➳ um.

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L U K E

O trânsito que se espalhava pelas ruas frias de Nova York pareciam piorar a dramatização da situação toda que acontecia em minha cabeça, assim como a enxaqueca que intensificava a cada buzina.

—Falta muito?—Ouso perguntar ao homem que dirigia, com traços duros e tão irritados como eu, tudo que ele faz é soltar um mero "Meh" e colocar seus fones de ouvidos para abafar.—Merda.

—Cara, veja pelo lado positivo.—Ashton inicia ao meu lado, finalmente deixando seu café de lado e se endireitando no banco desconfortável de couro.—Você mora perto de uma das melhores boates da cidade.

—Do que adianta morar perto se eu mal consigo andar nessa rua, Ashton?—Questiono apoiando minha testa no vidro frio da janela, murmurando como um adolescente entediado.

—Você tem pernas, olha...não tem trânsito na calçada.—Ashton mantém a positividade; e eu juro que poderia o enforcar por isso.—Vai, são 5 minutos.

—Tudo bem, senhor?—O chamo ao retirar uma quantia da carteira, deixando a mais pelo tamanho problema que o homem enfrentaria para chegar na rua. O bigodudo me encara com tanto desprezo que engulo em seco.—Vamos andando.

Prefiro ocultar todos os xingamentos e simplesmente me misturar na calçada, com Ashton ao meu lado. Minhas mãos são aquecidas pelo bolso do casaco que eu optara em usar, enquanto Ashton usa as dele para acenar a quem nos conhecesse.

De longe avisto a estrutura do prédio, com grande influência Georgiana, os tijolos pareciam acrescentar perfeitamente na assimetria do projeto. Mesmo que antigo, possuía um chame incompreendido que havia chamado minha atenção.

—É sério isso?—Ashton pergunta risonho, batendo suas mãos pela parede lateral que estávamos do prédio.—Minha mãe sempre diz que nunca é bom ficar na curva da rua, esse prédio parece ter mais de 150 mil anos. Luke, você é doido?

—Se quiser já pode ir embora.—Sou rápido em minha resposta assim que abro a porta principal com cuidado, já podendo ver o saguão do prédio. Aponto para dentro esperando que Ashton viesse.—Sim, não?

—Eu odeio você.—Ele resmunga mas entra do mesmo jeito, olhando para cada parte do saguão que estávamos. Pude ver um par de sofás no canto, próximo a uma estrutura de lareira, provavelmente inativa.

Uma vela de abóbora iluminava o ambiente e espalhava um perfume na área, cortando qualquer ideia negativa que Ashton poderia ter formado.

—Você deve ser o Luke Hemmings.—A voz feminina me desperta, procurando pela imagem mais madura que encontro do outro lado da sala. Sarah Myers, a corretora de imóveis, parecia mais ansiosa.

—Sarah, é ótimo te conhecer finalmente.—Sorrio ao juntar nossas mãos em um cumprimento breve, assim como Ashton faz.—Você não estava quando busquei as chaves.

—Eu ando muito ocupada, sabe como essas épocas festivas são.—A loira sorri e indica para que a seguíssemos, passando pelo senhor que parece cuidar da segurança do prédio.—É um lugar tranquilo, não tem reclamações de barulhos ou incidentes. E tem um estilo original como me pediu.

—Estou vendo.—Irwin completa assim que o elevador se abre, tremendo ligeiramente ao chegar ao chão. Eu rio e acompanho a loira, que nem parece se preocupar.

—Ele está no mercado a muitos anos, mas eu garanto que não há problemas como infiltrações, invasores ou...

—O que quer dizer com invasores? —Meu amigo torna a perguntar, parecendo mais preocupado do que eu, afinal. Eu sabia que no fundo, Irwin não queria que eu fosse embora de sua casa.

—Ratos, senhor Irwin. —Ela cora ao fazer contato visual com Ash, então preciso contar até três para não explodir em gargalhadas.

Quando chegamos ao último andar, consigo ter a imagem perfeita do meu apartamento. Logo à entrada, há uma claraboia que direciona a uma espécie de terraço, com plantas e uma mesa gasta ao fundo. Em seguida vejo a sala, ainda com poucas caixas que eu havia pedido para trazer, e móveis embrulhados.

Vejo as escadas que levavam ao quarto e banheiros, e a cozinha do lado oposto. Ao me aproximar da janela sou surpreendido pela vista perfeita de Nova York, prédios, luzes e carros. Todos bem mais atrativos de cima.

—Senhor Hemmings, tudo certo?—Ouço Sarah ofegante atrás de mim, parecendo arrumar a saia e o seu batom. Olho para Ashton de relance e reviro os olhos, sem conseguir acreditar.—Eu preciso ir.

—Está tudo perfeito, Sarah. Obrigada por toda atenção.—Peso ao pronunciar, vendo as bochechas da mulher praticamente saltarem para um tom avermelhado.—Eu só iria pedir a chave reserva.

—Mas eu lhe entreguei a chave reserva.—Ambos parecemos confusos enquanto ela procura em sua bolsa e eu vasculho meus bolsos.—No dia que fechamos o contrato, eu entreguei as duas.

—Droga, eu devo ter perdido.—Murmuro insatisfeito quando tudo que acho no bolso é uma paleta e papéis de bala.—De qualquer forma, eu vou fazer outra. Obrigado.

—Foi ótimo trabalhar com vocês.—Educadamente, ela se retira e Ashton corre animadamente para a cozinha, provavelmente em busca de comida ou cerveja. Meus olhos azuis deslizam lentamente até a janela novamente, procurando qualquer evidência ou dica do que eu deveria fazer agora.

Até eu ver algo.

Meu coração dispara quando vejo um reflexo na janela, um pouco atrás de mim. Um corpo feminino me encara com seriedade, quase engolindo minha alma. Não consigo gritar, não consigo me mexer.

Eu apenas aperto bem meus olhos, assim como minhas mãos na beira de minha blusa social gasta por tanto usar. Eu sentia a respiração alterada em meu ombro, sentia um perfume forte de Jasmin no ar que quase me intoxicava.

—Bro?—A mão firme toca meu ombro e um suspiro aliviado me escapa, mesmo que eu ainda tremesse abaixo de tudo aquilo.—Tá tudo bem?

—Ashton, você viu algo?—Insisto, sem nem ao menos lembrar da sua pergunta. Eu poderia estar louco, talvez alucinando pelo excesso do café e a falta de sono.

—A sua cozinha? Tem um microondas legal lá! —Ele sorri, expondo as suas famosas covinhas. Eu estava louco.

Deslizo minhas grandes mãos por meu rosto, pesando em meus olhos. Eu não sei se voltaria a ver aquilo, ou se realmente havia visto. Mas tudo que faço é abrir uma cerveja e levar até meus lábios antes de enrolar as mãos em uma diversos tecidos que me ajudariam a cobrir o microondas que Ashton havia dito, espelhos e qualquer coisa com reflexo na casa.

Oi!
Bom, pelo visto vocês ficaram animadxs com a ideia de reescrever e então eu fiquei ainda mais. Eu sempre tive um carinho enorme por essa história, e confesso que tive muitas ideias que acabei cortando para que fosse mais breve. Passou um bom tempo e sinto que mudei muito a minha forma de escrever, então porque não recomeçar?

Espero que de qualquer forma, eu agrade a todos vocês. ❤️

Invisible; lrh (Reescrevendo)Onde histórias criam vida. Descubra agora