Estou em casa, esperando que à qualquer momento seja convocada para a casa estranha ou sei lá, meus pais saíram e eu estou deitada no sofá junto com Ezra. Não sou muito fã de filmes, mas estou apenas matando tempo até que a reunião chegue.
Meu namorado está fazendo carinho no meu cabelo, enquanto estou batucando com a ponta dos dedos em seu joelho, começo à roer as unhas da mão direita e ele afaga meus ombros.
— Por que está tão tensa? — Ezra volta a fazer carinho no meu cabelo e eu me aconchego em seus braços.
— Sabe, não sei você, mas não é todo dia que eu tenho que ficar presa numa sala cheia de pessoas que eu não conheço. Mesmo que isso aconteça, elas geralmente não são super-poderosas ou sei lá.
— Verdade. Ainda tem aquele cara que você adora xingar.
— Você não está ajudando... — disse olhando no fundos dos olhos dele, e o mesmo deu um sorriso de lado.
— Perdão. Vou te ajudar a relaxar... — ele colocou a na minha nuca e aproximou o rosto, ainda com um pequeno sorriso nos lábios.
No segundo seguinte meu corpo se chocou contra uma superfície lisa e gelada. Olhei ao redor e reconheci o local de imediato, sete pessoas formavam uma fila ao meu lado e quatro à minha frente, entre elas estava a praga... Eros.
— Só pode estar de sacanagem! Você nunca espera!? — falei enquanto me levantava e ele possuía um grande sorriso no rosto.
— Perdão, interrompi alguma coisa? — ele levou a mão ao peito e sua voz era puro deboche.
— Sabe, você pode até ser imortal, mas eu adoraria tentar provar o contrário. — andei em direção as poltronas e sentei de pernas cruzadas.
Todos me olharam com as sobrancelhas arqueadas e eu não entendi o estava acontecendo. Levantei uma sobrancelha e balancei a cabeça, esperando que alguém me explicasse o q eu havia feito de tão chocante.
— Eu podia sentar esse tempo todo? — um garoto de cabelo branco andou na minha direção, parecendo indignado, e sentou na cadeira ao meu lado. — Demetrio. — ele estendeu a mão na minha direção e eu o cumprimentei.
— Alaska. — ele sorriu e piscou na minha direção, rolei os olhos e uma mulher de longas tranças andou em nossa direção.
— Será que dá para vocês dois se levantarem!? — ela tinha o senho franzido, as mãos na cintura e parecia incrédula — Bando de mal educados... — ela andou em direção aos outros novamente e nós fizemos o que ela pediu.
Os quatro celestiais se apresentaram e disseram por quais habilidades eram responsáveis. Akira é responsável por luz e trevas, Eros por terra e ar, Kalama por fogo e gelo e Nimue por trovão e água. Segundo à explicação deles, cada celestial é como um mentor para os governantes correspondentes às suas habilidades.
Considerando que eu fui treinada por Eros, aquilo não parecia fazer sentido e eu não pareço ser a única à chegar à essa conclusão, mais dois garotos pareciam confusos e assim que eles terminaram, resolvi ser a primeira à perguntar.
— Por que fui obrigada à aturar essa coisa? — apontei na direção de Eros e todos me olharam do mesmo jeito de quando sentei na poltrona. Troquei o peso de perna e tentei não me concentrar nos olhares.
— Você deveria ter mais respeito... — Akira possuía a voz baixa e neutra, sustentando um leve tom de ameaça. Nimue me abraçou pelo pescoço e sorriu.
— Eu gosto dela. — ela deu de ombros e eu sorri de lado. — Eros perdeu uma aposta e agora é responsável por você, Demetrio e Brandon.
— Aposta? — ok, eu estava muito confusa e levemente chocada. Esses caras são como deuses e eles passam o tempo fazendo apostas? — Vocês fazem apostas?
— A imortalidade poder ser um saco as vezes. — elas deu de ombros e Akira nos repreendeu por nosso papo, mas ignoramos.
— O que apostaram.
— Tem um planeta com uma espécie muito diferente da humana, a única semelhança é que eles também são racionais. Eros apostou que eles seriam tão ignorantes quanto sua espécie e eu disse que era impossível... — ergui as sobrancelhas e ela deu um sorriso amarelo — Perdão, mas é a verdade.
— Então... já posso voltar para casa? — Demetrio parecia entediado e eu não julgo.
— Vocês tem uma tarefa antes disso. — Kalama tomou o centro da sala e cruzou os braços, enquanto falava. — Os oito passarão quatro semanas na Terra. — eu e Demetrio tentamos nos pronunciar, mas ela nos calou com o olhar.
"Sim, a Terra acabou, mas caso não saibam, podemos dominar o espaço e tempo. Então vocês poderão vivenciar de fato como era estar no planeta de origem de sua espécie."
— Perdão, mas qual seria o objetivo disso? — uma garota ruiva se pronunciou pela primeira vez.
— No final da experiência, você terá a resposta para essa pergunta. A primeira semana vocês irão passar na Era cenozóica, que é quando surgem os primeiros Homo Sapiens, a segunda semana será na Idade média, a terceira na idade contemporânea e a quarta será próxima ao fim da Terra. — Kalama terminou de falar e Nimue se pronunciou, ao meu lado.
— Seus poderes continuaram com vocês, não vamos facilitar sua comunicação e vocês serão responsáveis por encontrar roupas adequadas para cada época. Tentem não chamar muita atenção e tentem não demonstrar suas habilidades, pois isso pode causar num grande problema na linha temporal.
Todos pareciam prestar bastante atenção, principalmente um garoto alto, de cabelos castanhos e com um olhar que parecia conseguir desvendar cada segredo de sua alma. Voltei minha atenção para Nimue e ela sorriu, parecendo bastante animada com o que estava por vir.
Todos os governantes se cumprimentaram e eu percebi que demoraria uma eternidade para gravar no nome de todos. Até agora consegui gravar o nome de Astrid e Demetrio, mas ainda faltava uma pessoa.
— Olá Alaska, sou o Brandon. — o garoto sorriu mostrando as covinhas e eu o cumprimentei.
— Brandon? Nome exótico...
— Minha mãe é historiadora, ela disse que foi bastante comum na Terra por um tempo. — ele deu de ombros e eu balancei a cabeça em concordância. Akira pigarreou no centro da sala e todos fizeram um semi círculo à sua frente.
— Agora que todos se conhecem parcialmente, já podemos manda-los para a Terra. — meu corpo gelou de imediato e pude sentir que Brandon também não estava nada confortável. — Sejam responsáveis e não esqueçam das regras, principalmente de linha temporal. Boa sorte.
Os quatro celestiais deram as mãos e Eros sorriu na minha direção, era um sorriso maligno, dava para ver no olhar dele o quanto gostava daquilo e eu não faço ideia do que pode acontecer.
Tudo que estava à minha volta sumiu, era como se estivesse completamente cega, memórias de toda minha vida inundaram minha cabeça e eu sei que nos próximos segundos estarei na Terra. Senti minhas roupas queimarem e tentei fazer o máximo para recuperá-las, mas foi uma tentativa inútil.
Só me resta esperar...
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RURSUS
Science FictionPara manter Rursus (um planeta que surgiu milhões de anos após o fim da Terra) em harmonia, à cada trinta anos, oito jovens de 18 anos recebem o dever de manter o planeta em equilíbrio, até que os próximos indivíduos sejam escolhidos. Esses jovens...