O Aniversário do Artista

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“Tempos de aflição, angústia, é inexplicável o sofrimento que um pai e uma mãe sentem ao perder um filho ou uma filha, ainda mais daquela forma, amar significa sofrer, estar sujeito as maldades da vida. Filhos deveriam enterrar os pais e não o contrário”. Eram as palavras daquele que entrevistava os pais da jovem assassinada, o apelo pela busca e punição ao serial killer se espalhava na TV, as mídias usavam sua influência para de fato buscar o assassino ou para ganharem audiência? Seja como for, ambas as coisas estavam acontecendo.
    4 dias já haviam se passado desde os interrogatórios, a polícia não pôde divulgar o nome de possíveis suspeitos pois não havia informações suficientes para isso, os investigados continuavam sob parcial vigilância, ainda não estavam descartados.
    Já passava das 18hrs, o escritório estava movimentado, vários documentos e cartas tinham chegado do correio, a papelada não parava, e Amber trabalhava sem descanso.
    – Adoro quando o correio traz cartas, as vezes chegam algumas de admiradores secretos. – Disse Lucy.
    – Você deveria começar a trabalhar e esquecer essa história de admirador secreto, isso pode ser um problema. – Disse Amber.
    – Problema? Você não experimenta os prazeres da vida minha querida, ter alguém que te admira é no mínimo empolgante.
    – Se fosse só uma pessoa tudo bem, mas no seu caso são dezenas, sabe como se chama uma pessoa assim?
    – Como?
    – Puta!
    – Hahaha. Sei lá, talvez eu seja mesmo, mas não vejo problema nisso, não faço por dinheiro e sim por prazer!
    – Mas de vez em quando ganha algumas coisas certo?
    – Ganho, é uma consequência.
    – Engraçado você falar assim. – Riu Amber.
    – Me diz Amber, já perdeu a virgindade?
    – Não quero tocar neste assunto, principalmente com você!
    – Sempre na defensiva né, mas tudo bem, provavelmente deve ser virgem.
    – Não é a primeira pessoa a me chamar de imaculada.
    – Eu não usei esse termo, parece o termo que um padre usaria, um padre tarado.
    – Pois é, parece mesmo...
    Amber lembrou da carta, o assassino disse que não queria macular seu corpo, entretanto ela já não era mais virgem a muito tempo, quem a vigia este tempo todo não sabe disso? Alegando esta mesma pessoa que a jovem seria “imaculada”, e a comparação que Lucy acabara de fazer lhe trouxe uma reflexão, de fato o assassino seria um homem e ainda por cima um de meia idade.
    – Ei Amber, acorda pra vida garota, vamos organizar isso!
    – Fala como se estivesse ajudando.
    – Me dá metade, hoje estou boazinha.
    – Boazinha? Sabe que este é o seu trabalho né?
    – Passa logo a metade para cá antes que eu desista.
    – Pega essa parte aqui, se for correspondência de alguém separe e entregue.
    – OK.
    Seria uma pista saber que é um homem de meia idade? Na verdade, Amber já tinha noção que deveria ser um homem por causa da letra como Catherine descreveu, e teoricamente uma mulher não possui força suficiente para desmembrar e arrastar um corpo até o alto de uma escadaria, pelo menos não sem ajuda.
    – Olha lá na TV Amber, o diretor da sua faculdade está dando uma entrevista ao vivo. – Mostrou Lucy.
   
    Todos no escritório pararam para assistir.

    – Boa tarde a todos que nos acompanham, hoje iremos ter o pronunciamento inédito do diretor Franklin Kale da faculdade que foi escolhida como o palco do artista macabro, serial killer, e assassino conhecido como Buddha Puzzle. O que tem a nos dizer sobre isso senhor Kale?
    – Primeiramente não sei por que o chamam de serial killer sendo que ele matou apenas uma pessoa, e muito menos de artista, ele é apenas um assassino sádico.
    – Bom senhor Kale, interpretamos que uma pessoa ao fazer aquilo não vá parar com uma só vítima, por isso já o chamamos de serial killer, e artista, bom, se fosse só para matar ele não teria feito daquele jeito, ele quer mostrar algo, como se fosse algum tipo de escultura.
    – As pessoas criam expectativa em algo assim! Chamar de serial killer só fomenta a ideia deste bandido sanguinário, ele já deveria estar preso, e ter pego prisão perpétua.
    – Todos concordamos com o senhor, porém ninguém está incitando que as mortes continuem, o país quer a prisão deste monstro, só estamos usando esses termos para descrevê-lo de todas as formas possíveis.
    – Chamando-o de artista?
    – Como eu disse, é só um termo.
    – Um termo? Isso é um incentivo, chamar alguém de artista só faz com que essa pessoa se sinta motivado a continuar criando suas obras de arte. A mídia só quer audiência.
    – Não é bem assim senhor Kale, estamos tratando de algo sério.
    – E eu sei muito bem disso. Não me voluntariei a vir aqui para ficar discutindo sobre isso.
    – Então para que o senhor veio?
    – O conselho da faculdade se reuniu e decidiu retomar as aulas amanhã, sabemos que ele não foi preso, contudo, não podemos atrapalhar a vida acadêmica dos nossos alunos.
    – Então vocês acharam mais sensato retomar as aulas com um assassino a solta?
    – Não tivemos outra escolha, as aulas voltam amanhã e teremos escolta policial por todo o campus.
    – Sabemos que a vítima foi uma aluna, mas quem garante que os ataques focam somente na faculdade? Que certeza temos disso?
    – Isso é tudo, obrigado pela oportunidade.
    – Pelo jeito é isso pessoal, nossa transmissão fica por aqui, mas não saiam daí, iremos discutir a fundo essas declarações com o chefe de departamento da polícia e falaremos também sobre o desenho encontrado nos pertences de Jane, traremos um psiquiatra que vai nos contar como funciona a mente de alguém com transtorno e como alguém assim pode posteriormente se tornar um assassino. Até.

    – Pulso firme desse velho hem Amber! – Disse Lucy.
    – Só o vi uma vez na faculdade, nem lembrava da cara amedrontadora dele.
    – Acabou o recreio, volte para os papeis.
    – Cuida da sua vida Lucy!
    – Certo certo.

    Lucy estava trabalhando como fez pouquíssimas vezes desde que entrou naquele escritório, Amber impressionada com a visão não quis nem mesmo falar com a colega pois tinha medo de tirar sua concentração, se levantou e foi pegar um café, enquanto  bebia, pela janela contemplava aquele céu cinza grafite, aquela paleta de cores melancólica que só se via no centro da cidade entre os vários prédios, chegava a ser poético, todos almejavam estar lá, na cidade grande, um pedacinho do céu, porém nem todos que viviam ali enxergava desta maneira. Sentou-se novamente a mesa para trabalhar, quando Lucy chamou sua atenção para uma correspondência que estava em seu nome. A previsão era de muito frio no paraíso aquela noite.

    – Amber, não sei como nem porque, mas alguém enviou uma carta para você, e adivinha só, pra mim nada!
    – Quem é o remetente?
    – Não tem remetente.
    – Não acredito, porque isso de novo!?
    – Como assim? Já recebeu outra carta sem remetente?
    – Já!
    – E que problema tem isso?
    – Nenhum! Me passa ela por favor!
    – Pega! Se for de algum namoradinho eu me mato Amber, hahaha.
    – Espero que seja conta.
    – Prefere contas? É doida mesmo. Hahahaha

    Amber pegou a carta e foi ao banheiro, não podia correr o risco de que alguém visse, ela já sabia quem era o remetente.

Como vai minha doce Amber? Sei que está bem.
Sabia que meu aniversário é dia 11? E parece que suas aulas voltam amanhã dia 10, não faz mal, eu gostaria de presenteá-la amanhã, mesmo sendo o meu aniversário é você quem ganha presente, muito injusto. Meu próximo trabalho está ganhando forma em minha mente, desta vez uma pessoa que você conhece, logo colocarei a mão na massa, saiba que minhas obras são inspiradas em algo e as vezes essas inspirações surgem do nada, como foi com a Jane Scarllett, coincidência, escolhida ao acaso, em minhas observações a você eu acabei achando ela, uma pessoa muito linda e atraente, não tanto quanto você é claro, mesmo assim ela tinha uma presença que não poderia ser ignorada. Um belo dia esbarrei com ela na rua, os livros que ela carregava nas mãos acabaram caindo, fui ajudar a recolher e adivinha só, ela estava lendo sobre o budismo, achei fascinante, naquele momento descobri o tipo de obra que deveria fazer.
Não sou budista, por isso achei desnecessário me chamarem daquilo, contudo não pretendo desapontar aqueles que apreciam minha arte, seja ela budista ou não.
Acho melhor não revelar quantos anos estou fazendo, você ficaria surpresa.
Até breve Amber, logo entrarei em contato.

    Mais uma vez o cerco se fechava, seria possível evitar que isso acontecesse? Quem é essa pessoa que Amber conhece? Amber não queria receber outra notícia de uma pessoa morta, decidiu agir.

Na Ilha do Purgatório (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora