Faz exatos dez anos que não vejo Calleb Callaham pessoalmente. Ele se mudou da nossa rua no instante em que se formou no ensino médio e eu nunca mais coloquei os meus olhos nele. Mas a lembrança do garoto da casa ao lado que ele sempre foi para mim, se manteve viva em meus pensamentos por todos esses anos.
São seis anos de diferença entre nós, então eu não passava de uma pré-adolescente franzina quando ele foi embora e eu o detestava. Porque ele era lindo demais e arrogante ao extremo, achava que tinha o mundo aos seus pés, mas principalmente porque cada vez que me olhava causava borboletas em meu estômago. As primeiras que senti em minha vida. Calleb Callaham foi o meu primeiro amor e ele me tratava como o patinho feio que não merecia um segundo olhar seu. E quando ele me olhava mais diretamente era apenas para me magoar.
"Sua irmã não para de me olhar de um jeito estranho. Por favor, a tranque no quarto a próxima vez que eu vier aqui".
Eu o ouvi sussurrar a Brian uma vez enquanto estávamos assistindo um filme na sala.
"Será que você é adotada?" Ele me perguntou certa vez, puxando uma das tranças em meu cabelo. " Porque você é tão estranha, parece um ratinho molhado... sua mãe é tão linda e Brian, embora seja um cara, não é tão feio a ponto de assustar as pessoas".
"Quantos anos você tem, criatura?" Lembro-me de tê-lo ouvido inquerir de forma áspera, quando tropecei em meus cadarços mal amarrados e dei de cara com o seu peito. "Você precisa prestar atenção por onde anda, queijo Brie".
Ele gostava de me chamar assim, e nunca soube se era porque o nome soava exatamente como o meu apelido ou algo em mim cheirava como queijo àquela época. A verdade cruel era que eu mergulhava em minha colônia favorita toda vez que sabia que iria me encontrar com Calleb. É óbvio, ele nunca notou o cheiro ou fez algum comentário agradável a respeito. Não entendo o porquê dessas memórias virem à tona com tanta força e clareza neste instante. Justamente enquanto me levanto dos degraus e começo a andar até o carro estacionado no meio-fio.
Vergonha e arrependimento se arrastam sobre mim, assim como arrasto minha mala logo atrás, feito uma criança. A cada passo sob a neve fina, encho-me da mais cruel culpa também. Eu escolheria estar em qualquer outra situação, além desta. Teria passado os próximos dias morando no aeroporto como Tom Hanks fez em O Terminal. Quão difícil isso realmente seria?No filme me pareceu muito fácil. Enfim, que conste para a posteridade que eu não gostaria de estar prestes a entrar no carro de Calleb Callaham. Não mesmo. De jeito algum. Mas entre dormir no covil de Lúcifer e morrer congelada, ou algo pior; escolho a primeira opção.
Sem contar que posso me trancar no quarto e só olhar para Calleb no momento em que precisar deixar Denver finalmente. Deus... eu espero que ele tenha um quarto de hóspede em seu apartamento, caso contrário, o plano de me manter escondida irá por água abaixo. Evitá-lo não será nada fácil se eu precisar dormir em seu sofá todas as noites.
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Deixe a Neve lá Fora (Degustação)
RomanceMinha mãe costuma me dizer que o nosso coração é sempre o melhor conselheiro. Bem, ela está parcialmente errada, porque o coração pode nos induzir às piores tolices também. Foi assim, seguindo os conselhos do meu tolo coração, que eu acabei a milhar...