Capítulo V: Caipora

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(capítulo: 2419 palavras)

Afonso Moura

- Porra Emílio, quer me matar do coração? - Emílio as vezes não era ele, como se tivesse duas personalidades e isso o irritava. Depois se virou para Urimar e completou: - Não esqueci de Oderban, hoje à noite vamos te procurar.

O outro dia foi normal, passaram a tarde fazendo a poção base sobre o olhar da professora Sara, finalmente todos conseguiram. Mas estava na noite o interesse do rapaz, pois era a chance de descobrir o paradeiro de Obedan. A luz prateada da lua sagrava ainda mais as imensas muralhas externas de Castelobruxo, as trepadeiras e bromélias escuras, o coaxar de centenas de sapos, as sombras que, muitas vezes, pareciam conterem olhos. Afonso, Emílio e Mariana acabava de sair pelo Portão da Onça, a praia abarrotada de imensos jacareaçus, que guardavam a casa Rio de Janeiro, onde viram a palhoça iluminada de Urimar que devia ter a resposta sobre o que acontecia na escola.

Os jacarés estavam quietos e passar pela praia foi fácil com o chocalho que afastava os imensos lagartos. A cabana era simples, um cômodo, pilão, banco de tronco, caldeirão, telhado de folhas de palmeiras. Um estranho jacaré com patas parecidas com cachorro dormia ao lado do fogo. Ele ofereceu café ou água da bica e tinha tapioca para todos. Afonso percebeu que Emílio o encarava com muita intensidade.

- Nos diga pelo menos se Oderban está vivo, Urimar. Ele é um amigo muito importante pra nós, não vamos parar até encontrar ele. – Perguntou Emílio.

- A gente faz o resto, mas precisamos saber se ele está vivo. Temos de saber os riscos desse lugar ou se ele apenas desistiu.

- Ele nunca desistiria. Era o mais empolgado! – Completou Emílio.

Urimar respirou fundo como se reunisse coragem suficiente e começou a falar.

- Essas ruínas são mais antigas que a chegada dos caraíbas, mais antigas que a maioria dos antigos reinos nativos, alguns dizem que foi construído pelos primeiros bruxos viventes, que chegaram à floresta vindo do norte. O tempo aqui é difuso, mistura-se como rios diferentes, nem sempre vão para frente. Nos salões daqui habitam antigos bruxos de outros tempos, antigos deuses esquecidos ou espíritos bons e maléficos. A pouco tempo a professora Inês encontrou na linguagem antiga um pedido de sacrifício. Existe vários desses pedidos, mas, dessa vez, alguns alunos sumiram e eu acho que isso pode ter algum envolvimento.

- Como assim sumiram alguns alunos? – Perguntou Emílio.

- Se soubesse eu não estaria aflito. O negócio é que a maioria dos professores estão quietos ou por não se importar ou por medo, não sei. Vasculhei por todo lado com Uberaba e nada. Mas, se vocês tiverem algo dele, talvez possa me ajudar a achar alguma pista.

- Pedidos de sacrifício, deuses antigos, tempos mudados! - Afonso engoliu em seco se perguntando quando poderia fazer intercâmbio em Hogwarts. Olhou para Mariana e dela para Emílio: - Acho que os professores só estão acostumados, mas, porra, e os pais dele! Eles são influentes pra caralho. Vai dar merda!

- Pode não ser nada. Ele pode ter ido embora sem alarde pela influência dos pais mesmo. Só sei que eu não sei. E não gosto de não saber nada sobre meus meninos. – Completou Urimar: - Então me ajudem. Tragam qualquer coisa que poderia ter sido dele ou ter o cheiro dele. Vão no alojamento e me tragam algo até amanhã depois da aula, mas não fale pra ninguém.

Depois disso voltaram para o dormitório, as coisas estavam um pouco assustadoras.

- Não sei, gente. Isso tá bem esquisito. Esse Urimar é confiável? - Falou Mariana.

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