocar agentes para vigiá-lo 24hrs!
    – Ele previu isto também.
    – O senhor disse, porém o que ele poderia fazer contra policiais armados?
    – Espero que esteja certo policial.
    – Sem dúvidas, não é mesmo detetive Adams?
    – Ah sim, claro! Olhem só, chegamos ao endereço da Catherine.
    – Oh Deus, espero que tenhamos chegado a tempo! – Disse o diretor.
    Os policiais se posicionam ao lado de fora da residência, as luzes estavam acesas, de fato havia alguém em casa. O detetive Adams bateu na porta e chamou por Catherine, sem respostas, decidiram arrombar.
    Eles invadiram, a sala vazia, a TV ligada, nenhum sinal de pessoas, mais uma vez chamam pela jovem, novamente sem respostas, os policiais se espalham para procurar, era uma casa grande, o diretor ficou no lado de fora, o policial Jackson desceu ao porão, o detetive Adams permaneceu na cozinha. De repente alguém grita chamando pelo detetive Adams e pedindo por uma ambulância, encontraram Catherine.
    No sótão, pendurada pelo pescoço, roxa, com os olhos saltados para fora, urina espalhada pelo chão, lá estava Catherine, morta. O detetive sobe ao sótão, logo atrás dele, muito eufórico sobe o diretor, ao ver a cena cai em profunda lamentação, o detetive o ampara, rapidamente o diretor começa a praguejar o assassino, contudo o policial Jackson que adentra na cena do crime o contesta dizendo que não foi um assassinato, foi um suicídio, as pessoas no recinto se entre olham, um suicídio? Por quê?
    Por trás do corpo pendurado da jovem, na janela do sótão o detetive avista um papel, rapidamente coloca luvas e pega o papel, começou a ler o que estava escrito.

    “Pai, mãe, me desculpem por isso, já não aguentava mais a pressão, as ameaças foram constantes nesses últimos dois dias, vocês e a Elise saíram de férias, o retorno de vocês está próximo, por isso queria dar logo um fim nisso, ele ameaça a vida de todos e eu não quero que isso aconteça, não posso permitir, ele me vigiava constantemente, até mesmo sentia sua presença rodeando a casa, já não conseguia mais dormir de medo, desde que recebi aquela maldita carta tudo mudou, com a minha morte ele provavelmente deixará nossa família em paz. Não quero contar mais do que o necessário para que não se envolvam, porém tem uma pessoa ameaçando vidas por aí, não sei por que ele me escolheu, não sei por que ele se interessa tanto em ver as pessoas sofrerem, só quero pôr um fim nisso.
Amo muito vocês, adeus.”

    Uma autêntica carta de suicídio, como devem ter sido os últimos suspiros de vidas de Catherine? Existia algum arrependimento em sua alma? Ela pôde se libertar, ou seu espírito continua preso na ilha do purgatório?
    – Que tipo de ameaças e perseguições essa menina sofria além de cartas, será que foram ligações assim como foi comigo? – Perguntou o diretor.
    – Não sei, vamos começar a investigação. – Respondeu o detetive Adams.
    – Pobre alma, recorreu ao suicídio.
    – Precisamos encontrar essas cartas e checar todas as ligações feitas para esta casa.
    – Detetive, acharam restos de papel queimado dentro de uma lixeira no banheiro do quarto dela. – Disse o policial Jackson.
    – Droga, nossas provas........
    – O senhor me parece meio distante detetive. – Diz o diretor.
    – Bom meu caro diretor, a morte desta jovem já é motivo o suficiente para se perder nos pensamentos, porém algo mais me incomoda.
    – E o que seria detetive?
    – Tem a ver com a denúncia anônima, mas é confidencial!
    – Entendo.
    – Por hoje é só diretor, volte para a sua casa e vá dormir, amanhã teremos aula não é mesmo?
    – Sim, você está certo, devo me retirar.
    – Se quiser que alguém te acompanhe!?
    – Não precisa, só me levem de volta para a faculdade, deixei meu carro lá.
    – OK. Boa noite senhor.
    – Boa noite detetive.

    Foi uma noite turbulenta, nem ao menos gritos se ouviram, o próximo dia se preparava para surgir e  Amber já em seu apartamento tentava estudar, passou tanto tempo sem aula e tanto tempo presa a essa trama fatal que mal se lembrava de suas matérias da faculdade, o dia seguinte marcaria um novo início, Amber otimista quanto ao que fez esperava pelo menos ter impedido a morte de alguém, não seria pedir demais que o assassino fosse pego em flagrante, mas isso provavelmente  era otimismo demais. Foi se deitar, e com a cabeça no travesseiro, com todas as forças, desejou que ninguém tivesse morrido.
Talvez ela tivesse desejado tarde demais!!!

Na Ilha do Purgatório (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora