Cap 3: O Espírito.

20 1 0
                                    

Entrei em casa deixando minha bacia de flores no chão. Fechei a porta me dirigindo para um espelho que continha no quarto. Minha casa não era tão grande, apenas dois cômodos grandes onde um deles era a cozinha. Ficando a frente ao espelho, peguei uma faca afiada que usava para cortar as flores e sem nem pensar duas vezes cortei todo o meu cabelo o mais curto possível.
Com alguns mantimentos de cor preta, coloquei em uma tigela d'agua que foi retirado do poço da cidade e os aqueci até formar uma cor.
Todo o processo foi um sucesso, mas agora era hora de ver se isto funcionaria. Peguei o liquido passando em meus cabelos, tingindo assim de preto.
Os cabelos caidos no chão foram guardados dentro de um pequeno baú, entristecidamente, não queria ter feito isso, mas era o mais fácil de se fazer, além disso, prezo pela minha vida e não quero ser queimada como bruxa.

Pela madrugada, deitada. A insonia me pegava. Os gritos daquelas garotas não me deixava tranquila. E as energias, parecia estranho, era como elas se conectassem a mim. Foi quando um vulto passou pela janela. Não me lembrava de te-la aberto em momento algum.
Vesti um casaco, afinal, a noite estava fria. Andei para a janela e olhei em volta. Nada além de silêncio e guardas passando pelas redondezas.

- Pss!

Ouvi da floresta. Alguém aparentemente estava me chamando, mas... uma silhueta conhecida estava parada em meio as sombras.
A silhueta cada vez criou mais forma mostrando finalmente de onde viera o barulho. Me assustei ao ver que era aquela primeira mulher extremamente bela da fogueira totalmente nua. Ela sorria olhando para mim e com um gesto me chamava para segui-la.

- Venha, Adelaide. - um eco soava com sua voz que tranquilizava simplesmente por uma palavra.

Não estava sabendo se eu poderia ir. E se alguém me visse? Estava totalmente duvidosa. Entretanto, dentre todas as lembranças da minha infância. Eu poderia ao menos descobrir quem eu realmente sou, não é mesmo? Bom, receosa pulei minha janela, qualquer ato com cautela para não chamar a atenção pelos passos.
Eu poderia estar sendo ingênua por fazer algo que não conheço, seguir alguém que não conheço e, bom. Talvez esteja pensando demais.

Quando já percebi, estava entre as árvores, não via aquela mulher em lugar nenhum. Ao olhar as redondezas, nenhum sinal de luzes pela cidade, percebi que andei tanto que acabei me perdendo. Pois é, eu deveria ter feito um caminho para quando voltasse eu não me perdesse. Entretanto continuei caminhando, já estava cansada, não deveria ter seguido aquela mulher. Como fui burra! Tudo o que poderia fazer era voltar pra casa, mas pelo o que percebia era que repetidamente estava andando em círculos. E a noite não era a melhor hora de se vagar pela floresta.
Avistei uma rocha sentando em cima, totalmente com medo de que um urso ou animais perigosos aparecesse para me atacar. De dia a floresta não parecia assim, tipo, tão assombrosa. Deve ser por isso que as pessoas são proibidas a sair da cidade.
Foi quando ouvi um barulho que me assustou em seguida. Um galho tinha caído de uma árvore, menos mal, espero. Mas isso não parou por aí. Ouvi passos em meio as folhas secas que eram esmagadas no chão. Sem pensar duas vezes me virei para as rochas pegando a pedra mais pesada e "pegável" para me defender. Porém os passos cada vez estavam mais perto, e perto, não conseguindo enxergar de onde vinha o barulho.

- Quem está aí?! - Gritei.

Nenhuma resposta. Olhando ao chão, nada. Quando de repente os passos estavam cada vez mais rápido. Consegui enxerga-los, praticamente uma criatura estava vindo até mim, mas era invisível, não ao ponto de não ver as pegadas. Sentindo uma mão em meus ombros por trás, gritei jogando a pedra automaticamente.

- Haha! Eu sabia que faria isso!

Vi que era aquela moça que havia me chamado antes. Toda sorridente. Ela não parecia tão ruim ao ponto de fazer o mal.

- Você me matou de susto! E que bulhufas você está viva?! Quem é você?! - gritei raivosa.

- Calma, querida, uma pergunta de cada vez! - Ela levantava as mãos a altura dos ombros mantendo o sorriso. - Sim, eu ainda estou morta, mas somente você consegue me ver. Meu nome é Salem, uma das bruxas que foram queimadas, mas não se assuste! Não lhe farei mal.

- Então não podia ter aparecido antes? E não aquele teatro gigante de passear como um fantasma?

- Passear como um fantasma? - Sua expressão era confusa.

- Sim! Aquele passos que rondavam que estavam indo em minha direção. Você sabe!

Seu tom ficou sério ao terminar de descrever o que aconteceu.

- aquilo não era eu.

- Então o que era? - Bufava.

- Não é preciso saber agora, me siga. E não some dessa vez! - Ela puxava a minha mão.

- Eu não sumi! Você desapareceu! E me conta o que era! - Corria desengonçada com seus puxões.

Ela correu me deixando até um ponto, sem ao menos falar uma palavra. Depois disso, ela simplesmente sorriu e desapareceu acenando.

- Espere! - Segui tentando alcança-la. Mas não deu tempo.

Vozes femininas formavam um coral de canções com palavras estranhas. Por coincidência eu sabia exatamente o que elas descreviam. Aquilo me hipnotizava e trazia um certo conforto que penetrava minha alma, uma iluminação interior e suave que transcedia com força.
Prossegui com as vozes me deparando com mulheres dançando em volta de uma fogueira formando uma roda cujo todas estavam de mãos dadas. Me escondi atrás da árvore acompanhando tudo o que elas faziam.

Outra mulher aparecia, totalmente camuflada com uma grande capa preta surgia de meio a uma grande cabana. As mulheres em volta da fogueira continuavam a cantar, entretanto, com a mulher estendendo as mãos para as chamas intensas:

- Oh grande mãe, aqui estamos outra vez celebrando sua grandiosa força! A força que nos dá poder para utilizar e manter vivo histórias de nossos ancestrais! Aqui estamos nesta grande guerra entre a nossa defesa e os violentos cavaleiros do Deus cristão, com sua existência e sua defesa, nunca iremos render aos tais atos covarde contra nosso povo. Oh mãe de todas as mulheres! Duas de nós se foram por causa de nossos segmentos, injustamente não fazendo mal algum, assim como eles mesmos estão destruindo seu proprio povo!

A mulher de vestes negras retirava o capuz que cobria seu rosto, assim mostrando claramente sua face. Continuando seu discurso espiritual:

- Hoje é dia de alegria, pois trouxe-nos uma mulher, a melhor que poderia criar e, por fim, como tu havia nos falado.

A mulher olhava exatamente em minha direção, não so ela, mas todas que estavam ali. Pelo que contei eram onze mulheres, aquilo me deixou assustada demais para me aproximar, me deixando em transe.

- Adelaide, venha. - Disse a de manto negro.

Seus olhos eram azuis reluzentes, branca como a neve e cabelos castanhos claros. Uma combinação de cores nunca vista antes por uma pessoa.
Minha mente estava confusa, algo me dizia que aquilo poderia me fazer cair em uma armadilha. Olhei para o céu, a luz da lua transcedia em um certo ponto, pronto para fazer com que a luz da manhã apareça. Recusei o chamado me direcionando à volta de casa. Sobretudo, aquela floresta cujo era tão extensa, transformou-se em apenas um pequeno trilho, assim não parecendo que rondei tempos e tempos por meio das árvores. Contudo, achei minha casa entrando por onde tinha saído antes, ou seja, a janela.

Tirei meu casaco colocando em cima do baú, me deitando novamente. A noite fora muito extensa, onde não pude ter um descanso que deveria.

As VirgensOnde histórias criam vida. Descubra agora