Ainda estou sentada nos degraus de Peter, pensando seriamente em dormir em sua varanda esta noite. Claro, talvez eu sofra uma hipotermia porque agora a neve veio com mais fúria e eu não tenho sequer um cobertor fino comigo. Eu poderia tentar arrombar a sua casa. Quebrar uma das janelas e me esconder no interior quente e protegido. Uma olhada rápida nas janelas me prova que essa não seria a tarefa mais difícil, mas eu preservo a minha liberdade e não quero passar os próximos dias na prisão.
Nos últimos minutos eu liguei para a companhia aérea e tentei adiantar a minha passagem de volta ao Texas. Nada feito. Ao que parece isso não faz parte da política da empresa. Então tentei comprar uma passagem nova para o próximo dia e a atendente me informou que todos os voos estão lotados até dia vinte e sete. Hoje é dia vinte e um e a minha passagem está reservada para o dia vinte oito. Ou seja: a menos que eu alugue um carro ou consiga uma alma bondosa que me leve de volta ao Texas; estou presa em Denver até a próxima semana.
Sete dias... sete dias... sete dias!
O número se repete em minha cabeça de forma exaustiva, aumentando o pânico dentro de mim. Não há quartos acessíveis e disponíveis. Só um que eu precisarei vender um membro para pagar por ele e bem, ainda não estou disposta a fazer isso.
Eu estou tão encrencada.
São quase quatro da tarde e o dia está praticamente escuro, anunciando a noite que não tardará a chegar. Costuma ser assim no inverno. Eu estava exultante em conhecer Denver por saber do seu histórico de invernos rigorosos e muita neve.
Me imaginei conhecendo os pontos turísticos ao lado de Peter. Ou apenas saboreando um chocolate quente sob as cobertas, assistindo um filme em sua sala. Confesso que a segunda perspectiva me atraia mais que a primeira. Eu fiz tantos planos. Como sou burra, burra... Juro, eu me odeio fervorosamente neste instante e acho que merece todos os castigos que estou recebendo. Só não quero morrer congelada enquanto durmo na rua, à mercê de todos os perigosos que passam por minha imaginação fértil.
Só há uma saída: Calleb Callaham... filho de Lúcifer, ou vulgo, o melhor amigo de infância do meu irmão mais velho. Calleb mora em Denver, se a minha memória estiver boa e ela está, eu sei. Ele se mudou para a cidade há três anos com o intuito de terminar a sua residência em cardiologia no Saint Joseph. Como eu sei tanto sobre Calleb Callaham? Não me pergunte, essa é uma história para outro dia, outra hora.
Sem titubeios eu tiro o meu celular do bolso e disco o número do meu irmão Brian. Por sorte ele não me faz esperar demais.
— Oi, pequena Bree. — Sua voz alegre soa em meus ouvidos. — A que devo a honra de uma ligação sua?
Mordo os lábios, pensando em como trazer o assunto à tona. Sei que não posso ser direta demais, então floreio um pouco.
— Estou com saudades — gracejo, usando a dose certa de doçura em minha voz. — Como vão as coisas na Flórida?
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Deixe a Neve lá Fora (Degustação)
RomanceMinha mãe costuma me dizer que o nosso coração é sempre o melhor conselheiro. Bem, ela está parcialmente errada, porque o coração pode nos induzir às piores tolices também. Foi assim, seguindo os conselhos do meu tolo coração, que eu acabei a milhar...